O velho Henry Ford era contra o pedal da embreagem. Mal sabia ele…

Um a um, desaparecem não só os pedais como também outro comandos dos carros. Até a alavanca de câmbio vai entrar na 'dança'

Henry Ford ao lado do Ford T
Henry Ford ao lado da sua criação (Fotos: Divulgação)
Por Boris Feldman
Publicado em 08/10/2022 às 09h03

Não me esqueço do meu primeiro carro antigo, um Ford Modelo T de 1926. Este carro inaugurou a linha de montagem no mundo, produzido de 1908 a 1927. Sua mecânica era muito simples e, por isso, muito resistente, verdadeira obra-prima de funcionalidade de Henry Ford.

No Brasil (foi também montado aqui) era chamado “For-de-bigode” ou “For-de-pedal”. Porque seu grande diferencial em relação aos outros carros da época era ser semiautomático.

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Como assim?

Eram três pedais: à direita (acelerador nos demais), do freio. O central (freio até hoje) era a marcha-a-ré. E o da esquerda (hoje embreagem) engatava primeira (mantido apertado no fundo), ponto-morto (no meio do curso) e segunda-marcha quando não acionado. Era “prise direta” mesmo, virabrequim conectado ao eixo cardã…

pedais ford model t torpedo runabout 1912
Pedais do Ford T, da direita para esquerda: freio, marcha-a-ré e engate da 1ª marcha, ponto-morto e segunda marcha

Terceira? Não tinha. Embreagem? Também não. Alavanca de mudanças? Não, só a do freio-de-mão. Nem bombas de água (termo-sifão) ou de  gasolina (descia por gravidade).

Alguém percebeu que na descrição de pedais não apareceu o do acelerador? Não era acionado pelo pé, mas por uma alavanca na coluna, sob o volante, à direita. E a da esquerda para avançar o distribuidor. Por isso o apelido “For-de-bigode”.

volante e comandos ford t
Duas alavancas no Ford T e a origem do apelido ‘Bigode’: direita, acelerador; esquerda, avança o distribuidor

Tudo isso porque Henry Ford era contra o câmbio manual e sempre imaginou o automático. Mas entregou os pontos com o sucessor do “T”: o modelo A (1928) tinha caixa de marchas convencional, com alavanca e… Pedal de embreagem.

Novas tecnologias… E menos comandos

Com o passar dos tempos e novas tecnologias, as coisas caminharam de forma surpreendente, principalmente com a eletrônica. E os comandos convencionais estão todos sendo eliminados.

O primeiro pedal a ir para o espaço foi o da embreagem. O câmbio automático apareceu nos EUA entre as décadas de 1930 e 1940 – corre história de ter sido invenção brasileira, com patente vendida para a GM.

Vários sistemas de câmbio automático foram surgindo e o mercado norte-americano absorvendo a novidade rapidamente. Ao contrário do brasileiro, que só recentemente aderiu ao carro sem embreagem, o mercado norte-americano vende mais de 95% de automáticos. Câmbio manual? Só em alguns esportivos.

Outro pedal que está na corda bamba é o do freio. Pois o sistema regenerativo do carro elétrico é tão poderoso que quase o dispensa. Basta tirar o pé do acelerador que o “freio” entra em ação. Aliás, em alguns já existe o one-pedal-drive que permite ao motorista usar quase exclusivamente o pedal do acelerador. O do freio, só em emergências.

  • Enquanto tem pedal, você sabe quando deve frear com o pé esquerdo? Veja no vídeo:

Freio de mão (ou ‘de pé’)

Outro comando que está desaparecendo é do freio de estacionamento. Em geral acionado manualmente, e, apenas em alguns veículos muito antigos (e no Corolla Cross) pelo pé esquerdo. Porém, os mais modernos substituem a alavanca ou o pedal por um botão no console que aciona um sistema elétrico. Às vezes automático, conjugado com o sistema eletrônico do carro e que até dispensa ser pressionado pelo motorista

Não vai sobrar nenhum pedal

E o pedal do acelerador?

Sobrevivente da trinca, vai se juntar aos demais no museu, pois já teve carro-conceito que substituiu volante e pedais por uma pequena alavanca do tipo joystick que engloba todas estas funções de comando.

E a “cereja do bolo”: os elétricos estão abrindo espaço no museu até para a alavanca de câmbio, tamanho o torque de seus motores, que dispensa as marchas, tão importantes que já chegaram a dez delas em alguns automóveis.

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Carros elétricos, como o Chevrolet Bolt, não têm marchas – muito menos alavanca de câmbio

Nem mesmo botõezinhos e teclinhas convencionais vão resistir ao avanço eletrônico, pois para acionar som, ar condicionado, modo de condução e vários outros, o motorista usa a touch screen: basta encostar o dedo na tela. Que saudade dos antigos rádios com um botãozinho de cada lado. O da esquerda ligava e controlava o volume. O da esquerda para sintonizar a estação. Hoje eu demoro minutos para descobrir o caminho.

radio antigo shutterstock
Rádios antigos com comandos para volume e sintonizar as estações (Foto: Shutterstock)

Por falar nisso, a chave no painel foi substituída pela presencial que fica no bolso e basta apertar um botão para ligar o caro. Em alguns elétricos, nem se aperta mais nada: quando o motorista abre a porta, o carro está pronto para sair.

E, mais para o futuro, comando nenhum, só o de voz: “Carro, para a escola do meu filho”. E vai ler (no celular) seu exemplar do Washington Post.

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5 Comentários
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Cadilatta 21 de outubro de 2022

“Carro, para a escola do meu filho”. E vai ler (no celular) seu exemplar do Washington Post.
Pode ser absolutamente verdadeiro, ou talvez, nossos descendentes digam” Eia Barroso, avante!

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Marcell 14 de outubro de 2022

Com todo o respeito… carro é para dirigir com prazer. Essas coisas nutellas boiolas estão tirando a graça de cambiar um opalão 6 cilindros…

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Coehnn Goldhill 15 de outubro de 2022

Concordo em gênero, grau e número. Não gosto nem de carro automático, apesar de reconhecer que tem motoristas que deveriam ter a licença apenas para automáticos, e, serem menos cansativos. Porém tiram o prazer e a habilidade de dirigir.

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Lafayette 9 de outubro de 2022

Ainda não dirigi um elétrico, mas acredito que deva ser sem graça, assim as automações serão bem vindas para este tipo de veiculo, por isso os carros elétricos tendem a ser um serviço publico. Meu carro a combustão só eu o dirijo e com prazer

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Jo 8 de outubro de 2022

Moro numa cidade de 200k habitantes e neste uso prefiro o manual, pois gosto de ter o carro bem a mão. Mas para grandes cidades e viagens uso o automático com opções de assistências. Ou seja, depende do uso que se dá ao veículo e onde se rodará com ele.

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