Em 1973 a Ferrari lançou um modelo revolucionário que fazia homenagem à atriz francesa, mas de forma discreta para não ferir os dogmas do comendador Enzo
No universo do automobilismo, nomes e siglas costumam seguir uma lógica rigorosa de engenharia ou marketing. No entanto, a Ferrari 512 BB, um dos modelos mais emblemáticos da década de 1970, esconde por trás de suas letras uma história de admiração estética que rompe os muros da fábrica de Maranello e alcança o cinema francês.
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Embora o catálogo oficial registre que “BB” significa Berlinetta Boxer, o “segredo de polichinelo” mais charmoso da Itália confirma: o carro foi uma homenagem direta à beleza da atriz Brigitte Bardot, que também adotava a abreviação BB rotineiramente.

A história remonta ao desenvolvimento do protótipo no início dos anos 1970. Os designers da Pininfarina, liderados por Leonardo Fioravanti, ficaram tão encantados com as linhas fluidas, curvas e sensuais do novo projeto que, internamente, começaram a se referir ao carro apenas como “Brigitte Bardot”.
“Era impossível não notar a semelhança entre a harmonia das formas do carro e a silhueta da maior estrela da época”, relatam historiadores da marca.
Para a Ferrari, no entanto, batizar um supercarro com o nome de uma celebridade não condizia com a imagem sóbria de Enzo Ferrari na época. A solução foi um “ajuste criativo”: manter as iniciais BB e criar um significado técnico que as justificasse.
A escolha de Berlinetta Boxer para o nome oficial é curiosa por dois motivos muito distintos. A começar pela engenharia. Tecnicamente, o motor da 512 BB não é um “Boxer” legítimo (onde os pistões opostos se movem em direções contrárias simultaneamente), mas sim um V12 a 180 graus.
O segundo era a conveniência: o nome técnico serviu como a “capa” perfeita para manter a homenagem à atriz francesa viva entre os engenheiros, sem ferir os protocolos da empresa. Dessa forma, o carro foi apresentado no Salão de Turim de 1973 com o BB ocultando o verdadeiro sentido da sigla.

Lançada originalmente como 365 GT4 BB, em 1973, e posteriormente evoluída para a 512 BB em 1976, a máquina ostentava um motor de 5.0 capaz de levar o bólido a mais de 280 km/h. Mais do que números, ela representava uma mudança de era: foi o primeiro modelo de rua da Ferrari a adotar o motor central-traseiro de 12 cilindros, abandonando a configuração tradicional dianteira.
Desde 1947, a Ferrari sempre adotou números e letras para designar seus modelos. A combinação geralmente indica o tamanho do motor (em litros), assim como quantidade de cilindros e as letras geralmente designam a proposta do carro ou demais referências técnicas.
Por exemplo: a mitológica 250 GTO tem nos algarismos o volume de deslocamento de cada cilindro 0,25 litro que somados chegam aos 3.0 litros de seu V12. Já a sigla GTO se traduz em Gran Turismo Omologato, por se tratar de um GT feito para homologação de competição. Sua sucessora, 288 GTO tinha nos números a designação do motor 28 (2.855 cm³) e 8 (o número de cilindros). A sigla mantinha a mesma proposta.
Assim, nomes de pessoas não são comuns na Ferrari. O primeiro modelo a receber um nome foi a Dino 206 GT, de 1966. O nome é uma homenagem a Alfredo “Dino” Ferrari, filho falecido do comendador Enzo.

Apesar de Dino ser uma referência ao motor V6 da Ferrari, que equipou monopostos e protótipos, a alcunha ficou conhecida no primeiro modelo de motor central traseiro de uso urbano. E mesmo tendo sido rechaçada pelos puristas, por ter cilindros “a menos”, e até mesmo pela Ferrari, que não colocava seu emblema no carro, essa berlinetta foi responsável pela linhagem dos modelos V8 com motores posteriores que perdura até hoje.
Com exceção da 512 BB, que secretamente homenageava a musa francesa, a Ferrari só voltou a adotar um nome próprio em 2002, com uma honraria ao fundador da marca. A Ferrari Enzo era o supercarro que substituiria a F50. Tratava-se basicamente de um Fórmula 1 “vestido” de carro de passeio. Ela trazia soluções de engenharia e aerodinâmica das pistas para um carro de estrada, além de um poderoso V12 6.0 de 660 cv.

Dois anos depois a marca voltou a batizar seus carros com a 612 Scaglietti. O gran turismo 2+2 prestava honrarias ao designer Sergio Scaglietti que deu vida a modelos como a própria 250 GTO. Em 2015, a marca também homenageou o genial Sergio Pininfarina, com a Ferrari Sergio, com apenas seis unidades produzidas.
Ou seja, não é todo mundo que tem seu nome estampado numa Ferrari, mas a Brigitte conseguiu.
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