Gasolina com 35% de etanol. E você no prejuízo

'Combustível do Futuro' foi aprovado pelo Congresso: plano é bom para o agronegócio, mas é ruim para o motorista

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Motorista irá sentir no bolso a nova mistura (Fotomontagem: Ernani Abrahão | AutoPapo)
Por Boris Feldman
Publicado em 14/09/2024 às 09h00
Atualizado em 16/09/2024 às 17h29

O “Combustível do Futuro”, já aprovado pelo Congresso, determina alterações na nossa matriz energética em defesa da “energia limpa e renovável”. Sob esta bandeira, aparentemente indiscutível, o Brasil vai queimar mais combustível verde, menos do fóssil. Na linha global da descarbonização do planeta e bom para o agronegócio, mas punindo os motoristas. Nas bombas, mais etanol na gasolina e mais biodiesel no diesel.

No caso do etanol, qual o problema de a mistura com a gasolina subir o percentual dos atuais 27% para 35%?

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No flex, o problema é só no bolso

Num carro flex, o motor vai continuar funcionando normalmente, pois foi projetado para receber qualquer proporção dos dois combustíveis: 100% gasolina ou 100% álcool. Ou a mistura dos dois em qualquer percentual: 50/50, 20/80 ou outra qualquer.

O carro tem um sensor que percebe qual combustível está vindo do tanque. No escapamento ou na linha de alimentação do motor. Esta informação é repassada à central eletrônica que o ajusta automaticamente.

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Carro flex: no mercado há mais de 20 anos, aceita etanol ou gasolina em qualquer proporção (Foto: Volkswagen | Divulgação)

Entretanto, o motor pode não protestar, mas seu bolso, sim. O etanol tem valor energético cerca de 33% inferior ao da gasolina. Então, o motor vai precisar de mais combustível para rodar a mesma quilometragem. Em outras palavras, aumenta o consumo.

Por isso é que só vale a pena abastecer o carro flex com etanol se ele custar cerca de 25 a 30% menos que a gasolina. O que se paga a menos pelo etanol compensa a menor quilometragem que se roda por litro.

Então, se a gasolina com 35% de etanol tem menor valor energético, ela necessariamente deveria custar menos por litro. Entretanto, das últimas vezes em que se aumentou este percentual, o governo se “esqueceu” de determinar uma redução no preço da gasolina para compensar o aumento de consumo. O resultado é que o motorista, no fim do mês, será novamente punido com uma conta maior no posto embora tenha rodado a mesma quilometragem.

Mas, e os carros que só podem ser abastecidos com gasolina?

Carro a gasolina vai sofrer com maior percentual

Ainda existem milhões de carros nacionais sem o sistema flex, lançado em 2003. E os importados. Aí, o buraco é mais embaixo pois, além do prejuízo monetário de se pagar por gasolina e levar mais de 1/3 de álcool, alguns motores podem “protestar”. Pois não foram projetados e incapazes de se ajustar como o flex. Alguns deles até poderiam apresentar um funcionamento satisfatório. Outros correm risco de perder desempenho e funcionar irregularmente.

Quando o governo decidiu aumentar o teor de etanol para 27%, o Centro de Pesquisas da Petrobras (Cepes) realizou testes com mistura de até 30%, sem problemas nos motores importados. Mas não realizaram, na época, testes com 35% de etanol.

Viabilidade: técnica ou política?

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Decisão pelo aumento de percentual não é técnica (Fotomontagem: Ernani Abrahão | AutoPapo)

O PL 528/2020 aprovado pela Congresso observa que as alterações serão implantadas depois de aprovada sua “viabilidade técnica”.  Sob responsabilidade de um Grupo de Trabalho do Conselho Nacional de Politica Energética (CNPE) do Ministério de Minas e Energia, que jamais negou qualquer elevação do teor de biocombustível, seja do etanol na gasolina, seja o biodiesel no diesel. A decisão não é técnica, mas política.

Quando elevou a mistura de etanol para 27%, o governo teve o bom senso de manter em 25% o teor da gasolina do tipo Premium, que abastece preferencialmente os automóveis importados. O problema agora é mais grave, ainda que o governo adote mesma política: dono de carro novo importado tem condições de pagar pela gasolina premium, bem mais cara que a normal. Mas, e quem não é abonado e tem um velho carro à gasolina?

