Conheça 2 carros que mudaram a plataforma, mas mantiveram a carroceria
A Fiat lançou carros com plataformas novas porém usando peças de outros carros. E isso não é novidade na indústria
A Fiat lançou carros com plataformas novas porém usando peças de outros carros. E isso não é novidade na indústria
Os últimos lançamentos de carros novos da Fiat geraram discussões na internet: o fabricante diz que usa plataformas novas, porém algumas peças de estamparia como portas são compartilhados com modelos existentes. Primeiro foi com a nova geração da picape Strada, acusada de ser um Mobi, e agora com o SUV Pulse, que afirmam ser um Argo.
Em ambos lançamentos da fábrica italiana existem diferenças mecânicas e de projeto para os carros que os “especialistas” dizem que são derivados. Partes como portas e o para-brisa são compartilhados para facilitar na fabricação e podem até ajudar o consumidor caso precisem trocar as peças.
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Mas num passado recente, no início do século XXI, dois fabricantes diferentes fizeram grandes mudanças na plataforma de um modelo sem mexer em nada no desenho da carroceria. Uma foi a britânica Rover, que decidiu fazer uma versão de tração traseira do sedã 75; a outra foi a Ford reformulando todo o chassi do Crown Victoria sem alterar o estilo.
A Rover era uma montadora tradicional na Inglaterra, foi fundada em 1878 como fábrica de bicicletas e começou a fabricar carros em 1904. Nos anos 70, a Rover e outros fabricantes britânicos começaram a passar por dificuldades: as greves nas fábricas eram constantes e carros japoneses com mais qualidade invadiam o mercado.
Nos anos 90. a BMW comprou a Rover e investiu dinheiro para que a marca fizesse um sedã confortável e competitivo. O resultado foi o Rover 75, um sedã de tração dianteira feito para disputar com líderes de mercado como o Ford Mondeo, o Vauxhall Vectra e o Honda Accord.
O Rover 75 tinha estilo retrô inspirado no P5 dos anos 50. O interior abusava do acabamento em madeira e no couro em diferentes tonalidades, lembrando um Jaguar. O carro compartilhava arquitetura eletrônica com a BMW e utilizada uma suspensão traseira independente inspirada na usada pelo roadster Z3. Já os motores de quatro e seis cilindros eram de projeto da própria Rover.
Em 2000, a BMW decidiu vender a Rover e a Land Rover, ficando apenas com a Mini. A Ford comprou a Land Rover e um consórcio britânico arrematou a Rover junto da MG. Sob nova direção, a Rover criou uma perua para o 75 e fez da MG uma divisão esportiva.
Em 2003, a MG lançou uma versão com motor V8 e tração traseira do ZT, que era o carro equivalente ao Rover 75 na marca. Mas como fizeram isso em um carro originalmente feito com motor transversal e tração dianteira? Mudando toda a plataforma.
Por fora o MG ZT 260, nome completo da versão V8 do carro, era igual aos outros MG ZT com motores de quatro e seis cilindros, diferenciando apenas pelas quatro ponteiras de escapamento. Por baixo da carroceria, os engenheiros mudaram tudo para caber o motor V8 Ford 4.6, que produzia 260 cv.
Além do assoalho e do cofre do motor redesenhado, a engenharia da fábrica de Longbridge teve que desenhar suspensões, sistema de direção e escapamento exclusivos para o carro. Os britânicos brincam que foi gasto tanto dinheiro na engenharia desse carro que não sobrou para o desenho.
O desempenho e o comportamento do carro foram bastante elogiados pela imprensa especializada. O motor V8 de 260 cv não era tão potente quanto o do BMW 540i, mas compensava na simplicidade e robustez.
No Salão de Genebra de 2004, a Rover apresentou uma versão V8 do 75, equipado apenas com cambio automático e com uma pegada mais luxuosa. Também foram feitas peruas do MG ZT e do Rover 75 com motor V8.
Porém essas versões esportivas não foram o suficiente para salvar o grupo MG Rover de mais uma falência. Atolado em dívidas, o grupo fechou as portas oficialmente em 2005. No mesmo ano, a chinesa Nanjing comprou o que sobrou da Rover e criou a Roewe, que existe até hoje. O Rover 75 ganhou uma segunda vida na China, mas sem o motor V8.
Quando um carro passa a ser vendido principalmente para frotas, a estética passa a ficar em segundo plano. O Crown Victoria, sedã topo de linha da Ford nos EUA, acabou virando a única opção de carro para taxistas, policiais e frotistas quando perdeu seu concorrente Chevrolet Caprice.
O Crown Victoria é sucessor direto do nosso conhecido Galaxie e usa concepção similar: motor dianteiro, tração traseira, um chassi perimetral separado da carroceria e espaço para seis ocupantes. Esse nome Crown Victoria apareceu em 1980 como versão completa do LTD, que havia sido redesenhado para ficar menor e mais eficiente.
O topo de linha da Ford perdeu o prefixo LTD e virou apenas Crown Victoria quando ganhou estilo mais aerodinâmico em 1992. Para a linha 1998 o carro foi redesenhado com um estilo mais conservador, usando a carroceria do irmão Mercury Grand Marquis. Na mecânica o Crown Victoria ganhou apenas algumas atualizações na suspensão traseira e mais potência no motor V8.
Na linha 2003 a Ford atualizou a plataforma de seu sedã grande, mudando todo o chassi. As vigas do chassi passaram a ser hidroformadas e as travessas agora eram feitas de alumínio; a suspensão dianteira do tipo duplo A foi toda redesenhada e ganhou braços de alumínio; a suspensão traseira já havia sido atualizada em 1998 e mudou apenas a posição dos amortecedores para a parte externa do chassi; e a direção trocou o sistema de esferas recirculantes por pinhão e cremalheira, ficando mais direto.
Apesar de todas essas mudanças, a carroceria do Crown Victoria de 2003 era exatamente igual a dos anos anteriores. A única forma de diferenciar o carro com chassi novo é pelas rodas de offset positivo, que deixa o desenho delas plano. Nos modelos anteriores as rodas eram côncavas por causa do offset negativo. Por dentro a única mudança foi o desenho das maçanetas e o ganho de alguns opcionais como teto solar e vidros laminados.
Essas mudanças no chassi do Crown Victoria foram bem vindas, o comportamento dinâmico do carro ficou melhor e mais próximo de um sedã com monobloco. Já o motor V8 4.6 (o mesmo que a Rover utilizou), a transmissão automática de quatro marchas e a carroceria se mantiveram iguais para facilitar a vida dos frotistas na hora de cuidar do carro.
O Crown Victoria continuou em produção até 2011, sem mudanças no desenho. Nesse tempo mudaram apenas detalhes como volante, desenho de rodas equipamentos. E pela falta de concorrência esse carro dominou no mercado de táxis, viaturas e carros de aluguel.
A produção foi encerrada pois em 2012 o controle de estabilidade passaria a se tornar obrigatório em todos os carros vendidos nos EUA e a Ford não quis atualizar mais o carro. Um fim similar ao da Kombi e do Mille no Brasil.
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