“Garoto de programa” – Os dilemas de um apaixonado por carros

"Eu jamais trocaria um V8 roncando grosso por um insosso elétrico de ensurdecedor silêncio"

entusiasta
Por Boris Feldman
Publicado em 29/04/2018 às 10h50
Atualizado em 03/05/2018 às 11h16

Sou jornalista especializado em automóveis há 50 anos. Escrevi para inúmeros jornais e revistas. Criei, produzo e apresento um programa de rádio (AutoPapo) que está hoje em 40 emissoras e outro de televisão (Vrum) que foi exibido nacionalmente pelo SBT durante muitos anos. Quando não estava na “máquina de escrever”, brincava de pilotar automóveis nas pistas. Ou como “cartola”: fui vice-presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo. Mudei de brinquedinho e, do automobilismo,  passei para o antigomobilismo.

Mas as mídias se renovaram, a eletrônica ultrapassou a impressa e domina o mercado. Continuo em vários jornais e revistas, mas lancei – há quase um ano – este portal, o AutoPapo, também dedicado às coisas motorizadas sobre rodas.

O maior golpe que sofri ao entrar no mundo web foi descobrir que tinha de repensar e reformular tudo que aprendi no jornalismo, pois no texto para um site o jogo é outro e não segue as regras do jornal ou revista. Quem dá as cartas no pedaço é o “Dr. Google”, com seus parâmetros de avaliar matérias. Quem não conhece (e segue) o SEO (iniciais em inglês de “otimização do  motor de busca”) pode tirar o cavalinho da chuva. A matéria pode ser ótima, mas não será sucesso na tela nem contabilizará bom volume de acessos.

Tive que me adequar – aos trancos e barrancos – às regras da web. Muito embora pertença ao razoável batalhão de leitores que ainda adora segurar papel para ler jornais e revistas. Que não se importa em lavar as mãos negras de tinta depois de folhear um jornal.

O automóvel não é diferente. Depois de dezenas de anos de puro prazer (às vezes privilégio) de estar ao volante de centenas de carros e curtindo estilo, motor, câmbio, direção, suspensão e freios, é inútil negar que o carro do futuro vai eliminar esses prazeres e sensações.

Eu jamais abandonaria um V8 roncando grosso por um insosso elétrico que nem barulho faz. Mas não tem futuro por ser extremamente ineficiente. Por isso dizem que o motor a combustão é a melhor máquina de calefação do mundo:  75% do litro de gasolina no tanque não vão para as rodas, mas para gerar calor.

Os dilemas de um jornalista apaixonado por carros

Na semana passada, comentei nesta coluna (leia aqui) estarmos vivenciando uma revolução em que o motorista será substituído pelo computador. Fui aplaudido (ainda bem…) mas levei também uma saraivada de tiros (melhor ainda…) dos entusiastas do automóvel. Que não admitem o elétrico e muito menos o autônomo. Eu me alinho com eles, como entusiasta que sempre fui, da alergia aos autônomos.

O silencio ensurdecedor dos elétricos é incapaz de sensibilizar alguém. Mas tive que tirar o chapéu para um AMG GT elétrico que dirigi numa pista europeia: 750 cavalos (um motor de quase 200 cv em cada roda) e chega a 100km/h em menos de três segundos.

Há quem conteste o elétrico argumentando que a recarga da bateria gera poluição. E de ela própria ser um entulho ambiental. Mas existe solução mais limpa: é o carro elétrico que anda sem bateria, com eletricidade gerada nele mesmo pela célula a combustível (fuel cell), que funciona com H2. E, para o Brasil, um trunfo adicional: dá para alimentar a fuel cell com o etanol encontrado nos postos.

Como apaixonado pelo automóvel, eu abomino o carro autônomo. Como jornalista, sou obrigado a reconhecer que sua presença é indiscutível, a longo prazo.

Apaixonado que sou pela música clássica, prefiro (e mantenho) o “long-play” de 33 rpm, mas tive que me render também ao CD, DVD, blu-ray, pen-drive, iPod e outras modernidades. Mas já estão reeditando o LP! E, acreditem se quiser, acabam de relançar a versão impressa do glorioso JB!

Como jornalista, tive que me render aos meios modernos e interativos de comunicação. Mas saudoso – e como! – da época em que fui garoto de programa – na tevê…

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6 Comentários
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Altair 2 de maio de 2018

Boris, acompanho suas análises e trabalho desde sempre e sou seu fã. Partilho de sua angustia e insatisfação com a modernidade a que tivemos e ainda temos que nos acostumar. Coisa difícil para quem passou dos 50. A tecnologia -para o bem ou pra o mal – não retira somente empregos, mas também os prazeres mundanos de “sentir” o motor nas mãos , o cheiro de gasolina, o ronco maravilhoso da engenharia sob o capô, a simplicidade conquistada. Retira devagar nossos prazeres e nossa identidade em nome de um futuro cada dia mais insustentável. Parabens pelo excelente texto.

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Franco Vieira 30 de abril de 2018

Estou sentindo falta dos seus “testes” com os Clássicos. Abs

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IVAN VASCONCELLOS 30 de abril de 2018

Elver, concordo plenamente com você. Imagine o cenário de 50% da frota composta por carros 100% elétricos. Assim, pergunto eu. De onde se vai tirar tanta energia elétrica? Das hidrelétricas não será pois o clima notadamente tem se mostrado pouco cooperativo. Então vamos ter que partir pra energia eólica muito mais cara? Pra queima de combustíveis fósseis que além de cara é poluente e acaba “trocando seis por meia dúzia”? Ou pra energia atômica que também é cara e perigosa?
Olha só, hoje por muito menos consumo já estamos pagando bandeira amarela, então imagina como seria nesse cenário…
Sinceramente acho que, por enquanto, toda essa conversa é “papo pra boi dormir” e acredito muito mais nos híbridos, no curto e médio prazos.

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Rodolfo 30 de abril de 2018

Corrigindo o texto:

Onde se lê:
“Por fim eu tenho um Canal no Youtube, e quando vejo que o comentário é ofencivo, malicioso, etc, é deletado por mim no ao”.

Leia-se:
“Por fim eu tenho um Canal no Youtube, e quando vejo que o comentário é ofencivo, malicioso, etc, é deletado por mim no ato”.

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Rodolfo 30 de abril de 2018

Boris,
Infelizmente a internet abre espaço para pessoas que só sabem criticar, reclamar e ofender. E vejo que certos sites tem até a pessoa que faz o crivo de qual comentário é publicado ou não. Mas vejo que em outro site que eu escrevia comentários o moderador lá deixa passar ofensas gratuitas a minha pessoa. Pois o que parece é que o moderador de lá gosta é de provocar os outros.
Então decidi parar de escrever lá… pois estava me irritando a toa. Pois a gente acaba perdendo muito tempo e e energia tentando convercer quem não quer nos escutar.
Por fim eu tenho um Canal no Youtube, e quando vejo que o comentário é ofencivo, malicioso, etc, é deletado por mim no ao. Não perco meu tempo dando respostas a essas pessoas que só sabem criticar. Criticar é fácil, mas vai fazer um bom texto ou um bom vídeo pra depois vir nos criticar.

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Elver 29 de abril de 2018

O problema no Brasil é que o prazer de se dirigir um veículo a combustível fóssil tornou-se algo inviavelmente CARO, principalmente se for um V8 beberrão.
Com o preço que somos obrigados a pagar pelo litro da gasolina monopolizada no Brasil a esperança de um novo prazer em velocidade está na eletricidade (até descobrirem um meio de nos explorarem nela também!).

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