O motorista brasileiro sempre sofreu com um combustível fora de todos os padrões internacionais. E nada indica uma mudança a médio ou longo prazo.

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17 Comentários
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José c pereira 18 de setembro de 2024

Tô lascado. Tenho uma c10 73. Já é um problema essa gasolina atual imagine com mais etanol. A Brasília 76 tá sofrendo mais.entao temos q acabar c os antigos.

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J K 18 de setembro de 2024

Tudo se faz para um favor, mas que resultado de interesses escusos, por vezes do crime organizado. Diz-se, por ex., que eles andam a comprar canaviais no interior de SP. As aeronaves para transporte da droga sao no geral monomotores, tem poucos bi-motores, fazem pouco barulho, alias, no geral produzido mais pela helice do que pelo escapamento. O alcance de voo pode ser de 500/600 km. E é assim que os canaviais se tornaram importantes para a atividade. Essas plantaçoes chegam facil a 5 km de extensao. Constroem-se ruas de circulação em meio ao plantation com algumas mais lisas. Aí estão as pistas clandestinas. O canavial “crescido” e soprado pelo vento emite um som da ramagem que abafa o barulho da aproximação da aeronave. Pronto! Lá se juntam condições para uma pista clandestina. Depois é trazer a mercadoria para o centro distribuidor por via terrestre.
Fiquei perplexo quando vi o governo trabalhando para aprovar isso. Pus-me a pensar se o nível de interferência do crime já alcança esse nivel de detalhe. Pode ser. Ao mesmo tempo, quanto mais se incentivar o uso da cana, mais desmatamento vamos causar, seja para a própria cultura ou para outras como trigo, soja, algodao, tipicos de uso do cerrado. Cada muda de cana plantada é um espaço desmatado em outro lugar. É o capitalismo sem risco que o crime adora. Plantar uma cultura com a garantia que o governo vai comprar toda a produção, como no caso em tela para entregar o líquido precioso à Petrobras para essa adicionar no seu combustível. Fica também anotado que uma boa parte dos Canaviais ainda fazem os incêndios controlados para preparação à Colheita de modo que se não polui quando queima o etanol já poluiu Antes quando queimou a palha da cana

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Carlos Alberto Ranieri 17 de setembro de 2024

Vamos nos libertar da máfia dos usineiros? … da máfia dos postos de combustível ? … CARRO ELÉTRICO ! … se tiver painéis fotovoltaicos em sua casa, fica perfeito …

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Carlos Alberto Ranieri 17 de setembro de 2024

… o combustível do futuro vai inviabilizar os carros do passado (carburador) …

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Marcos Bergamini 17 de setembro de 2024

Os políticos cagam e andam para o consumidor, eles tem carros do governo e não pagam o combustível, então pode misturar quanto quiser que para eles não faz diferença.

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Diego 16 de setembro de 2024

Na verdade só uso etanol porque aqui em SP compensa.
Porém se fosse mais barato… Quase metade do valor é da máfia dos usineiro e quase a outra metade é da máfia do estado. Aí fica difícil.

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luiz fernando barros lima 16 de setembro de 2024

Bom dia, esse Etanol é a maior nojeira que existe no mercado, só existe porque o Governo fica a vida inteira sustentando esses usineiros em detrimento da população, como sempre no Brasil tudo que é feito é feito para beneficiar uma minoria que já é beneficiada a vida inteira, eu só uso essa nojeira desse Etanol pq ele vem misturado na gasolina porque se dependesse de mim eu não colocaria essa porcaria no meu carro nem de graça.

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Stefano 16 de setembro de 2024

Nossa, por que esse odio todo do etanol? Meu carro funciona melhor com ele do que com gasolina… claro que aumentar a quantidade dele na gasolina sem abaixar o valor dela é sacanagem, mas esse ódio todo não tem nenhum sentido kkkk

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Santiago 16 de setembro de 2024

O etanol em si é uma excelente alternativa. As questões em aberto são o planejamento e a administração desse recurso.
Tecnicamente ele tem grande potencial pra se tornar ainda mais eficiente, porém isso depende de investimentos e coordenação em estudos e pesquisas.
Na área administrativa o desafio é garantir as plenas produção e distribuição, blindadas contra oscilações causadas por interesses econômicos setoriais.
No mais é um valioso e estrategico recurso, que devemos saber mante-lo e aperfeiçoá-lo constantemente.

