Preço da versão top de linha, que tem como diferencial apenas itens estéticos, acaba esbarrando no de hatches de categoria superior
A versão Outsider quebrou a lógica de mercado do Kwid. Afinal, o subcompacto da Renault tem o preço como maior argumento de venda desde que foi lançado, há dois anos. Porém, a versão aventureira, que chegou no último mês de maio, é a mais cara da linha, com preços a partir de R$ 44.990. Isso representa uma diferença de mais de R$ 10 mil para a opção de entrada Zen. Ou de R$ 3.100 para a Intense, a penúltima na hierarquia da gama.
Em relação à primeira, o Kwid Outsider traz grande oferta extra de conteúdo. Porém, comparando com a segunda, a diferença está apenas nos adereços com estética aventureira. A fantasia inclui racks no teto (que não são funcionais, pois não suportam a fixação de bagageiros), apliques plásticos pintados de cinza na parte inferior dos para-choques, molduras em torno dos faróis de neblina, calotas e retrovisores pintados de preto e adesivos laterais. E só.
Se, por fora, o Kwid Outsider chama atenção diante das outras versões, por dentro a coisa muda de figura. A Renault introduziu alguns apliques alaranjados no painel, nos forros das portas e trocou tecido do estofamento.
O aspecto geral não é exatamente ruim, mas as alterações da versão Outsider são incapazes de esconder que o Kwid é um carro de baixo custo. O plástico duro, com aspecto brilhante, está por toda parte, ao passo que o carpete do assoalho é bem fino. No veículo avaliado, o revestimento interno do bojo do brake-light simplesmente se soltou.
Porém, o maior problema do interior do Kwid Outsider é a ergonomia. Esse, aliás, é o aspecto no qual a contenção de custos mostra-se mais evidente. Nem o volante nem o banco do motorista contam com regulagem de altura, o que prejudica a posição de dirigir.
Os comandos dos vidros elétricos dianteiros estão no painel, e as portas ainda são travadas por meio de mal-posicionados pinos superiores. Felizmente, esse último inconveniente é amenizado pela presença de uma tecla de travamento central.
Apesar de a Renault anunciar o Kwid como “o SUV dos compactos”, o modelo é, na verdade, um hatch subcompacto com suspensão elevada, ao qual a versão Outsider soma os adereços aventureiros. Ser pequeno não é, necessariamente, um defeito: traz inclusive vantagens, como facilidade para manobrar. Mas o pouco tamanho da carroceria impõe restrições ao espaço interno.
A Renault aproveitou o habitáculo ao máximo: o porta-malas, por exemplo, tem bons 290 litros. Esse volume até supera o de alguns hatches maiores. Faltou só um banco traseiro bipartido para aumentar a versatilidade quando for necessário rebater o encosto. Por dentro, uma boa solução do Kwid é a capota alta, que mantém as cabeças dos ocupantes longe de raspões contra o forro do teto.
Mas não há milagre. Atrás, os vãos para as pernas são insuficientes para adultos. E a cabine é bastante estreita, o que torna martirizante transportar três pessoas no banco traseiro. O ocupante central, inclusive, não conta com cinto de três pontos, apenas com encosto de cabeça. Pelo menos o ressalto no centro do assoalho é baixo, liberando algum espaço para os pés. Na frente, os ocupantes também são penalizados pela falta de largura: sentam-se muitíssimo próximos das colunas da carroceria.
Mecanicamente, o Kwid Outsider é idêntico a todas as demais versões. Como o modelo foi concebido para ser altinho, o que inclui um vão livre do solo de 18 cm, a Renault optou por não elevar ainda mais a suspensão. Tampouco instalou pneus de uso misto nas rodas.
O motor também é comum ao restante da gama: o 1.0 de três cilindros e 12 válvulas rende 70 cv de potência com etanol e 66 cv com gasolina. O torque é de 9,8 kgfm com o primeiro combustível e de 9,4 kgfm com o segundo. Esse propulsor tem a vantagem de ter os comandos de válvulas acionados por corrente, que não exige trocas periódicas. Porém, há a desvantagem de o sistema do partia a frio com subtanque auxiliar. O câmbio é sempre manual de cinco marchas.
