Achei que um Lamborghini Diablo seria meu caminho para o céu
Eu, morrendo de medo, ou com "paura", como dizem os italianos, estava calado e segurando o cinto de segurança com as minhas mãos
Eu, morrendo de medo, ou com "paura", como dizem os italianos, estava calado e segurando o cinto de segurança com as minhas mãos
Esse “causo” verídico aconteceu na primeira metade dos anos 90. Os protagonistas foram Douglas Mendonça, este repórter contador de causos, Valentino Balboni, o primeiro e melhor piloto de testes da Lamborghini, e um maravilhoso e indescritível Lamborghini Diablo de tração integral, equipado com um poderoso motor de 6 litros e 12 cilindros, que produzia valentes 512 cv de potência! Com exceção deste humilde repórter, os outros dois são grandes e poderosos protagonistas.
No início dos anos 90 eu estava na Itália para avaliação de algum novo modelo, do qual não me recordo. Resolvi aproveitar a minha estada italiana para fazer o tour dos sonhos de qualquer apaixonado por carros e velocidade: conhecer, em uma só tacada, as fábricas da Ferrari, Lamborghini, Bugatti (que, naquela época, ainda estava sediada no norte da Itália) e Maserati.
Para isso, acrescentei cerca de 10 dias à minha viagem e me apresentei a todas essas marcas como um jornalista brasileiro que levaria aos leitores daqui as informações preciosas de como eram feitas aquelas máquinas de sonho. Na minha visita à Lamborghini, na região de Sant’agata Bolognese, nas cercanias de Bolonha, fui conhecer a pequena mas bem estruturada fábrica dos famosos carros esporte italianos.
Na época, para que se tenha uma ideia, a marca fabricava apenas 1 carro por dia, para pouquíssimos, sortudos e ricaços do planeta. No final de um dia de visitas a toda a linha de produção de chassi, motor e transmissão, era chegada a hora de uma volta com a poderosa máquina.
O assessor de imprensa me apresentou a Valentino Balboni, piloto de testes da marca italiana desde a sua fundação, em 1967, quando iniciou seus trabalhos como aprendiz de mecânico contratado pelo próprio Ferruccio Lamborghini. Valentino encarregou-se do passeio com a poderosa Diablo que ele estava testando. E lá fui eu sentir na pele o poderoso impulso dos 512 cv produzidos pelo V12 6.0 da Diablo. Um espanto para quem nunca havia andado com nada que tivesse mais de 200 cv.
Com uma calma peculiar, Valentino – fã de carteirinha de Ayrton Senna, cujo falecimento no acidente de Ímola, também na Itália, ainda era muito recente – saiu comigo pelas estreitas e sinuosas estradas locais italianas. Dirigindo com muita tranquilidade e falando calmamente sobre seu sonho de vir ao Brasil para colocar flores no túmulo do ídolo, Valentino começou a fazer uso dos mais 500 cv da máquina. Comecei a ficar assustado com a rapidez com que ela acelerava e com sua capacidade de fazer curvas.
Valentino, mais clamo do que nunca, parou de falar do Ayrton e começou a me descrever a excelência da dinâmica da Diablo, graças à tração integral. Eu, morrendo de medo, ou com “paura”, como dizem os italianos, estava calado e segurando o cinto de segurança com as minhas mãos.
Em um dado momento, naquelas estradinhas estreitas, pegamos uma fila de pequenos carros italianos que seguiam atrás de um caminhão, mais lento ainda. Valentino, agora falando sobre a Diablo, saiu para ultrapassar – creio que uns quatro carros pequenos e o caminhão – e qual não foi a minha surpresa quando vi que um outro caminhão vinha em sentido contrário, piscando os faróis. Pensei na hora: “morri! ” Mas, graças a Deus, ainda não era a minha hora.
Eu não estava acostumado, mas a tal Lamborghini Diablo era tão rápida que a potencia do seu motor foi mais do que suficiente para que fizéssemos
a ultrapassagem naquela fila de carros lentos e do caminhão que liderava essa fila de molengas. Terminamos a ultrapassagem, voltamos à faixa da direita e o caminhão, que vinha sentido contrário piscando faróis e já buzinando, logo ficou sozinho, sem ter para quem sinalizar. Um trouxa!
Descobri que motores potentes não servem só para os doidos desvairados correrem, mas em momentos de aperto servem muito bem para ultrapassagens que seriam apertadas para carros movidos por motorzinhos de dentista. Motores poderosos fazem ultrapassagens fáceis, seguras e sem stress. Uma maravilha!
Hoje, Valentino Balboni ainda trabalha na Lamborghini, mas com o status de Embaixador da marca no mundo, representando-a por onde quer que vá. Além disso, o conceituado piloto treina os novos consumidores da marca, ensinando-lhes técnicas de pilotagem. Seu prestígio é tanto que, em 2010, ele ganhou uma versão da marca com o seu nome: uma serie especial batizada de Lamborghini Gallardo LP 550-2 Valentino Balboni. Um orgulho para mim ter sido conduzido com tanta competência por um profissional agora mundialmente conhecido.
Visite o site do Douglas: www.carrosegaragem.com.br
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Foto Lamborghini | Divulgação
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Ontem quando avaliei o Autopapo esqueci de mencionar que além das Dicas do Bóris eu considero uma das principais matérias são os Causos do Douglas Mendonça, excelente JORNALISTA, cujo maravilhoso trabalho eu acompanho desde Quatro Rodas.
Tenho uma vontade danada de levar um Diablo à carreata de São Cristóvão, só para zoar o padre.