Sem rumo ou rota

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Por Roberto Nasser
Publicado em 08/12/2017 às 16h07
Atualizado em 12/03/2018 às 22h53
Roberto Nasser colunista rota 2030

Desde o início do ano, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) promove reuniões com segmentos ligados à indústria automobilística e de auto peças para criar novo regulamento ao setor, o Rota 2030. Sete grupos de trabalho entre indústrias e um do governo (o próprio MDIC).

O horizonte plotado era ter a matéria sancionada pelo presidente da República até o final de novembro, com vigor ao início de 2018. Para isso, até o titular do Ministério e os interessados foram ao Planalto fazer junto ao Presidente. Advogado, político, ouviu, deu o maior apoio – mas isto apenas dar-se-á se a norma for consensual.

O Rota 2030 deve substituir o Inovar-Auto. Dito Inovar, fez o país perder anos em competitividade ao implementar um aumento de 30 pontos percentuais sobre o IPI dos veículos importados para evitar a concorrência com os nacionais. A soma do imposto de importação de 35%  – número de redução prevista há 25 anos, desde a abertura das importações – com a imposição artificial dos 30%, eleva os preços dos importados. Com isso não instiga a concorrência, a melhora nos veículos brasileiros e nem a competitividade do país.

O projeto do Inovar, uma das pérolas da gestão do processado Fernando Pimentel, era tratado como Lei “anti-Habib”, referindo-se ao estardalhaço feito pelo empresário Sérgio Habib ao importar o chinês JAC e vendê-lo, equipado, pagando impostos, a preço inferior aos nacionais pelados.

A situação incentivou a instalação de montadoras por BMW/Mini, Jaguar Land Rover, Audi e Mercedes. Em todas pratica-se – ou comete-se – processo absolutamente simples: a importação dos veículos em grupos de peças para a montagem no Brasil. Em alguns, o processo repele a nacionalização, trazendo alguns modelos com a carroceria pintada. .

Há curiosidades no processo, como considerar nacionalização todos os gastos da empresa para calcular tal índice. Além dos usuais, conta-se, por exemplo, o valor da conta de luz e de água. Num exemplo risível, mas aritmeticamente correto, se necessário aumentar o índice de nacionalização, basta deixar as luzes acesas 24 horas por dia e/ou determinar ao cozinheiro promover um desarranjo digestivo geral, para inflar a conta d’água…

Para manter a barreira protecionista – e incentivar a não desenvolver produtividade – os industriais do automóvel sugeriram fórmula pouco criativa: imposição de imposto de 10 ou 15% sobre os importados. Na prática, criar um aumento para permitir redução a cada ganho obtido sobre eficiência energética; segurança veicular; investimentos em pesquisa; inovação e produção no país.

A dificuldade maior para aprovar a redação final está em fato básico: a não negociação com o Ministério da Fazenda, que ante a situação das contas do país veda incentivos, desconsiderando a argumentação de que o Inovar-Auto trouxe vantagens à sociedade pela economia em combustível gerada com a aplicação de tecnologias exigidas como forma de reduzir o IPI. Entretanto, outra corrente obsta, pois a normatização da redução do imposto por desenvolvimento de tecnologia pode ser tratada em regra própria. Fonte do Ministério da Fazenda sintetiza: a dificuldade está em como auditar os eventuais ganhos, individualizando as empresas e os alegados ganhos em cada um dos cinco objetivos. E resume: quem precisa de legislação de incentivos? E quem tomará conta de tantas contas incluindo indústrias de veículos e de auto peças?

Do consenso ainda não há definições sobre dois pontos fundamentais: qual o futuro para o carro com combustível não petrolífero? Como se preparar para o Indústria 4.0, a maior revolução industrial mudando conceitos, controles, investimentos, métodos, pessoas e seus empregos ?

Aparentemente, sem consenso, o Rota 2030 está sem rumo. Sem prazo.