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J K 18 de setembro de 2024

Nem tanto assim. Voce sabia que considerando a area s agrícolas plantadas, 35% está plantada com cana.
Tivéssemos terras para plantar disponível a comida que vai à mesa seria mais barata.

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Leandro 16 de setembro de 2024

O que fico pensando é como ficam os donos de carros mais antigos, onde o carro funciona apenas com gasolina…

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Charles 16 de setembro de 2024

Complicado, tenho duas motos pequenas, veículos simples sendo uma ano 2006 carburada e outra 2022 injeção. Nenhuma das duas é flex. O alcool além de consumir muito mais, vai gerar um desgaste que elas não foram planejadas pra sofrer. O governo botando no c* de todo mundo sem deixar alternativas a essa gasolina que é parte alcool, parte água.

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Edivroipe Matins 1 de outubro de 2024

O governo tá botando no seu ‘C”, no meu “C” não, pq não tenho moto e carro a gasolina. Meu carro é Flex. Tô nem aí.

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Fábio 16 de setembro de 2024

A bandeira da energia limpa e renovável não é aparentemente inquestionável, é de fato inquestionável, caso contrário não se veriam tantos pares no mundo caminhando para o mesmo sentido.

Uma transição energética não virá sem custos, não à toa foi adiada ao máximo. Claro que ainda haverão carros exclusivamente à gasolina, mas os carros flex estão aí desde 2003 e com fatias cada vez maiores de venda. A transição já está ocorrendo a muito tempo.

Claro que etanol atualmente é economicamente menos vantajoso, mas isso pode mudar com tecnologia na sua produção e nos carros e por medidas políticas.

Nem acho bom argumento a oscilação do preço do açúcar como algo que pese especialmente em desfavor. Assim como todo produto primário, tal como o petróleo, ele está sujeito as oscilações internacionais de preço e câmbio.

Acredito sinceramente que estamos caminhando dentro das possibilidades atuais, sempre alguns vão sair perdendo e outros ganhando, mas todos ganharão com um meio ambiente mais equilibrado. O que não dá é para continuar estacionado na gasolina sob n razões e ignorar as mudanças globais, o debate tem que ser como tornar isso cada vez mais viável e cobrar atuação nesse sentido. Caminhar pra frente.

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Roberto Vasconcelos 15 de setembro de 2024

Tudo no Brasil o CONSUMIDOR é sacrificado em detreminento de uma minoria, nada é feito pensando na qualidade de vida do brasileiro, mas somente de alguns grupos econômicos que esquecem que somente os consumidores que geram emprego e renda, já que sem consumo não existirá empresas. Acho que todos os motoristas deveria para o Brasil após a liberação dessa porqueira que estão querendo empurrar de goela a baixo ao povo brasileiro. É muita sacanagem mesmo!😤🤬🤑

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WUENDEL CERUTTI DA SILVA 15 de setembro de 2024

e se o açucar aumentar de preço no mercado internacional como aconteceu no final dos anos 80 ? as usinas vão garantir o abastecimento de alcool ?

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Santiago 14 de setembro de 2024

Temos petróleo e biocombustíveis, e temos tecnologia pra desenvolvermos combustíveis cada vez mais limpos e mais eficientes.
Não precisamos de gambiarras desse tipo.
Com mais etanol na gasolina: Perde quem não pode comprar um automovel mais novo (que já tenha o recurso flex), e perde também quem pode (no caso dos importados).
E com mais biodiesel “batizando” o nosso diesel: Perde o transporte público de passageiros (e quem dele depende, e também quem o opera), e perde também o transporte de cargas (juntamente com os caminhoneiros autônomos e os frotistas).
E com tantos prejuízos e atrasos pra todos: Perde a economia:nacional, junto com muitos serviços essenciais (e perde o País todo).
É muita gente perdendo, pra que tão poucos lucrem ainda mais do que já lucram!

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