O namorado nervoso que quase fez da Romi Isetta uma prisão
Walter foi dar um susto na namorada e quase provocou uma tragédia com a sua Romi Isetta ao entrar nos trilhos do bonde
Walter foi dar um susto na namorada e quase provocou uma tragédia com a sua Romi Isetta ao entrar nos trilhos do bonde
Esse “causo” pitoresco aconteceu no fim dos anos 50. Os protagonistas da época foram uma Romi Isetta de 1958 com um teto solar flexível, meu saudoso amigo Walter Arruda e sua jovem namorada da época. A Romi Isetta, para quem não conhece, é considerada por alguns como o primeiro carro brasileiro de produção em série: sua linha de montagem começou a funcionar em 1956. E o carrinho esquisito possuía mais de 70% de componentes nacionais na sua fabricação. Projeto original da ISO Italiana, Isetta era literalmente o diminutivo do nome da marca.
Em formato de ovo, o pequeno carro de 2,28 m levava apenas duas pessoas e o acesso ao interior – isso era o mais esquisito – era feito por uma única porta na dianteira que, quando aberta, trazia junto o volante e a coluna de direção. Algo bem esquisito, mesmo nos dias atuais. As rodas traseiras, que eram as motrizes, tinham uma bitola de pouco mais de 50 cm e para isso há uma explicação: como utilizava um câmbio de moto de quatro marchas e não possuía diferencial, o projetista colocou as duas rodas traseiras bem próximas uma da outra para que não houvesse muito arrasto de pneus nas curvas. O motor de dois tempos tinha pouco menos de 250 cm³ e produzia singelos 9,5 cv. Apesar da potência modesta, como o carrinho era leve, ele conseguia atingir até 85 km/h de velocidade máxima. Desempenho razoável para um veiculo com suas limitações.
Apesar do projeto italiano, a Romi, uma respeitada indústria produtora de máquinas operatrizes aqui do Brasil, resolveu produzir a versão brasileira da Isetta no mercado nacional. A produção foi iniciada em setembro de 1956 e prosseguiu até meados de 1961, quando foi interrompida pela falta de competitividade do modelo frente ao Fusca, Renault Dauphine e DKW. Mas esse fato não impediu que a Romi Isetta se transformasse na coqueluche da segunda metade dos anos 50, principalmente junto ao público jovem, que adotou o carrinho como o veículo da moda.
Walter Arruda, que na época já se destacava como jovem talento do início da TV brasileira, tinha uma Romi Isetta, na versão mais descolada que tinha até mesmo um teto solar desses flexíveis que permitia uma belíssima iluminação do pequeno interior do carrinho. Um charme!
Em um bonito dia ensolarado, Walter passeava pela avenida São João, no centro de São Paulo, com sua charmosa Romi Isetta e a namorada. Coisas de namorados, começaram a discutir por uma besteira qualquer. Nada importante. Mas a briguinha transformou-se em um bate-boca. E foi se acalorando. Walter de pavio curto e passional, se irritou em demasia com algumas palavras ásperas da namorada que não parava de falar. Essa foi a gota d’água!
Transtornado, meu saudoso amigo resolveu dar um susto em sua namorada. Para isso, desviou a pequena Romi Isetta para os trilhos do bonde e foi dirigindo na direção de um que vinha em sentido contrário. O plano, segundo ele me contou na época, era o de desviar do bonde quando chegasse próximo e, dessa forma, calar a boca da tagarela namorada que não parava de falar. Ele se dirigia ao bonde, que vinha em sentido contrario, sem perceber que as rodas dianteiras de seu pequeno carrinho tinha se encaixado nos trilhos do bonde.
Quando ele quis desviar do bonde, quem disse que a Romi Isetta saia dos trilhos? Por mais força que o nosso amigo fizesse no volante, o carrinho insistia em ficar nos trilhos, como se fosse o bonde. Na iminência de um choque frontal, acionou os freios com vigor e o motorneiro do bonde, quando percebeu a proximidade do desastre, também acionou com vigor os freios do coletivo.
Apesar dos esforços, a batida foi inevitável. Leve, mas ocorreu. Passado o susto inicial, constatou-se que ninguém estava ferido, nem Walter nem tampouco sua namorada tagarela. A partir daí, criou-se um problema: como retirar as vítimas do acidente da pequena Romi Isetta? Afinal de contas, a porta da Romi Isetta é na frente, justamente a região mais afetada na batida. Os populares, sem saber se haviam feridos graves, se esforçavam em socorrer as vitimas. Mas como retirá-las daquela prisão que transformou-se a Romi Isetta?
Por sorte, o carrinho do Walter possuía aquele charmoso teto solar. E ele, foi a salvação da lavoura: ele foi aberto por Walter a partir do interior. A partir daí, Walter, assim como a namorada tagarela, ficaram em pé sobre o banco e os populares os puxaram do interior. Pelo menos, segundo Walter me contou, a namorada parou de falar. Ficou muda do susto que tomou. E ele não conseguia explicar aos populares e depois a policia, porque trafegava na contramão no trilho do bonde. Um fiasco!
Por sorte, ninguém se feriu e o episodio limitou-se aos danos materiais. No bonde, absolutamente nada, apenas alguns arranhões. Na minúscula e indefesa Romi Isetta? A porta dianteira deformada e o para brisas quebrado. Tudo fruto de uma pequena briguinha de namorados. Acho que a lição serviu para os dois, tanto para o terrorista Walter quanto para a tagarela namorada.
Com o trânsito não se brinca!
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Eu sou apaixonada por este modelo de carro a Romi isseta kk