Por pensar

O Brasil teve grandes chances de se impor no cenário mundial caso fosse mantido o projeto original do GEIA – grupo executivo para implantação da indústria automobilística. Mudou-se a diretriz e perdeu-se o foco. Já fomos a quinta indústria do automóvel e temos perdido a chance do desenvolver de tecnologia, de conquistar mercados externos. AGM, hoje maior vendedora doméstica, acabou com seu centro de engenharia e design, significando dizer não há mais adequação às características locais ou seus compradores, pois todas as diretrizes técnicas vem do exterior.

Sem firulas, por que não seguir o adotado por Coreia, China e Índia, em situação inferior à nossa? Fizeram sua independência de produtos, qualidade, e nos exportam. Por que não copiar a fórmula que deu certo?

Roberto Nasser Rota 2030 Mustang
Mustang voltará, importado pela Ford

Em março, Mustang

Gostas de Mustang? Tens disponibilidade para uns R$ 300 mil?  Se sim, seu dia está chegando.  Próxima segund-feira, dia 11, a Ford dirá preços da inicial versão GT Premium, abrindo inscrições para entregas no fim de março.

Preço é focado no concorrente Chevrolet Camaro, hoje em R$ 311 mil.

Modelo é da nova safra, alteração em meio de ciclo, marcada pela mudança de grade frontal, trocada por reclamação, pois buscando ser assinatura familiar, penalizou-o dando-lhe similaridade com o sedã Fusion. Nova frente busca identificar-se com o modelo 1967 pluri exibido no filme Bullit, símbolo do Mustang.

No pacote aplicou aerofólio e spoiler aerodinâmicos. No interior, mudanças e conectividade pelo sistema SYNC 3. Suspensões e freios adequados à boa performance oferecida pelo motor V8 5.0 litros, 466 cv de potência; câmbio automático com 10 marchas, com aletas sob o volante. Para artistas do guiar, botão Drift permite derrapagens controladas. Vendas por sítio exclusivo.

Roberto Nasser colunista Sauber Alfa Romeo Rota 2030
Pintura de apresentação do Sauber Alfa

Alfa volta à Fórmula 1

É a mais icônica das marcas de automóveis; pioneira em tecnologia; em foco de produto; rica história com suas vitórias. Voltar às corridas de automóveis, onde representou a Itália até a 2ª. Guerra Mundial, e serviu de base à formação da Ferrari, é caminho natural na busca pelo mercado mundial. No caso, estar na enorme vitrine da Fórmula 1 é para cumprir o distante desiderato de vender 430 mil unidades anuais.

Negócio comum. Uniu-se à suíça Sauber, crendo na aliança e na injeção de capital e tecnologia elevá-la ao primeiro time de concorrentes, deixando de usar motores defasados.

Por raciocinar, motor Ferrari será chamado Alfa. Talvez a engenharia Alfa seja convocada a personalizar os cabeçotes, por dentro, operacionalmente, ou na parte externa para exibir o nome Alfa Romeo em letra cursiva.

A FCA quer carona na intensa mídia de cobertura da Fórmula 1 e deve aplicar-se a eventos internacionais para evidenciar a marca.

Alfa pretende reacender formação de torcidas, como disputa com Ferrari e Maserati, aproveitando o período de graça de seu principal produto, a Giulia: recordista com o SUV telvio no circuito norte do anel de Nurbur; e eleita Carro do Ano nos EUA pela revista Car and Driver.

Roda-a-Roda

Lamborghini exibiu seu primeiro utilitário esportivo, o Urus. Usa o bom motor Audi V8, 4,0 litros, dois turbos e 650 cv, 70,84 Nm, também aplicado ao Porsche Cayenne Turbo em 2019. Não é o primeiro da marca – houve o LM002 entre 1983 e 1992 – mas será o debutante em termos de produção seriada. 0 a 200 km/h em 12 segundos e final de 305 km/h. Suspensão regula altura livre do solo entre 15 e 25 cm.

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Urus: o SUV da Lamborghini

Elevados incentivos estaduais para ser o Lambo de maior produção. Intenta ser mais rápido ante outro do mesmo grupo, o Bentley Bentaiga. Vendas em 2019 e preço imaginado em 200 mil euros – na Itália.

