Boeing acumulou problemas gigantes enquanto Airbus entregou produtos de sucesso. Analistas creem que retomada dos americanos só possa acontecer em 2030
Ainda não há evidências de defeito mecânico no Boeing 787 que caiu, nesta quinta-feira (12), em Ahmedabad, na Índia. O primeiro acidente fatal com o aparelho, entretanto, é só mais uma pedra no caminho tortuoso que a Boeing vive.
Desde 2019, a empresa norte-americana perdeu a liderança no segmento de jatos comerciais para a Airbus. A fabricante europeia se deu bem ao apostar em uma geração inovadora de aeronaves, além de absorver a demanda que a Boeing — envolvida em problemas nos EUA — não pôde atender.
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Fundada há 108 anos, a Boeing já era uma gigante do setor aeronáutico na Segunda Guerra Mundial, quando lançou bombardeiros cruciais para a vitória dos Aliados, como os B-17 e B-29.
Ao longo do século 20, a empresa também dominou a era da aviação comercial a jato: primeiro com o Boeing 707 e, depois, com o 747 — gigante de rotas globais — e o 737, feito para voos mais curtos.
A Airbus surgiu só nos anos 1970, em espécie de consórcio formado por diferentes países europeus. Foi só com a chegada do Airbus A320, em 1987, porém, que a empresa completou o duopólio que dura até hoje.
Segundo a consultoria AeroDynamic Advisory, aviões a jato de apenas um corredor (chamados de narrowbodies) correspondem a 61% da frota global. É justamente nessa categoria que Boeing 737 e Airbus A320 duelam, sempre de maneira acirrada.
Isso mudou em 2014, quando o A320neo foi anunciado, com motor que prometia até 20% de economia no consumo de combustível. Por outro lado, cerca de 95% da aeronave se manteve igual à geração anterior, evitando gastos extras com manutenção e treinamento.
A Boeing logo respondeu com o 737 MAX, que seguia a mesma proposta e usava o sistema MCAS para compensar o efeito do motor maior na asa. Esse recurso causou acidentes na Indonésia, em 2018, e na Etiópia, em 2019, somando 346 mortos.
Em um evento sem precedentes na aviação, todos os Boeing 737 MAX foram proibidos de voar entre março de 2019 e dezembro de 2020. Nesse período, houve investigações conduzidas por agências reguladoras e pelo Congresso dos EUA, que apontaram omissões da fabricante e vulnerabilidades do projeto.
Apesar dos episódios graves, as taxas gerais de acidentes em ambos os fabricantes mantêm-se em níveis historicamente baixos, segundo dados do NTSB.
Mesmo assim, dados oficiais apontam prejuízo de US$ 20 bilhões só em multas, processos e outras compensações por conta do incidente.
Além disso, tornou-se impossível fabricar novos 737 MAX, já que a fábrica ficou lotada de unidades prontas, mas impedidas de voar para os clientes. Estima-se que outros US$ 60 bilhões foram perdidos com os 1.200 aviões cujos pedidos foram cancelados.
Para aumentar ainda mais seu crescimento europeu, a Airbus emplacou outra inovação no mercado com o lançamento do A321neo, também em nova geração.
As principais mudanças foram as mesmas do A320neo: novos motores e asas levemente redesenhadas. Mas o A321neo é maior (até 244 passageiros) e oferece versões de alcance estendido, com tanques de combustível maiores e trem de pouso reforçado, a fim de decolar com mais peso.
Graças a essa combinação, tornou-se possível atender a rotas distantes e de menor demanda, como as que vêm ligando o Norte e Nordeste do Brasil à Europa. Dessa forma, acreditam analistas, é possível até induzir a demanda, já que se torna viável ir a certos destinos sem conexão.
A Boeing certamente busca sua alternativa aos A321 LR e A321 XLR; essa, entretanto, corresponde ao 737 MAX 10, que sequer foi homologado. Desse modo, sequer há resposta dos americanos ao novo A321 até agora.
Analistas apontam ainda que o desenvolvimento de aeronaves de emissão quase zero e as parcerias para produção de SAF (combustível de aviação sustentável) serão decisivos para os futuros de ambas as fabricante, que agora também lidarão com a chinesa Comac.
A curto prazo, entretanto, é difícil que a Airbus perca a liderança que ganhou há cinco anos. “Agora a briga é pela década de 2030. A década de 2020 já está decidida”, afirmou o especialista Richard Aboulafia em entrevista à rede CNBC, em abril.
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Boing infelizmente falhando na segurança …
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