[Avaliação] Honda Fit EXL é excessivamente pragmático
Monovolume é adepto do futebol pragmático do ex-técnico Muricy Ramalho: joga "feio" e ganha de 1 a 0. Mas ganha!
Monovolume é adepto do futebol pragmático do ex-técnico Muricy Ramalho: joga "feio" e ganha de 1 a 0. Mas ganha!
O Honda Fit EXL é espaçoso, discreto e dotado de conjunto mecânico mediano. É tudo que um carro familiar de uso em ciclos urbano e rodoviário deveria ser. Contudo, por não ser considerado (ou chamado de) SUV não impressiona muita gente que anseia por um veículo cheio de predicados.
A Honda, esperta, fez uns ajustes finos no Fit, colocou umas plumas e paetês e voilá. Lançou o WR-V, intitulado utilitário esportivo, nomenclatura muito mais romântica que monovolume. A palavra sequer soa bem. Leia, em voz alta, pausadamente:
Mo-no-vo-lu-me
Seguindo no jogo de palavras fomos ao dicionário e encontramos uma definição que se aplica ao Fit:
Pragmatismo. [Do ingl. pragmatism] S. m. Filos. 1. Doutrina de Charles Sanders Peirce, filósofo americano, cuja tese fundamental é que a ideia que temos de um objeto qualquer nada mais é senão a soma das ideias de todos os efeitos imagináveis atribuídos por nós a esse objeto, que possam ter um efeito prático qualquer; pragmaticismo.
A supracitada definição está na décima-primeira impressão da primeira edição do Novo Dicionário Aurélio. Um Dicionário Aurélio empoeirado, que estava na biblioteca dos meus pais. Charles Sanders Peirce morreu em 1914.
Assuntinho chato, não é? Sem graça, não é? Assim como o design do Fit. O visual é extremamente racional. Tão racional que, na linha 2018, o veículo teve a largura do para-choques traseiro aumentada. Uma correção. Tal foi feito para evitar os constantes choques na tampa do porta-malas. Dessa forma, com uma protuberância, o condutor se preocupa muito menos com os usuais “beijinhos”. Se suas linhas não são um primor de beleza, pelo menos não são discordantes.
A grade dianteira tem novo desenho e os faróis são totalmente em LED. Mesmo assim, a identidade do veículo foi mantida. A harmonia e a discrição são tão nipônicas que agradariam até mesmo os olhos de Akihito, Imperador do Japão, que ascendeu ao trono no fim da década de 1980.
As maiores mudanças do Honda Fit, contudo, não se deram no design. O monovolume ganhou controle de tração e assistente de partida em rampa, cortesias do pacote de assistência à direção. As lanternas alertam ao condutor do veículo de trás quando uma frenagem emergencial é realizada. O monovolume também “recebeu” luzes diurnas e ar-condicionado digital. Para completar, na versão testada, a EXL, o Honda Fit conta com airbags laterais e de cortina. Charles Sanders Peirce apontaria: é seguro, como um carro deve ser.
Outra novidade do Honda Fit, presenta na versão EXL, é o sistema de infotenimento. A tela de 7” tem boa definição, conectividade com Android Auto e Apple CarPlay e navegação integrada. Comandos se fazem presentes no volante. Todos à mão. Mesmo. O condutor não tem dificuldades para trabalhar com a central multimídia. É bom, claro, frisar que a ergonomia é um trunfo.
A coluna de direção tem ajuste de altura e profundidade, o volante tem excepcional pega, aletas agora estão disponíveis para trocas manuais e o banco do motorista conta com regulagem de altura. Pessoas acima de 1,80 m terão um pouco de dificuldade apenas por conta do assento pequeno, mas nada que não deixe um pragmatista boquiaberto. Carros têm de ter boa ergonomia, correto? O Honda Fit, ao menos, tem.