Não – Paulo Ferraz, empresário, um dos criadores do conceito de picape como veículo de status, ex-sócio da então MMCB, fabricante de Mitsubishis, desistiu de fabricar veículos chineses em Luziânia, GO – a 50 km de Brasília.

Situação – Razões? Pouca instigação de mercado e outros negócios mais rentáveis. Dispõe-se a passar adiante o projeto pronto e incentivado.

Dobro – JAC Motors, com operações industriais congeladas, resumindo-se a importações, cresceu 133% no período, com vendas infladas pelo SUV T40, representando quase dois terços de seus negócios. Números exibem crescimento acima do mercado. Em 2017 intenta superar venda de 4 mil unidades.

Plano – Christiano Ratazzi, número 1 da FCA na Argentina, às vésperas do início de produção do Fiat Cronos em Ferreyra, Córdoba. Linha industrial será inaugurada dia 14 ante os presidentes Maurício Macri, da Argentina, e Sergio Marchionne, da FCA. Ratazzi alimenta sonho: transformar a fábrica revista e atualizada em base de exportação para a Europa.

Medida – Mercado doméstico para automóveis 0 Km deteve a queda e sedimenta ascensão: 13,6% ante 2016, vendendo 197.247 unidades. Seria melhor caso o país fosse operacionalmente organizado. Sequência de feriados reduziu dias úteis de vendas. Loja fechada não fatura, nem recolhe impostos. Até o final de outubro mercado cresceu 10%.

Ajuste – Fiat mistura e depura motores em seus produtos. Próximo lançamento do Cronos como sedã da marca, não forçará tirar de produção o Gran Siena, mas simplificá-lo para ser carro de frota, locadoras e trabalho, mantendo apenas versão com motor 1.0.

Troca – Para harmonia industrial, encerrou a produção do Palio, substituindo-o por Argo simplificado – tem ar-condicionado, direção elétrica, vidros frontais com acionamento elétrico.

Enfim – VW iniciará vendas da Amarok com motor V6, 3.0, 225 cv e 550 Nm de torque. Performance de carro esportivo, versão de topo, Highline, e unidades contadas em 450 para definir mercado. Preço: R$ 187.710.

Régua – Ultrapassa o padrão do mercado com o mais forte dos motores disponíveis, e traz a bandeira de ser escolhido Picape do Ano na Europa. Preço balizará o do próximo concorrente a utilizar um V6 com unidade propulsora, o Mercedes Classe X.

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Amarok V6 inicia por versão de topo

História – Fábio Pagotto, engenheiro, antigomobilista, segunda incursão como autor. Assina em conjunto com Rogério Ferraresi o livro Picapes Chevrolet – Robustez que conquistou o Brasil. Pela Editora Alaúde. Pré-venda pela revista Classic ShowR$ 55,00 mais frete.

Futuro – Após décadas o Brasil não terá piloto na Fórmula 1. Falta projeto nacional para estruturar a formação de pilotos e sua ascensão internacional. Na verdade, ao Brasil, falta projeto para tudo.

Mais – Questão permeia do olimpo da administração (?!) federal às paróquias e interesses inferiores. Isto explica desmanchar o Autódromo do Rio e, agora, vender a ampla área contendo o circuito de Interlagos, como aprovado pela Câmara de Vereadores de São Paulo, de vassalagem fiel ao prefeito João Doria.

E?  – De lá saiu o caminho para o futuro: será cortado. Doria e turma querem transformar o grande espaço em mega condomínio – coisa inadequada por acabar com o maior circuito do país, e pela falta de infra estrutura do bairro e de circulação para o novo afluxo.

Sem futuro – Autódromo carioca foi-se; o de Interlagos ameaça findar-se; o de Brasília, fechado à espera de refazimento da pista, em porvir cinzento ante a postura pouco clara do governo distrital. Políticos são muito sensíveis aos argumentos dos especuladores imobiliários que, pelo lucro do dia comprometem os anos futuros.

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