BYD é culpada sim por operários em condições degradantes

Montadora chinesa foi flagrada com operários em situação precária na construção de sua fábrica na Bahia, mas tenta se esquivar culpando a terceirizada

placa entrada complexo fabril byd camacari bahia
Placa na entrada do complexo fabril da BYD na Bahia (Fotos: Divulgação)
Por Boris Feldman
Publicado em 26/12/2024 às 17h12
Atualizado em 29/12/2024 às 23h16

A montadora chinesa BYD está construindo fábrica em Camaçari, Bahia, na área que pertenceu a Ford. No final de novembro, a Agência Pública denunciou que os operários chineses que trabalhavam na construção tinham tratamento degradante e condições de vida sub-humanas. A BYD correu para explicar que a construção era de responsabilidade de uma empresa chinesa terceirizada. Não era ela BYD, e que tomaria providências urgentes.

Mas quase um mês depois, no dia 23 de dezembro, nada tinha se alterado e o Ministério Público do Trabalho (MPT) teve que interditar as obras e exigir que os operários fossem hospedados decentemente em hotéis da região.

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A BYD volta então a tentar explicar o inexplicável, o descalabro, a falta de respeito às condições mínimas de dignidade, ética, higiene e condições sanitárias da obra e que cancelou então o contrato com a chinesa Jinjiang, que mantinha seus operários nessas condições.

Pode até ser verdade essa terceirização, mas não importa. Não justifica! Qualquer empresa do mundo que contrata terceiros para fornecer produtos e serviços, estabelece as condições em que o contrato será cumprido. Existem, para isso, regras básicas, operacionais e éticas a serem observadas pela contratante e, principalmente, a contratada. E mesmo diante do sinal vermelho que se acendeu em novembro, nada se fez até que o Ministério Público, um mês depois, fosse obrigado a interditar a obra.

Histórico de desrespeito da BYD

Não chega a ser espantoso esse comportamento da chinesa BYD, pois há alguns meses eu denunciei aqui o descaso dela em relação aos seus clientes, que reclamavam falta de peças e assistência técnica para os automóveis. A fábrica não atendia sequer as ligações de telefone para o SAC – Serviço de Atendimento ao Consumidor. Eram carros parados por problemas tecnológicos e falta de componentes de reposição.

Faltava até pneus para alguns de seus modelos. Se os clientes eram tratados assim, imagina os operários humildes de uma construção civil. Eu tenho certeza de que os automóveis BYD possuem um excepcional nível de qualidade e tecnologia, mas não estou convencido da excelência de suas operações na filial brasileira. Pelo contrário, vender automóveis é muito mais do que importá-los, ou produzi-los, e enviá-los para o show-room das concessionárias.

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Vista aérea da fábrica da BYD na Bahia

Aliás, se ela alega que as monstruosidades cometidas na fábrica de Camaçari que tem lá na frente o logotipo da BYD são de responsabilidade de empresas terceirizadas, eu então pergunto, as concessionárias que ostentam igualmente sua marca na fachada não são também terceirizadas? Se a assistência técnica ao cliente é falha, a culpa é da autorizada ou da fábrica?

A imagem da chinesa BYD está profundamente abalada no mercado brasileiro. Prova disso é que colega meu que tem canal no YouTube com o maior volume de seguidores no Brasil, o Opinião Sincera, anunciou publicamente esta semana que irá vender seu BYD por não concordar com a postura da marca. As empresas chinesas são muito bem vindas ao Brasil, mas devem pautar seu comportamento pelas nossas regras de convivência e de trato com o mercado e com a sociedade.

Podem importar seus automóveis, mas não as condições precárias e degradantes com que eventualmente tratam seus operários na China.

Resposta da BYD

BYD Auto do Brasil decide rescindir contrato com construtora Jinjiang

Nesta segunda-feira (23), a BYD Auto do Brasil recebeu notificação do Ministério do Trabalho e Emprego de que a construtora terceirizada Jinjiang Construction Brazil Ltda. havia cometido graves irregularidades. A BYD Auto do Brasil reafirma que não tolera desrespeito à lei brasileira e à dignidade humana. Diante disso, a companhia decidiu encerrar imediatamente o contrato com a empreiteira para a realização de parte da obra na fábrica de Camaçari (BA) e estuda outras medidas cabíveis. A BYD Auto do Brasil reforça que os funcionários da terceirizada não serão prejudicados por essa decisão, pois vai garantir que todos os seus direitos sejam assegurados.

A companhia determinou, na data de hoje, que os 163 trabalhadores dessa construtora sejam transferidos para hotéis da região. A BYD Auto do Brasil já vinha realizando, ao longo das últimas semanas, uma revisão detalhada das condições de trabalho e moradia de todos os funcionários das construtoras terceirizadas responsáveis pela obra, notificando por diversas vezes essas empresas e inclusive promovendo os ajustes que se comprovavam necessários.

“A BYD Auto do Brasil reitera seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, em especial no que se refere à proteção dos direitos dos trabalhadores. Por isso, está colaborando com os órgãos competentes desde o primeiro momento e decidiu romper o contrato com a construtora Jinjiang”, afirmou Alexandre Baldy, Vice-presidente sênior da BYD Brasil .

A companhia opera há 10 anos no Brasil, sempre seguindo rigorosamente a legislação local e mantendo o compromisso com a ética e o respeito aos trabalhadores.

A companhia opera há 10 anos no Brasil, sempre seguindo rigorosamente a legislação local e mantendo o compromisso com a ética e o respeito aos trabalhadores.

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2 Comentários
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Antonio Pereira 29 de dezembro de 2024

O mesmo povinho que defende a democracia e o tramitado e julgado com amplo direto a defesa e presunção de inocente já decretaram de forma arbitrária me democrática: “TEM CULPA SIM”.
Quanto fizerem isso com os senhores, não reclamem ok!

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Santiago 27 de dezembro de 2024

Eu sabia que China não era exatamente o paraíso.
Porém imaginava que tais práticas fossem um rescaldo de um passado já distante, e infelizmente restrito a rincoes esquecidos e escondidos (tal como ainda acontece aqui).
Mas não, a coisa é escancarada mesmo. E tão natural para eles, que nem se importam em praticá-la abertamente aqui no outro lado do mundo e sem antes conhecer as nossas regras.
Que miséria e rapinagem é essa, a ponto de se querer lucrar uns trocados até encima da mao-de-obra que está erguendo os seus galpoes???
Ah, a BYD não sabia de nada? Então não conhecia a tal empreiteira que trouxe lá da China??? Alegação parecida com aquelas famosas grifes da moda, quando apurouse-se que as suas caríssimas roupas eram confeccionadas por terceirizados usando mão de obra escravizada – elas também “não sabiam de nada, e estavam ‘surpresas'”…
Engraçado eles não questionarem porque os seus terceirizados cobram precinhos tão camaradas, e bem abaixo de qualquer planilha contábil de custos…
Se fosse para jogar limpo, teriam contratado construtoras e mão de obra daqui, pelas regras daqui! Aonde está o pomposo slogan “gerando empregos no Brasil”???
Vai se precisar parar tudo, e rever a coisa toda no caso dessa fábrica.
Estamos ainda lutando para extinguir os últimos resquícios da escravidão aqui no Brasil, e não devemos permitir que agora se traga isso lá de fora.

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