Bombardeiro mais avançado da Força Aérea dos EUA, o B-2 Spirit revolucionou o design de aeronaves. Imune a radares e defesas, ele só caiu por causa de chuva
No último domingo (22), a disputa entre Israel e Irã foi elevada a outro patamar com a entrada dos Estados Unidos no conflito. Os norte-americanos atacaram instalações nucleares subterrâneas iranianas, utilizando bombas especiais para isso. O ataque seria facilmente repelido pelas defesas antiaéreas do país persa, a não ser que fosse o B-2 Spirit: um bombardeiro com design inspirado no voo do falcão-peregrino.
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Com formato tão incomum, o B-2 chegou a ser confundido com óvnis por testemunhas de seus primeiros voos. A fuselagem em forma de bumerangue contribui para sua invisibilidade em voo, mas torna a aeronave altamente instável.
Por isso, foi necessário recorrer a computadores que, nos anos 1980, já eram capazes de realizar diversas correções nas superfícies de controle da aeronave a cada segundo. Sem isso, seria praticamente impossível de um ser humano controlar a joia da frota da Força Aérea dos Estados Unidos.
Nos anos 1980, o governo dos Estados Unidos buscava um avião que pudesse cruzar o mundo, penetrar o espaço aéreo da União Soviética sem aparecer nos radares inimigos e soltar bombas de alto poder.
Os estudos com os aviões semelhantes a bumerangues — chamados de “asas voadoras” — já existiam desde a Segunda Guerra Mundial, mas não havia tecnologia para fabricá-los.
Isso mudou quando a fabricante Northrop passou a usar desenho auxiliado por computador (CAD), dando forma ao B-2 que, supostamente, teve suas linhas inspiradas no voo do falcão-peregrino.
Tudo isso ocorreu sob sigilo absoluto, a ponto de uma antiga fábrica da Ford ter sido adquirida para produzir o avião disfarçadamente. Como o The Washington Post contou em 1989, todos os empregados juravam sigilo sob pena de cadeia e as atividades buscavam parecer com uma manufatura de eletrodomésticos.
No fim das contas, o colapso da União Soviética diminuiu a demanda pelo B-2, que teve apenas 21 unidades produzidas até 1997, com custo médio de US$ 2,1 bilhões por aeronave.
Desde então, a frota vem sendo atualizada com tecnologias recentes e um aparelho foi perdido durante um acidente em treinamento.
A ausência de cauda e outras saliências ajudava, junto à tinta preta especial, a espalhar as ondas de rádio, em vez de enviá-las de volta aos radares.Também havia difusores de calor que atrapalhavam o uso de câmeras térmicas e até um sistema que alertava os pilotos quando o avião começava a emitir trilhas de condensação durante o voo.
De acordo com o especialista Doug Richardson, ainda que o B-2 seja detectado por um radar avançado, o controlador de voo enxergará algo parecido com um pombo na tela.
Além da invisibilidade, porém, os projetistas precisavam lidar com a grande instabilidade que o design do B-2 criava, especialmente em altas velocidades.
Dessa forma, também inovaram ao utilizar um computador que, nos anos 1980, já era capaz de processar diferentes medidores e realizar correções em tempo real nas superfícies de controle.
Consequentemente, cabia aos pilotos operar o B-2 de maneira convencional e, ao computador, realizar todas as correções necessárias para manter a normalidade. Isso é especialmente útil considerando as missões do modelo, que podem exigir dias de voo ininterrupto.
Segundo sinais de inteligência e informações oficiais, 13 unidades do B-2 Spirit decolaram da base aérea de Whiteman, no estado do Missouri.
Dessas, meia dúzia seguiu para oeste, rumando ao Oceano Pacífico e despistando os iranianos. Os outros sete aviões poderiam seguir direto ao Irã, mas, para evitar voo no espaço aéreo russo, rumaram a leste e foram reabastecidos antes de chegar ao Mediterrâneo.
Cada bombardeiro levava duas unidades da bomba GBU-57 MOP, chamada de “estoura-bunker” pelos norte-americanos. Analistas afirmam que o ataque às usinas de Natanz e Fordow marcou a estreia do explosivo, fabricado pela Boeing.
Ainda que as “estoura-bunker” sejam utilizadas desde 2003, a GBU-57 MOP é inovadora pelo tamanho e precisão: cada unidade pesa 12.304 kg e tem pequenos aerofólios guiados por sistemas que, mesmo sem GPS, conseguem se localizar em relação ao alvo.
A parte externa do dispositivo é feita com uma liga de aço especial, desenvolvida sob medida para as Forças Armadas. O peso e a velocidade supersônica do projétil fazem-no penetrar dezenas de metros no solo antes da detonação da mistura de pólvora e explosivos plásticos.
A maioria dos detalhes ligados à missão segue sigilosa. Analistas militares, porém, estimam que a viagem de ida e volta durou cerca de 37 h; nesse tempo, as tripulações do B-2 se revezaram na pilotagem e puderam dormir em um pequeno habitáculo dentro da asa voadora. As refeições, curiosamente, eram preparadas em um micro-ondas embutido na cabine.
Devido à operação extremamente específica, o B-2 Spirit é utilizado pela Força Aérea Americana em situações que não podem ser atendidas pelos B-52, B-1B e F-117, entre outros modelos.
Estima-se que o B-2 tenha sido protagonista de 117 missões de combate desde seu lançamento.
O único acidente com perda total ocorreu em 2008, quando a unidade apelidada de Spirit of Kansas caiu logo após decolar da base de Guam, na Ásia. As investigações revelaram que, nas semanas anteriores ao voo fatídico, o B-2 ficou exposto a chuva pesada no estacionamento da base.
Isso causou acúmulo de umidade em sensores de voo que confundiram o computador de voo, levando a manobras erráticas na decolagem.
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