Mais relevante dos encontros sul-americanos de automóveis antigos, o Autoclásica, em sua 17ª edição, registrou participação recorde de quase 1.000 veículos e 50.000 visitantes.
A rara carroceria do igualmente raro Bugatti Atalante foi moldada manualmente pelo francês Gangloff em apenas 17 unidades. O automóvel, um puro sangue para corridas, empregava motor em alumínio, oito cilindros em linha, 3.3 litros, e é um dos Bugatti mais valiosos, estimado em US$ 8 milhões. Pertence à família Sielecki, dona de larga e refinada coleção, usuais convidados a participar do Pebble Beach Concours d´Elegance em Carmel, Califórnia.
Disputou o seleto troféu com outras referências: o também mítico Ferrari 250 GTO, modelado por Mario Boano, e o Hispano Suiza, da marca concorrente de Rolls-Royce e Isotta-Fraschini.
90 mil metros quadrados de área expositiva no Hipódromo de San Isidro, a 50 quilometros de Buenos Aires, fazem a festa dos diletantes antigomobilistas, perpassando entre barracas de clubes de eventos assemelhados e ilhas de veículos, separadas por marca ou tipo. Aberto na sexta-feira, o Autoclásica foi saudado com chuva, transformando o piso da negra terra turfosa num atoleiro preto. No sábado a presença popular iniciou desencantar, permitindo circular bordejando as poças d´água. No domingo a sensação era de viagem para todos os argentinos. Não havia fila para entrada, as aleias estavam vazias. Confortável aos visitantes, sensação de decepção a expositores, “pré-pânico” entre centenas de vendedores de peças, serviços e literatura.
Segunda-feira, lá feriado pelo Dia da Raça – qual é a raça dos habitantes da América do Sul, tão frequentada por levas de imigrantes? – o Autoclásica desencantou sob o sol poderoso, visitantes em quantidade industrial e filas bem fornidas. Tal levou ao inacreditável fato ocorrido no caminhão-stand da Paty, vendedora de sanduíches. Ter-se encerrado o prato típico de eventos a céu aberto, o Choripan – linguiça assada como churrasco e servida num pão com molho criollo, o nosso vinagrete.
Ampla variedade de prêmios para igualmente ampla variedade de tipos de expositores, incluindo carros de corrida, premiação a produtos nacionais e prestígio às motocicletas, segmento em amplo crescimento.
Até a visitantes estrangeiros é perceptível um ar de arrepios quanto à premiação do Autoclásica. Família Peres-Companq, dita a de patrimônio mais saudável na Argentina, levou exemplar de Fórmula 1 ex-Michael Schumacher, campeã, para integrar o rol de Ferraris comemorando os 70 anos da marca. Não ganhou sequer medalha de bom comportamento, não mereceu citação, exibindo uma abrasão aparentemente viva entre os colecionadores mais destacados do país.
O Autoclásica, estruturado pelo Club de Automoviles Clasicos, é aula de organização e captação de patrocínios, e deveria servir de exemplo aos presidentes de clubes no Brasil. É indicado pela FIVA, a federação da especialidade, como o único evento sul-americano entre os 10 melhores do mundo.
O bater de asas da borboleta na floresta amazônica tem a ver com o desabamento de toneladas de neve nos picos do Himalaia? Parece contrasenso, mas tem tudo a ver, em especial, com os movimentos empresariais comandados por holdings. Caso da Volkswagen liderando 12 empresas de veículos. Mês passado, para reformular sua diretoria, a alemã Audi, uma delas, resgatou da China o executivo Alexander Seitz, então vice-presidente comercial. Abriu espaço na operação chinesa e, para supri-lo, a holding foi pinçar elemento em outra empresa: a VW. A escolha recaiu sobre David Powells, então presidente da operação no Brasil. Aqui havia conquistado as benesses da matriz para reformulação operacional e lançamento de 20 produtos, preparando-a para ascender no mercado e saindo de inexplicável terceira posição. Havia igualmente revitalizado a operação de vendas externas à América Latina e Caribe, incrementando a produção para exportações.
O espaço aberto pela sua saída provocou a transferência, leia-se ascensão, de Pablo Di Si, argentino, homem de finanças, para gerir a VW do Brasil, acumulando com América Latina e Caribe.
Pela primeira vez na história desta empresa o substituto tem proximidades com o país. Não é alemão, austríaco ou sul-africano e alinha grande intimidade com o Brasil e conhece nossos costumes e linguagem. Aqui foi diretor da Fiat.
Ex presidente da VW na Argentina, lá recuperou a marca. Aqui terá bom desafio pela frente. Recebeu um bom projeto calcado em 10 pontos – desde a valorização dos colaboradores até os novos produtos. Segundo crê, o mercado automotivo nacional deverá crescer entre 8 e 10% nos próximos quatro anos, fugindo dos projetados R$ 2,8 mi. Há esperança de boa performance por mercado e rede de revendedores.
