Oportunidades perdidas: 5 carros promissores cancelados pela Volkswagen
A filial brasileira da montadora alemã tentou por diversas vezes lançar carros que o público queria, mas acabou deixando de lado na última hora
A filial brasileira da montadora alemã tentou por diversas vezes lançar carros que o público queria, mas acabou deixando de lado na última hora
O Brasil é um mercado grande o suficiente para que algumas matrizes de montadoras darem autonomia a suas filiais. Um excesso de controle por parte da sede, que não conhece a fundo as nossas particularidades, pode fazer que carros promissores sejam cancelados — e a Volkswagen ficou mestre nisso.
A Fiat e a General Motors do Brasil, por exemplo, trabalham quase que de forma independente do resto do mundo. Criaram carrocerias diferentes, adaptaram designs, aprimoraram motores antigos e até mesmo criaram modelos novos com 100% de foco na América Latina.
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A Volkswagen operou dessa forma até meados dos anos 90, usando sua liberdade para manter a velha Kombi em linha, criando o Gol com plataforma própria e se unindo com a Ford para fazer a AutoLatina. Quando a matriz resolveu acompanhar de perto, muitos projetos locais começaram a sair de cena e modelos globais entraram com pouco sucesso.
Uma prova disso foi com o Polo nacional, que era mais refinado que a média dos compactos nacionais e não conseguiu vender bem por ser caro. O Up! foi um caso similar, um subcompacto refinado pode dar certo na Europa, mas o brasileiro quer um compacto que leve a família e mais um pouco.
Outro sintoma foi a demora ao fazer um SUV, enquanto a Ford vendia o EcoSport aos montes. A seguir listamos alguns carros cancelados pela Volkswagen no Brasil.
A família Gol era uma das mais bem sucedidas de nosso mercado quando a primeira geração chegou ao fim. Era de se esperar que na segunda geração, apelidada de “Bolinha”, isso continuasse.
Não foi bem assim. Gol, Saveiro e Parati ganharam nova geração, mas o sedã Voyage ficou de lado. Por anos, foi um mistério saber o que aconteceu para que o modelo não tivesse continuidade em um segmento tão forte.
O motivo foi revelado em 2022 pelo designer Luiz Alberto Veiga, que mostrou também como eram os mock-ups do Voyage bolinha. Um executivo estrangeiro exigiu que o Polo Classic fosse o representante da marca nesse segmento.
Largar um nome com 14 anos de mercado e uma plataforma testada e aprovada por um modelo desconhecido foi um tiro no pé. O Polo Classic foi um fracasso e a Volkswagen ficou sem ter um sedã compacto de boas vendas até o nome Voyage voltar em 2009. Baita oportunidade perdida…
Era muito especulado que o Gol ganharia uma nova geração em 2018, com a moderna plataforma MQB e porte maior. Quando a sexta geração do Polo começou a ser flagrada por aqui, os indícios eram de que ele ganharia o nome veterano, já que não fez sucesso com a identidade usada lá fora.
A matriz não ter permitido versões mais simples nem mudar o nome do Polo para Gol matou essa ideia. Na época, os compactos nacionais estavam se modernizando, após o sucesso do Hyundai HB20, do Fiat Argo e do Chevrolet Onix, um carro atual da VW com nome consagrado poderia ajudá-la a emplacar a novidade.
Mas, ao estrear como Polo, o hatch compacto teve que recriar sua imagem no Brasil para depois suceder o Gol. Ele só assumiu mesmo o posto do veterano como o carro de entrada da VW em 2023, quando a versão Track entrou no mercado .
A Volkswagen perdeu a oportunidade de ter conseguido fazer isso com cinco anos de antecedência. E já pensou na animação dos fãs ao verem um novo Gol GTS?
A Renault inaugurou o segmento de picapes intermediárias com a Duster Oroch no fina de 2015. Seis meses depois a Fiat lançou a Toro, com porte maior, identidade própria e um cobiçado motor diesel. O sucesso é o que vemos hoje nas ruas.
A Volkswagen estava com uma competidora pronta para ser lançada em 2019, tendo sido mostrada como conceito no Salão do Automóvel de 2018. Mas ela acabou cancelando o projeto.
A Tarok foi uma grande oportunidade perdida da Volkswagen, pois acertaria nos pontos fracos da Toro da época: o porte era similar, porém a plataforma moderna permitia peso menor, o que resulta em desempenho e economia superiores.
Os motores poderiam ser o 1.4 TSI ou o 2.0 turbodiesel. Na época a Toro trazia o inadequado 1.8 flex, de desempenho limitado. A versão diesel teria tração integral e capacidade para 1 tonelada.
Por fim, a Tarok teria uma divisória rebatível entre a caçamba e a cabine, para poder levar objetos longos. Esse conjunto poderia dar muito trabalho a Fiat toro.
Hoje a VW já cancelou esse carro e está trabalhando em uma picape nova e menor. A ideia é ter algo no porte da Chevrolet Montana, sem tração integral ou motor diesel. A vantagem será o conjunto híbrido.
Na lista de planos cancelados da Volkswagen, está um carro menor que o Gol e que bateria de frente com o Fiat Uno nos anos 80. O nome do projeto era BY e tratava-se de um Gol encurtado — receita similar a do Fiat Mobi, lançado 20 anos depois.
Uma unidade do protótipo sobreviveu e está hoje no acervo da Garagem VW. As proporções são estranhas, já que o motor longitudinal do Gol exige um cofre maior.
O carro cancelado ainda trazia algumas soluções interessantes, como o banco traseiro que corre por um trilho, para poder aumentar o porta-malas, o para-brisa era colado à carroceria, não haviam as calhas no teto e a suspensão traseira tinha um desenho mais compacto.
O projeto BY poderia ter sido o antecessor espiritual do Up TSI, pois sob o capô estava o AP 1.6. A força desse motor em uma carroceria mais leve daria trabalho para os carros maiores. Sem contar que daria para colocar até um AP 2.0 ali.
Em 2003 o Ford EcoSport chegou ao mercado, pegando a concorrência desprevinida e conquistando o consumidor. As montadoras se movimentaram para combater o modelo com peruas e minivans aventureiras, um SUV similar só chegou ao mercado quando a Renault lançou o Duster.
Os projetistas da Volkswagen já queriam ter lançado um SUV bem antes do T-Cross, que só veio em 2019. Segundo Luiz Alberto Veiga, ele já havia trabalhado em um utilitário enquanto cuidava da reestilização do Logus, no final dos anos 90.
O assunto de ter um SUV na marca alemã apareceu novamente nos anos 2000, como um derivado do Fox. Os protótipos apontam um desenho mais quadrado, que lembra o Kia Soul e o Škoda Yeti.
Mais uma vez, a criatividade dos brasileiros foi podada pela matriz e o carro foi cancelado. Seu desenho foi levado por Peter Schreyer para a Kia, o Soul possui algumas similaridades com esse SUV derivado do Fox.
Por fim, teve o o Taigun, um SUV compacto derivado do Up. Por muito tempo, ele foi cotado para ser feito em Taubaté (SP). O carro foi cancelado pela Volkswagen em 2015, deixando de criar um segmento de utilitários compactos que ainda não existia no Brasil.
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