Como as fábricas preparam os carros de testes para jornalistas?
Crivo da imprensa tem grande peso na decisão de compra do cliente, por isso, fabricantes investem alto em carros de testes
Crivo da imprensa tem grande peso na decisão de compra do cliente, por isso, fabricantes investem alto em carros de testes
Ao que tudo indica, não são todas as marcas que usam de artifícios para melhorarem os carros de testes, fornecidos aos jornalistas. Esses são os carros que, depois, viram matérias, vídeos, publicações e reportagens que você, leitor, assiste ou lê. Mas é certo que a grande maioria ainda utiliza de alguma artimanha na sua frota de veículos de imprensa, e que esses carros não são exatamente iguais àqueles 0 km da concessionária.
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Como já contamos, na coluna anterior, é claro que, em uma linha de montagem que produz cerca de 1.000 carros por dia, por exemplo, é impossível que todos saiam exatamente iguais. Devido à grande variação, normalmente existente em uma produção de larga escala, nos projetos de indústria automotiva é absolutamente normal a técnica das tolerâncias de produção. Mas, claro, quanto mais próximo o carro da linha de fabricação estiver da tolerância zero, mais perfeito ele tende a ser. Por isso, é normal que as fábricas busquem, nos carros das frotas de imprensa, exemplares que estejam próximos desse tal limite de perfeição.
Você, consumidor, dificilmente vai encontrar uma unidade tão bem acertada assim no showroom das concessionárias. Há aqueles fabricantes, ainda, que vão mais longe, e praticamente constroem exemplares especiais em suas engenharias, dedicados aos testes da imprensa especializada. Unidades praticamente fiéis aos números e especificações do projeto original daquele veículo.
Além das medidas semelhantes àquelas do projeto original, e das soldas mais caprichadas e em um número maior, esses carros “preparados” tendem a fazer menos barulho e torcerem menos, com direção e suspensões que trabalhem dentro do previsto do projeto original. Percebem agora como vai nascendo um carro perfeito?
No interior, tapeçaria, bancos e painel, o objetivo é apoiar o máximo de componentes em espumas de alta densidade, evitando barulhos e ruídos de acabamento. As mantas de redução de ruídos são mais caprichadas, com melhores resultados de silêncio a bordo, o que passa uma impressão positiva de solidez aos ocupantes. Claro, quem estiver avaliando o carro vai elogiar essas qualidades, mesmo que elas não sejam assim tão comuns em exemplares encontrados nas concessionárias.
O mesmo é feito nas suspensões e sistema de direção: molas, amortecedores e até a própria caixa de direção seguem exatamente as dimensões e calibragens concebidas no desenvolvimento do modelo. Seu rodar será mais seguro e equilibrado com isso. Os freios podem ganhar pastilhas de composto mais caro e uma regulagem de servo freio e cilindro mestre que certamente é única, feita à mão. São artimanhas que os carros montados na engenharia podem trazer.
E nem é preciso dizer que, no motor e câmbio, estão os mesmos preciosismos. O pessoal da engenharia vai montar uma unidade especial, com pistões e bielas mais leves dentro do especificado, com peso equilibrado, enquanto o virabrequim também terá uma dose extra de equilíbrio e acerto. Também não podemos esquecer das válvulas do cabeçote com melhores níveis de vedação, e um eixo comando alinhado segundo o que manda o critério do motor original. Sem tolerância para mais ou para menos.
Da mesma forma, também buscam um mínimo volume dentro das câmaras de combustão, fato que resultará em uma taxa de compressão maior, mas sem sair do especificado. Se considerarmos a vedação perfeita das válvulas e o comando trabalhando no seu tempo correto, já teremos uma substancial melhora nos números de potência e torque. Na prática, falamos de um desempenho superior, menor consumo de combustível e emissão de gases poluentes em nível mais reduzido. Melhores, claro, que os níveis dos carros “comuns”, de produção em série.
O câmbio também passa por ajustes, com engrenagens e rolamentos seguindo um padrão de perfeição, sem folgas maiores ou menores. Com isso, haverá menos ruído e a qualidade dos engates ficará melhor, digna de elogios. Tanto no motor quanto no câmbio, há ainda o recurso de um lubrificante especial, muito mais caro que aquele das linhas de produção, mas que reduz bastante os ruídos e atritos internos desses componentes.
Certamente, são aperfeiçoamentos que deixam o carro “tinindo”, fazendo a alegria de quem está conduzindo o teste. E, como o motorista gosta, ele acaba passando as qualidades e elogios ao seu público.
Um fator fácil de ser observado, e que passa batido pela maioria dos jornalistas e influenciadores do meio jornalístico automotivo, por exemplo, é o da marca dos pneus dos veículos de testes. Uma determinada fábrica alemã, por exemplo, chegou a usar pneus de primeira linha (Continental) em unidades do seu hatch de entrada para a frota de imprensa. Mas, bastava ir até uma concessionária para ver que, na verdade, aquele mesmíssimo carro vinha com pneus chineses (LingLong).
A diferença entre eles? Além do preço, lógico, o pneu premium tende a fazer menos ruído, menos atrito de rolamento (melhora consumo e desempenho) e pode até deixar o carro mais seguro, ajudando na menor distância de frenagem e aderência em curvas ou altas velocidades. Enquanto isso, o outro, mais barato, vai ter todos os valores anteriores piorados. Por isso a escolha da marca de primeira linha nos carros de testes: melhores resultados. Apesar de ambos serem aprovados pela engenharia, ficando dentro dos valores aceitos pela fábrica, voltamos àquela história: sempre será adotado o mínimo de tolerância nos carros de imprensa.
Diante de tantos recursos, fica fácil entender o motivo de você, algum dia, ter comprado um carro 0 km que era muito elogiado pela imprensa, mas que a sua unidade te decepcionou. Aqueles casos de você procurar, procurar e procurar aquelas qualidades tanto ressaltadas nas avaliações da mídia especializada, mas encontrar resultados práticos bem mais “chochos”.
Vocês já imaginaram quanto custaria um carro especial desses, feito para cada um dos compradores comuns? Às vezes, até o dobro do valor de tabela. Pois é, peças especiais, montagens à mão e tempo de trabalho da engenharia custam caro…e podem enganar desavisados.
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Após ler inúmeras matérias acerca do Fiat Argo Trekking 1.3 manual, comprei um novo em 2021. Fiquei com o carro por 10 meses, rodando 12000 km. Nenhuma matéria falou sobre a ergonomia ruim do hatch. Volante colado no painel, banco que, depois de um tempo, sentia a coxa ser comprimida contra uma barra de metal do banco.
Se eu buscasse colocar o banco mais perto, meu joelho batia no revestimento da coluna de direção, prensando ela. Se deixasse longe, braço ficava esticado. Enfim, ou dava dor nas costas, nos ombros ou nas pernas, pior carro nesse sentido que já vi. Sem dizer que a direção elétrica dele tinha vida própria, em pisos inclinados lateralmente, ficava forçando a direção a ficar “alinhada”, fazendo com que o carro fosse na direção da inclinação, era uma briga, andar nas Marginais de São Paulo, faixa da esquerda, era motivos de dores nos ombros. Já dirigi Fusca, Del Rey, dentre outros carros antigos, nunca tive este problema.
Parabéns pela matéria, sempre pensei que isso ocorria, mas não tinha como provar.