Cidades brasileiras dificultam mobilidade para idosos
Pessoas acima dos 60 anos enfrentam inúmeras dificuldades de mobilidade; municípios demoram para resolver problemas
Pessoas acima dos 60 anos enfrentam inúmeras dificuldades de mobilidade; municípios demoram para resolver problemas
Em 2007, o Brasil tinha 17,4 milhões de pessoas acima dos 60 anos. Em 2027 terá, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 37,9 milhões. Mais que o dobro. No entanto, políticas específicas com objetivo de melhorar a mobilidade daqueles que se enquadram nessa faixa etária não são colocadas em prática. Tampouco discutidas.
O resultado da falta de compromisso com a mobilidade urbana é sentido na pele. No mês passado, o Movimento Paulista de Segurança no Trânsito apresentou números alarmantes. No estado de São Paulo, um em cada três acidentes de trânsito envolvendo pedestres era com pessoas acima dos 60 anos. Neste ano, segundo o Departamento Estadual de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), 26,5% dos indivíduos mortos no distrito por atropelamentos eram idosos.
O cenário, contudo, não se restringe aos grandes centros. A cidade com o segundo maior índice de atropelamentos de cidadãos acima dos 60 anos é Juiz de Fora, no interior de Minas Gerais. De acordo com dados do Ministério da Saúde, 103 pessoas nessa faixa etária deram entrada em hospitais habilitados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) neste ano.
O diretor do Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUC-RS, professor Newton Terra, explica que o Brasil não é pensado para os idosos.
“O país envelheceu rápido. Precisamos de políticas públicas que atendam essa população crescente. Políticas que saiam da lei e cheguem às ruas”, afirma Terra.
A população com idade superior a 60 anos tem especificidades. Com o passar dos anos, a massa muscular diminui, as cartilagens se desgastam, o reflexo fica mais lento e isso dificulta a marcha e o equilíbrio. Aí a carência de pisos regulares, sem raízes expostas e diferenças de altura se torna um grande problema. O transporte público também precisa ser reformulado. Os funcionários das concessionárias devem ser treinados e os pontos de ônibus adaptados. Até os sinais de pedestres precisam ser programados para que todos os indivíduos consigam atravessar tranquilamente.
Para o professor, só há um jeito do país garantir um futuro decente: consultar profissionais especializados e começar as obras. Existem, hoje, especialistas em Gerontoarquitetura que dominam as necessidades e os meios para formular normas e políticas públicas funcionais.
A Lei da Acessibilidade está em vigor desde 2000 no Brasil, mas a autonomia para cidadãos com mobilidade reduzida não é real. Até as intervenções mais básicas, como calçadas largas, regulares e com piso antiderrapante, ônibus no mesmo nível dos passeios e corrimãos em locais públicos são raridades. Mais recente, de 2012, a Política Nacional de Mobilidade Urbana estipulava, entre outras coisas, que 1.700 municípios com mais de 20 mil habitantes deveriam entregar planos de mobilidade num prazo de três anos. No entanto, em 2016, quando apenas 500 prefeituras cumpriram o prazo, uma nova lei foi sancionada (lei 13.406/2016) e a data limite postergada para abril de 2018.
Em setembro de 2015, o Brasil se comprometeu – em um plano de ação da Organização das Nações Unidas (ONU) – a tornar os centros urbanos mais inclusivos, seguros e sustentáveis até 2030. Foram descritas 169 metas, muitas delas ligadas à mobilidade urbana. Desafio enorme. A ONU tem como objetivo reduzir a incidência de acidentes pela metade até 2020. No entanto, o número de óbitos no nosso país aumentou de 19 para 23,4 por 100 mil habitantes de 2009 a 2016. A média mundial, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é de 18 mortes a cada 100 mil habitantes.
No ranking mundial de mortes no trânsito, em números absolutos, o Brasil figura em uma nada honrosa quarta posição. Atrás apenas de China, Índia e Nigéria.
Financiamentos nacionais foram criados para auxiliar algumas cidades no processo de modernização dos corredores urbanos. Entre eles estão o Programa de Infraestrutura de Transporte e da Mobilidade Urbana (Pró-Transporte) e o Avançar Cidades Mobilidade. Esse último prevendo R$ 3,7 bilhões.
Mas, mesmo com os incentivos, até o dia 17 de agosto deste ano, apenas 142 municípios dos 1,6 mil contemplados no plano de mobilidade do Ministério das Cidades tinham entregado uma proposta para concorrer ao empréstimo do Pró-Transporte, lançado no dia 12 de julho.
O Programa de Investigação e Inovação da União Europeia financiou, por meio do Horizonte 2020, o prêmio Horizonte em Inovação Social. Com o objetivo de investir na mobilidade para os idosos, o concurso vai distribuir 2 milhões de euros (R$ 7,640 milhões, em conversão direta) em 2019.
Carlos Moedas, comissário europeu para a Investigação, Inovação e Ciência, justifica: “não temos alternativas senão inovar agora para atender às crescentes necessidades dos cidadãos mais velhos, especialmente à necessidade de melhor mobilidade”.
Em 2060, cerca de um terço da população europeia terá mais de 65 anos, quase o dobro do número atual.
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