Combustível: governo anuncia o futuro mas se esquece do presente
Brincadeira de mau-gosto: dias depois de sancionar lei do combustível verde, governo confessa corte de verbas para controle de qualidade
Brincadeira de mau-gosto: dias depois de sancionar lei do combustível verde, governo confessa corte de verbas para controle de qualidade
É quase inacreditável, mas é verdade: o governo federal cortou as verbas da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e inviabilizou o Programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis nos meses de novembro e dezembro deste ano. Como funciona o PMQC?
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Ele apoia as ações de fiscalização da ANP e gera informações adicionais para os Ministérios Públicos, Procons e Secretarias de Fazenda. Identifica focos de não conformidade do etanol hidratado, gasolina e diesel por amostras em postos escolhidos por sorteio. Que são analisadas pelo laboratório da ANP em Brasília e em universidades e instituições de pesquisa contratadas pela agência.
São estas ações que inibem a adulteração de combustíveis como a adição de percentual mais elevado de etanol na gasolina, ou de água no etanol, ou do perigoso metanol em ambos.
Na informação divulgada pela ANP, o PMQC voltará apenas em janeiro de 2025, deixando nestes dois meses de orientar as ações de fiscalização da Agência em locais com indícios de irregularidades. Elas se baseiam também por movimentação suspeita de produtos e denúncias do consumidor à Ouvidoria da ANP, por exemplo.
A fiscalização continuará em novembro e dezembro, porém as amostras só poderão ser analisadas pelo laboratório da ANP em Brasília, limitando portanto a efetividade das ações dos agentes estaduais e federais. Que, ao visitar os postos, terão condições limitadas de verificar a qualidade e quantidade dos combustíveis, óleos lubrificantes, GLP, etc.
A ANP ter cortado o PMQC durante dois meses como “parte do conjunto de medidas que vêm sendo adotadas em função dos cortes orçamentários que a atingiu” tem ares de brincadeira de mau gosto, pois foi anunciado em 18 de outubro, exatos dez dias depois que o Presidente Lula sancionou a Lei do “Combustível do Futuro”.
Ou seja, de um lado o governo federal badala sua participação no processo de descarbonização do planeta, na redução da emissão de gases poluentes com o incremento da utilização de combustíveis verdes em substituição aos fósseis. Mais cana e soja, menos petróleo. Com a adição de mais etanol à gasolina e biodiesel ao diesel, entre outras medidas. Sem medir as consequências negativas destes novos percentuais nos motores e bolsos dos motoristas. Não somente do biodiesel que entope motores, como do tóxico e corrosivo metanol acrescentado criminosamente ao etanol (ou gasolina).
Para que o percentual de biodiesel seja aumentado gradativamente, até atingir 20% em 2030, uma das condições é o rigoroso controle de sua qualidade e do diesel onde será misturado. Entretanto, dez dias depois deste anúncio, o próprio governo confessa ter cortado verbas orçamentárias para o controle de qualidade dos combustíveis, diesel e entre eles.
Como acreditar no “combustível do futuro”, se o governo já cortou verbas essenciais para o combustível do presente?
O resumo da ópera é que o governo federal se vangloria de anunciar sua participação na descarbonização do planeta através do “Combustível do Futuro”. Mas não se envergonha de confessar seu desprezo pelo combustível do presente. E pelas graves consequências que vão sofrer motoristas e proprietários de veículos abastecidos com gasolina e diesel adulterados “de fábrica”.
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