Diante de problemas complexos, executivos e analistas imaginam até a hipótese do fim da indústria automobilística europeia
Stephane Séjourné, vice-presidente da Comissão de Estratégia Industrial da União Européia, disse na semana passada que a indústria automobilística na Europa corre “risco mortal”. Passa por uma crise, segundo ele, provocada por vendas oscilantes, concorrência feroz (principalmente a chinesa), tarifaço dos EUA e falta de uma política firme de transição energética.
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Na última sexta-feira, dia 12/09, houve a terceira reunião (neste ano) da comissão da EU com sua presidente Ursula von der Leyen para discutir a crise sob o título “Diálogo Estratégico para o Futuro da Industria Automobilística”. Com a presença dos principais executivos do setor, inclusive Ola Källenius, presidente da ACEA (Associação das Montadoras Européias) e CEO da Mercedes-Benz, foram discutidos temas como, por exemplo, a necessidade de uma recalibração das metas para redução de emissões de CO2 até 2035.
Apresentadas também propostas para reforçar a rede de pontos de recarga, a redução dos custos da energia elétrica e incentivos mais robustos ao carro elétrico. Källenius pontuou que as demandas não são questões triviais, mas desafios sistêmicos que pedem um esforço orquestrado dos responsáveis pela política do setor, fornecedores de energia e da indústria para dinamizar todo seu potencial de mobilidade elétrica. “Nós estamos prontos do nosso lado, mas o ecossistema precisa evoluir em paralelo”.
Os números do mercado europeu revelam o crescente avanço dos chineses, pois só a BYD triplicou suas vendas no primeiro semestre do ano, ultrapassando pela primeira vez as vendas da Tesla que despencaram 40% no período. A marca de Elon Musk reduziu drasticamente sua participação pela forte concorrência, atraso na nova geração de seu líder de vendas (Y), lançamento de um novo modelo mais acessível e pela postura de seu dono na política norte-americana.
Nos sete primeiros meses de 2025, eletrificados venderam mais de um milhão de unidades (1.011,903) com participação de 15,6% no mercado europeu. Em julho, os elétricos cresceram 39,1%, PHEV 8,6% e 34,7% os HEV. Seu emplacamento total no mês foi de 59,8% contra 51,1% em julho de 2024.
As marcas germânicas sofreram um baque com a imposição do governo Trump de uma tarifa de 27% (em abril) nas exportações para os EUA, ainda sem retorno aos índices anteriores mesmo depois de reduzidas para 15% em agosto.
Por outro lado, não cessam as discussões em torno da meta de zerar o CO2 na Europa em 2035, que envolve não somente políticos e técnicos, mas até especialistas em saúde pública.
Enquanto isso, nos EUA, tanto a Ford como a GM estão otimistas quanto aos elétricos. A GM diz estar preocupada com o fim do subsídio federal de U$ 7.500 em 30/09, prevê uma redução temporária de vendas dos elétricos mas uma volta à normalidade alguns meses depois.
A Ford está investindo nada menos que U$ 5 bilhões para modernizar e adequar aos elétricos a fábrica de Louisville, inclusive na produção de novas baterias, mais eficientes e leves. É uma nova filosofia de montagem de elétricos inspirada no “Modelo T” que transformou a indústria mundial em 1913 e que poderá ter efeito semelhante nos dias atuais.
O Focus elétrico terá papel essencial nas vendas da Ford na Europa e no respeito às exigências de emissões até 2035, mas desistiu de vender apenas elétricos na região a partir do próximo ano.
Antonio Filosa, novo CEO global da Stellantis, se diz preocupado também com os veículos comerciais, que tiveram uma queda enorme de vendas este ano principalmente devido às regras de emissões. Ele pretende que a ACEA defenda um prazo maior para algumas exigências, inclusive em relação aos biocombustíveis.
Mas não são apenas os comerciais, pois os prazos para se enquadrar automóveis também não são realísticos. A frota está velha e ele sugere um plano de renovação para facilitar as ações da indústria automobilística.
No Brasil, o setor se preocupa com os possíveis respingos da transição energética global nos rumos da descarbonização regional. Camilo Adas, da SAE Brasil (sociedade dos engenheiros automobilísticos), diz que “a transição energética precisa ser tão global quanto possível, mas tão regional quanto necessária para ser viável do ponto de vista ambiental, econômico e social.
A recente manifestação da indústria europeia reforça que não há um único caminho para a descarbonização. O Brasil, com sua matriz energética limpa e tecnologias consolidadas, tem muito a contribuir — desde que suas soluções sejam compreendidas e valorizadas dentro do contexto global.”
Nas entrelinhas do que disse o eng. Adas, está implícita a importância do desenvolvimento dos biocombustíveis como alternativa ao combustível fóssil. Principalmente o etanol, substituto viável, prático e barato à gasolina, que não pode ser desprezado apesar dos impedimentos para se tornar opção energética em outras regiões do planeta. E desenha para nosso país um futuro menos complexo que o europeu.
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Ainda não tenho carro chinês, mas não vejo nenhum problema de um dia ter um.
Que as fábricas saibam incentivar os seus trabalhadores, aumentando seus salários e reduzindo significamente o dos CEOs.
Trabalhador bem pago produz mais e melhor, enquanto CEOs só pensam em salários astronômicos para cair fora do pedaço milionário e sem um pingo de amor pelo que faz.
Vocês do jornalismo incompetente são os grandes culpados disso também. Não são só vocês mas vocês têm grande parcela de culpa. Cansei de ver vocês elogiando lixo chinês e criticando a indústria tradicional que pratica concorrência justa, gera empregos, movimenta a economia local difunde a tecnologia e cria outros tantos benefícios. Parabéns! Vocês conseguiram.
Vocês deveriam parar de ficar fazendo terrorismo com tudo que ouvem lá fora. Pensem um pouco, analisem e reflitam antes de divulgar essas bobagens.
Aliás o autor desta reportagem já deveria estar aposentado há muito tempo.
Irônico que a atual onda (e moda) da eletrificação começou exatamente na Europa, e praticamente imposta como uma tendência irreversível e o inquestionável futuro.
Haveria aí somente preocupações ambientais??? Ou talvez uma chance-de-ouro às montadoras europeias, pra faturarem alto fornecendo veículos bem mais caros e que em pouco tempo seriam a única opção???
Fato é que a China vislumbrou o filão, investiu em pesquisas, e recalibrou a sua gigantesca máquina industrial, enquanto os europeus ainda discursavam e pensavam como fazer…