Fiat 147: o italiano que desbravou as terras brasileiras (parte 2)
Conheça a segunda parte da trajetória do hatch, entre a introdução do motor a álcool, em 1979, até o fim da produção, em 1986
Conheça a segunda parte da trajetória do hatch, entre a introdução do motor a álcool, em 1979, até o fim da produção, em 1986
Depois de uma robusta história desde o lançamento, em 1976, o Fiat 147 chegou ao ano de 1979 com uma grande novidade para a época: a estreia nacional da primeira versão unicamente movida a álcool. Na realidade, o carrinho foi o primeiro carro movido com o combustível de cana oferecido ao consumidor brasileiro, um pioneirismo que deu a ele um vantajoso ar de vanguarda tecnológica.
O novo Fiat 147 a álcool, apelidado carinhosamente de “cachacinha” devido ao cheiro do combustível queimado, era equipado com o motor 1.3 com taxa de compressão substancialmente aumentada, para aproveitar as características físico-químicas do etanol como combustível.
Boris Feldman já dirigiu um 147 a álcool que integra o acervo histórico da Fiat: assista ao vídeo!
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Apesar do natural aumento de potência quando o propulsor queima o combustível derivado da cana, esse 1.3 alcoolizado do Fiat teve as rédeas puxadas: inseguros sobre os efeitos que o álcool combustível poderia causar a longo prazo, os engenheiros optaram por restringir a potência em 60 cv, apesar do maior torque.
Para isso, foi adotado um carburador de corpo simples e curva de avanço mais contida. Os técnicos sabiam que a menor potência garantia mais durabilidade ao motor: por isso, adotaram tal solução para o então novo combustível. O carro foi vendido com relativo sucesso, principalmente aos órgãos governamentais, que queriam mostrar à população a eficiência do etanol nacional como combustível automotivo.
O ano de 1979 também foi importante para o carrinho da Fiat: nessa época, ele ganhou a primeira versão “luxuosa”, a GLS (Gran Luxo Super), primeira a oferecer diversos equipamentos de conforto e segurança em um carro popular.
Além disso, a nova versão também tinha certa vocação esportiva, já que trazia o mesmo motor 1.3 com carburador de corpo duplo e 72 cv de potência da Rallye, bem como o câmbio reescalonado com quatro marchas. Agora, a linha era composta pela versão Standard 1050 cm³, L (Luxo) 1050 cm³, GL (Gran Luxo) 1050 cm³, GLS (Gran Luxo Super) 1.3 e Rallye (sport) 1.3: uma gama bem completa.
Em 1980, o 147 já caía em definitivo no gosto do consumidor brasileiro. E, depois de quatro anos do lançamento no mercado nacional, o pequeno Fiat passou pela primeira e grande remodelação visual: a frente, agora alinhada à do 127 europeu (daí o apelido de “frente Europa”), ganhava novo conjunto óptico, grade e parachoques, mais moderno e harmônico. A traseira e o interior também passavam por modificações diversas, sempre se baseadas no carro vendido no velho continente.
Mas nem toda a linha seguia os mesmos passos, pois as versões Standard e Furgoneta mantinham o design de 1976, tanto interna quanto externamente, e só as superiores eram reestilizadas (L, GL, GLS e Rallye). Mecanicamente, não havia novidades: motor 1050 ou 1.3, transmissão manual de 4 marchas e os mesmos componentes nos sistemas de freios, direção e suspensões.
Comercialmente, no início dos anos 80, o Fiat 147 já começava a incomodar a concorrência, tanto que a Volkswagen, na época líder absoluta do mercado nacional, trabalhou de maneira apressada no lançamento do popular Gol, que ocorreu em 1980. Não por acaso, o modelo vinha com motor 1.3 a ar (desenvolvido pela Porsche).
Além disso, outros possíveis concorrentes também chegavam, a exemplo do Chevrolet Chevette Hatch, com motor 1.4. Tudo era estrategicamente calculado para bater de frente com o Fiat 147.