Quanto ao conjunto mecânico, foi acertada a decisão da fabricante de seguir a mesma receita. A unidade testada vem equipada com motor 1.5, que gera 116 cv de potência a 6.000 rpm e 15,3 kgfm de torque a 4.800 quando abastecido com etanol, e transmissão automática do tipo CVT.
O conjunto garante desempenho comedido, sem sobras. Quando exigido, com uma pisada mais vigorosa no acelerador, há certa demora na resposta. Além disso, o berro invade o habitáculo mesmo com o bom isolamento acústico. Agruras do câmbio CVT.
A suspensão, como de praxe, é bastante firme. Também pudera: o monovolume é alto. Apesar de transferir as imperfeições do solo, não chega a passar desconforto aos ocupantes. Nas curvas a carroceria não tem muita rolagem e dá para o condutor entrar mais forte sem ter de passar apertos. Caso queira um pouco mais de “emoção”, o motorista pode acionar o modo esportivo. Tal eleva as rotações do motor, garantindo melhor comportamento nas retomadas.
Ah! A Honda disse que a caixa de direção passou a ter respostas mais rápidas. No entanto, há de se ter uma sensibilidade absurda para notar a diferença ante ao predecessor. Contudo, é notória a capacidade acima da média do monovolume nas manobras e a progressividade da direção foi feita sob medida.
O Honda Fit tem uma grande sacada que jamais deve ser mudada. Apenas aperfeiçoada. O sistema modular dos bancos é o grande trunfo do monovolume. O encosto é rebatido a fim de formar única plataforma e fazer com que o veículo transporte mais “cositas”. Só que o modelo não é um furgão, OK?
É bom atentar para a capacidade de carga útil. A versão testada leva apenas 344 kg. Mas a modularidade é bem pragmática. É eficaz e ajuda bastante. A peça de plástico da tampa do porta-malas e sua abertura são incômodas, mas ao menos “forçam” o proprietário a ler o manual do veículo e, por conseguinte, dar uma boa fuçada no automóvel.
O Honda Fit EXL é um automóvel pragmático. O monovolume é dotado de inúmeros predicados e seus problemas não causam constantes dores de cabeça ao proprietário. É seguro, confiável, tem mecânica eficiente, é espaçoso, equipado e seu sistema modular é um ás na manga. É uma compra racional.
No entanto, a versão testada tem preço sugerido de R$ 80,9 mil e sofre de um defeito crônico: não é um SUV. É um monovolume. Monovolumes não têm sex appeal suficiente para conquistar novos fãs. SUVs têm. Se você gosta de futebol, podemos também definir o nipônico da seguinte maneira:
Ficha técnica | Honda Fit EXL |
---|---|
Motor | Quatro cilindros em linha, bicombustível, 1.497 cm³ de cilindrada |
Potência | 116 cv de potência quando abastecido com etanol e 115 cv (gasolina) a 6.000 rpm |
Torque | 15,3 kgfm (e) e 15,2 kgfm (g) a 4.800 |
Transmissão | automática do tipo CVT; tração dianteira |
Direção | assistida eletricamente, do tipo pinhão e cremalheira |
Freios | disco ventilados na dianteira e a tambor na traseira |
Suspensão | McPherson na dianteira e barra de torção na traseira |
Peso | 1.148 kg/ 1.176 kg |
Carga útil | 372 kg/ 344 kg |
Tanque de combustível | 45, 3 litros |
Dimensões | 4,09 m de comprimento, 1,69 m de largura, 1,52 m de altura e 2,53 m de entre-eixos |
Consumo | 8,3 km/l (e) e 12,3 km/l (g) na cidade; 9,9 km/l (e) e 14,1 km/l (g) em ciclo rodoviário |
👍 Curtiu? Apoie nosso trabalho seguindo nossas redes sociais e tenha acesso a conteúdos exclusivos. Não esqueça de comentar e compartilhar.
TikTok | YouTube | X |
Ah, e se você é fã dos áudios do Boris, acompanhe o AutoPapo no YouTube Podcasts:
Podcast - Ouviu na Rádio | AutoPapo Podcast |