Picape, como a Coluna antecipou mundialmente, a Classe X, com previsão de construção na Argentina em 2018 e vendas em 2019, iniciou sua apresentação. Em San Vicente de Tagua Tagua, Chile, Mercedes faz test-drive à imprensa sul-americana. Argentinos com prioridade.
Questão de cortesia regional, pois a Classe X iniciará sua produção na Espanha e será vendida na Europa ainda este ano. No próximo ano, outros mercados atrativos ao tipo, África do Sul e Austrália. Faz movimento, promove mídia e divulga para ir se preparando à concorrência, com produtos líderes como Ford Ranger e Toyota Hilux. A Classe X é a Nissan Frontier com releitura Mercedes. Como aqui já se descreveu, tem bitolas mais largas 70 mm para maior estabilidade e menos reatividade na suspensão. Na prática, tal mudança implementa o conforto na rolagem, e daí intenta ocupar lugar acima da disputa a ser estabelecida entre Frontier e Alaskan, interpretação Renault sobre o produto.
Virá em três versões: Pure, para trabalho, Progressive, intermediária e Power, com trato Mercedes de uso confortável.
Em motorização, três opções a diesel: L4, 2.3 e 163 cv, 403 Nm, versão de entrada. Progressive terá o mesmo motor, mas com dois turbos, elevando a potência a 190 cv e 450 Nm. Power, versão de topo, com um V6, 3.0, 258 cv e 550 Nm. Transmissão manual de 6 velocidades ou automática de sete, opção de tração total.
A Chery capitulou. Única chinesa com fábrica no Brasil e operação relevante, com linha de produção, fundição, centro de distribuição de peças, polo de auto peças, não se viabilizou economicamente. Por conta de greves contínuas, não consegue produção linear ou cumprir prazos industriais para troca de produtos, além de escriturar prejuízo monumental. Por tais condições decidiu vender metade da operação e o mando no negócio, de acordo com anúncio no site da Changjiang Equity Exchange, da cidade de Wuhu, sede da empresa. Relata o Automotive News China.
Para a empresa estatal chinesa a situação é novidade. O regime comunista aplicando no capitalista e tomando prejuízos. Um antagonismo dialético.
No Brasil a empresa a ser vendida desconhece a decisão e no mercado vigora a teoria do interesse na aquisição pelo empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, o Dr. CAOA. Sua empresa, montadora de Hyundais em Anápolis (GO), já andou conversando com a Chery para uma aproximação industrial. Questão da sobrevivência ou viabilidade não parece baseada em questões industriais ou mercadológicas, mas tão somente de caráter trabalhista. O sindicato dos metalúrgicos da região, o Vale do Paraíba, por suas constantes greves e geração de insegurança, já conseguiu exportar produção de empregos da General Motors para a Argentina. O Cruze e sua motorização seriam feitos em São José dos Campos (SP). Repete o caso com a Chery, mas a fama de métodos objetivos precede o Dr. CAOA.
Volta e vai – Apesar da negativa, a Ferrari prepara um utilitário. Código de referência é personalizado, sendo referido como FUV – Ferrari Utility Vehicle. Coisa para 2020. Quer ser único no segmento, superior a todos os demais.
Será? – Proposta difícil. No segmento com foco no mesmo equilíbrio entre conteúdo, propósito e clientes, existirão Bentley Bentayga, Aston Martin, hoje dito Concept, e Lamborghini Urus.
Mais – Ford iniciou a produção o EcoSport em Craiova, Romênia, fornecedora do produto para a Europa. Planta também produz o motor EcoBoost 1,0. Mercado europeu de utilitários esportivos cresceu 27% ano passado.
Erado – A superação de vendas do Hyundai HB20 pelo Renault Kwid exibe consequência adicional: o produto coreano ficou subitamente envelhecido se comparado à novidade. Marca registrada, os múltiplos planos e os cortes têm vida curta.
Mexida – Para ampliar faixas de atuação e melhor aproveitar o bom momento de demanda de seus produtos, a Ford adicionou versões S e Tecno ao Ka. Preços entre R$ 44 mil e R$ 52,7 mil. Para o sedã Ka+, versão Advanced e preços de R$ R$ 55,7 mil a R$ 60,7 mil.
Ampliação – Toyota abriu o leque de opções para a picape Hilux e o utilitário esportivo SW4 na linha 2018. Hilux tem onze versões, SW4 sete, ambos com três motores a diesel e quatro flex. Marca formatou Hilux diesel 4×4, cabine dupla, seis marchas mecânicas e SW4 diesel, automática de cinco marchas exclusivamente para vendas em frotas.
Quanto – Preços em largo espectro. De R$ 109 mil a quase R$ 253 mil. No leque de veículos surgiu a opção SW4 com 7 lugares.
Importância – Pela primeira vez a BASF incluiu em sua projeção de cores uma especial para a América do Sul. É o Visual Arete, verde metálico intenso com tons azulados. Segundo a poética descrição do fabricante, ela dança entre o brilho e o mistério, proporcionando sofisticação aliada ao equilíbrio, além de trazer força e resiliência … Consegue entender e visualizar ? Nem eu.
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