Não demorou muito para que ainda mais novidades estreassem no popular da Fiat. Em 1982, o grande calcanhar de Aquiles do 147 foi finalmente resolvido: a transmissão de quatro marchas era inteiramente reformulada, com novo seletor de marchas na tampa da caixa, novos anéis sincronizadores para as engrenagens, além de um novo trambulador, que garantiam trocas mais precisas e suaves.
A grande reclamação do consumidor parecia ter sido resolvida com tais mudanças mecânicas, provando que o pequeno carrinho italiano estava cada vez mais adequado ao gosto e às necessidades do brasileiro.
Mas as novidades não paravam por aí, já que toda a gama de versões era renomeada: a configuração Standard saía de cena, e agora a porta de entrada para o 147 passava a ser a C (Comfort, antiga L), seguida da CL (Comfort Luxo, antiga GL), Top (referência ao topo de linha, antiga GLS) e Racing (esportiva que substituía a Rallye). Eram menos opções para facilitar o processo de escolha e venda.
No mesmo momento, o Fiat 147 estreava tecnologias praticamente pioneiras no Brasil, como o sistema cut-off (que cortava o fornecimento de combustível assim que se tirava o pé do acelerador, proporcionando economia) e válvula Thermac (regulava o ar aspirado pelo motor e o misturava com ar quente do escapamento, para facilitar a mistura da combustão).
Definitivamente, a Fiat não perdia tempo e, no ano seguinte, 1983, já mexia novamente no 147. Agora era hora da estreia do Spazio (“espaço” em italiano), uma linha mais luxuosa do pequeno popular de origem europeia, que tinha elementos inéditos na frente, traseira e interior, já adiantando algumas das linhas que viriam posteriormente no Uno. Também eram característicos os acabamentos plásticos espalhados pela carroceria e as novas rodas com pequenas calotinhas centrais.
Com linha própria, o Spazio (que perdia o nome 147) tinha até versão esportiva, a TR (Touring Racing), que substituía o antigo Racing e inaugurava o novo câmbio de 5 marchas, aliado ao motor 1.3 de 72 cv. Nessa linha “premium” também estavam presentes novos componentes para aperfeiçoar freios, direção, suspensões etc.
Mas não se engane pensando que não existiam mais opções baratas do popular: o Fiat 147, agora sempre com a frente Europa, se mantinha em produção nas versões de entrada, com motor 1050 cm³ e câmbio de quatro marchas, como opção mais em conta ao Spazio.
Pena que essas novidades duraram pouco tempo, já que, em agosto de 1984, chegava ao mercado brasileiro o Fiat Uno, substituto direto do 147. Para não haver concorrência interna, a Fiat optou por “matar” a linha premium Spazio, abrindo espaço para as novas versões do Uno, enquanto a gama 147 se mantinha nas configurações básicas.
Em 1985, já como linha 86, a frente do Spazio se tornava padrão para toda a gama 147, composta por pouquíssimas versões e opções de acabamento. A modernidade e tecnologia superior do Uno já canibalizavam o velho 147, que já beirava seus 10 anos de lançamento.
Além disso, havia outro enorme problema: o consumidor brasileiro dessa época (meados dos anos 80) estava em crescente ascensão financeira. Ou seja, sempre que possível, optava por carros médios e mais luxuosos (vide o sucesso do Chevrolet Monza e do Volkswagen Santana), deixando de lado a escolha de modelos mais baratos ou pelados.
Já figurinha rara na rede de concessionárias Fiat nos últimos meses e quase sempre deixado de escanteio nos showrooms, o pequeno 147 saía de linha oficialmente em dezembro de 1986. O Uno, cada vez mais vendido e com sucesso garantido, tomava agora o lugar de popular da fabricante italiana de forma definitiva.
Ainda assim, durante os 10 anos que esteve em produção, o Fiat 147 marcou e inovou o mercado brasileiro, sendo mais do que justificáveis as quase 710 mil unidades produzidas na planta de Betim (MG) durante esse período. Um pequeno notável ítalo-brasileiro!
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Eu tive um Fiat Europa carburador simples fazia 12 km na cidade a gasolina na estrada batia 17 km carburado hoje tenho um Ford fiesta 2015 bem Chega perto disso.