Habib: carro elétrico é profundamente disruptivo

A eletrificação é caminho sem volta, mesmo no Brasil que tem o etanol como excepcional alternativa energética

jac iev40 6
Por Boris Feldman
Publicado em 29/06/2019 às 09h00

Sérgio Habib ousa novamente. Empresário brilhante, acreditou na Citroën e foi seu primeiro importador, mesmo com o imposto de 85%. Assumiu depois a JAC: além de montar uma rede de 50 concessionários, tentou fabricar os chineses na Bahia, mas foi nocauteado por Dilma Rousseff e seus 30 pontos adicionais no IPI para “proteger” a indústria nacional.

Anuncia agora o desembarque de cinco carros elétricos da JAC. Louco ou sábio? A Volkswagen aposta na segunda opção, pois ela também fez parceria na China com a JAC, para desenvolver elétricos. Habib não atirou no escuro: analisou cuidadosamente a eletrificação veicular antes de decidir importá-los.

Algumas de suas conclusões:

  • Cliente de carro elétrico não volta ao “térmico” (como ele chama os automóveis convencionais, com motor a combustão);
  • Ainda é complicado viajar com o elétrico, mas a maioria que o compra tem outros carros na garage para viagens mais longas;
  • Não há fidelização quando o cliente opta pelo elétrico: 88% mudam de marca ao adquirí-lo;
  • Elétrico necessita de 8.000 componentes na linha de montagem, enquanto o “térmico” usa 15 mil e o híbrido chega a 17.500;
  • É caro devido ao elevado preço das baterias. Mas, a cada ano, seu custo se reduz cerca de 12%  e ganham 6% de densidade energética. Em cinco anos, ganharam 25% de peso mas passaram a oferecer 50% mais de autonomia. Várias fábricas oferecem, no mesmo modelo, a opção de autonomia (e custo) mais conveniente às necessidades do cliente;
  • A legislação de emissões vai tornar obrigatória a presença do carro elétrico em todas as marcas;
  • A polícia de Nova Iorque roda com três elétricos, Chevrolet Bolt, Nissan Leaf e Ford Focus. Seu preço mais elevado é largamente compensado pelo custo de manutenção: U$ 250 por ano, contra U$ 1.500 dos “térmicos”. Além disso, o elétrico fica – em média – um dia parado por ano, contra 16 dias do térmico.
  • Fábricas tradicionais começam a se preocupar, pois a venda de peças de reposição paga suas despesas. E o elétrico reduz significativamente este faturamento.

Em resumo, diz Habib, o carro elétrico representa uma profunda disrupção com significativa redução de custos na linha de montagem, na manutenção e no dia-a-dia do motorista.

“Basta lembrar – diz ele – que o elétrico dispensa escapamento, catalisador, correias, filtros, óleos, fluidos, velas e outras peças”.

E, pelos problemas ambientais, está ganhando terreno no mundo, incentivado principalmente pelos países mais dependentes da importação de petróleo. Na Noruega, já representam mais de 50% das vendas, pois são isentos de impostos.

A China vende metade dos elétricos no mundo e são inúmeras as vantagens oferecidas aos seus usuários. Em Paris, diversos estacionamentos reservam vagas exclusivas, com carregadores.

Habib estima a venda de 5.000 elétricos no Brasil em 2020. E quer uma fatia deste bolo para a JAC. Se o SUV virou queridinho do mercado, ele começa trazendo três deles, o iEV20, iEV40 e iEV60 além uma picape praticamente sem concorrente no mundo.

E já iniciou as pré-vendas, por R$ 260 mil, do único caminhão elétrico no mercado, o JAC iET1200. Peso bruto de 5,8 toneladas, motor de 177 cv e um torque gigantesco de 122, 37 kgfm. Autonomia de 200 km. Recarga completa  (220 V) em 17 horas. Carregador trifásico (380 V) reduz o tempo para duas horas.

carro elétrico: o caminhão JAC iev 1200 t
iEV1200

O etanol deverá se tornar excelente solução alternativa para o Brasil: nos híbridos flex, em motores projetados para ele, ou como combustível para acionar motores elétricos, pois é possível retirar o H2 do álcool e usá-lo para alimentar a fuel-cell.

Entretanto, qualquer matriz energética adotada num país que mantenha o motor a combustão terá necessariamente um minimo de 20% do mercado de elétricos, em função das exigências de emissões.

Esta foram conclusões otimistas do Sérgio Habib? Não! De outros executivos e analistas da nossa industria automobilística.

Fotos JAC | Divulgação

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8 Comentários
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melojota01 5 de setembro de 2019

Veículos elétricos são bem vistos e aceitáveis pela sociedade em geral. Empresas/grupos que sabem trabalhar e que tenham lideres dispostos a aceitar mudanças e que sejam “menos estrelas” e mais humildes, vão avançar… Grupo SHC e Sergio Habib não tem esse perfil. A mudança começa debaixo. Trabalhei 3 anos no grupo e assisti de perto os dois lados da moeda. Hoje nós vemos que a mesma água que sai do bebedouro mata a mesma sede da Perrier…

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Silvio 3 de julho de 2019

Seria possível a reportagem explicar como foi o nocaute dado por Dilma Rousseff à JAC? Pelo que me lembro eles tiveram incentivos aqui na Bahia, simularam o início da construção de uma fábrica para poder se enquadra nas leis de impostos e depois não continuaram o projeto.

AutoPapo
AutoPapo 4 de julho de 2019

Olá, Silvio

Sergio Habib tinha planejado um grande volume de importações dos modelos JAC antes de fabricá-los.
Que estava correndo bem. Com a medida da Dilma, o projeto desmoronou. E também de outras marcas:
A Kia vendeu 80 mil carros em 2012, e menos de 10 mil em 2013!

Obrigado e abraço

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Moises 1 de julho de 2019

Eu fiquei bem empolgado quando a JAC anunciou que o iEV40 seria o carro elétrico mais barato do pais, com preço abaixo da faixa dos R$ 140.000,00, MAS, pouco tempo depois esse valor inicial subiu substancialmente, esbarrando nos preços dos concorrentes.
Tenho interesse em trocar para um carro elétrico, mas somente quando os preços baixarem a um preço com custo/benefício pelo menos razoável.

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Mario Duque 1 de julho de 2019

Concordo plenamente sr. Rafael.

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Fabio 29 de junho de 2019

A Ford diz que vai desenvolver produtos específicos pra América do Sul. Pra que? Se for desenvolver produto específico pra cá, fica mais caro do que pegar o que já está pronto. Não precisa nem produzir aqui. É tropicalizar: trocar peças de amortecimento, que suportem andar nas crateras lunares de São Paulo ou nas montanhas (quebra molas), trabalhar com combustível ruim, botar no navio e trazer. Se fossem espertos mesmo, passariam o mkt para a sua principal concessionária.

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Ramon Guimarães 29 de junho de 2019

Carro elétrico é um carro ‘a carvão’.
Matriz elétrica dos países que mais usam elétricos (citados) produzem energia através de recurso fóssil.

Combustível do futuro é desde 1970 o álcool.

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Rafael 29 de junho de 2019

Sim, uma vez que houver muitas pessoas recarregando seus carros elétricos nos horários de pico vcs verão a “disrupção” que será a rede elétrica.

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