Esse conjunto consegue proporcionar desempenho razoável, graças, em grande parte, ao peso de apenas 806 kg do veículo. Poderia ser melhor se a Renault utilizasse uma versão mais sofisticada do propulsor, com variador no tempo de abertura das válvulas, que equipa Sandero e Logan. Devido à falta desse recurso, o Kwid Outsider apresenta alguma falta de fôlego em baixas rotações. A partir de 3.000 rpm, o motor acorda, o que estimula o motorista a “esticar” as marchas.
Fazer o motor trabalhar com o giro mais alto, porém, causa incômodo. Nessa situação, fica evidente que o isolamento acústico é ruim, pois o ruído do motor invade o habitáculo sem qualquer cerimônia. O modelo carece de mais material fonoabsorvente para manter o silêncio a bordo. Ao menos o câmbio tem engates razoáveis e relações bem-feitas.
Por sua vez, a suspensão conjuga sistemas McPherson na dianteira com eixo rígido na traseira; esse último, pouco usual ultimamente, é outro reflexo da contenção de custos. A altura elevada do conjunto dá ao Kwid boa desenvoltura em lombadas, valetas e toda a sorte de obstáculos urbanos. Entretanto, prejudica a estabilidade.
Estreito, alto e calçados com pneus finos, o Kwid Outsider não tolera abusos em curvas. Além disso, o subcompacto sente bastante os efeitos de ventos laterais.
A direção, que tem assistência elétrica, também não ajuda nessas situações. É exageradamente leve em alta velocidade, além de ter respostas um tanto artificiais. Por outro lado, a maciez do sistema agrada em manobras.
O Kwid Ousider trouxe uma melhoria que foi estendida a toda a linha: discos de freio ventilados nas rodas dianteiras. Antes, esses componentes eram sólidos, tecnicamente menos eficientes. O sistema de servoassistência também foi revisto. Graças a esses aperfeiçoamentos, o subcompato vai bem em frenagens.
Outra qualidade do Kwid Outsider é consumir pouco combustível. Muito pouco! A combinação de baixo peso com motor pequeno faz com que essa seja uma das maiores virtudes do modelo. Nas medições do AutoPapo, o modelo cravou, com gasolina, 12,6 km/l na cidade e 15,5 km/l na estrada.
A frugalidade do subcompacto faz com que o tanque, mesmo comportando apenas 38 litros, proporcione boa autonomia. É possível rodar, segundo nossas aferições, até 589 km.
Vale lembrar que, embora a versão Outsider ainda não conste no programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBE) do Inmetro, as demais configurações do Kwid receberam nota A e selo de eficiência energética. O PBE informa médias de consumo, com gasolina, de 14,9 km/l na cidade e de 15,6 km/l na estrada. Com etanol, segundo o programa, são 10,3 km/l no ciclo urbano e 10,8 km/l no rodoviário.
Entre os equipamentos, o destaque o Kwid Outsider são os airbags laterais, que vêm de série em toda a gama. Há também ganchos Isofix para fixação de cadeirinhas infantis e faróis de neblina, ambos raros em carros de entrada. Eles se somam aos itens obrigatórios por lei, que são as bolsas de ar frontais e os freios ABS.
Há também central multimídia com tela touch de sete polegadas, compatível com Android Auto e Apple Carplay. O equipamento, que tem Bluetooth e entradas USB e AUX, permite acessar Spotify, Waze, Google Maps (este apenas em aparelhos Android) e reproduzir áudios de Whatsapp. Há ainda, de série, câmera de ré, item que nem chega a ser essencial em um veículo tão pequeno.
No mais, o Kwid Outsider traz ar-condicionado manual, direção elétrica, travas elétricas acionadas por telecomando, retrovisores elétricos, chave dobrável, computador de bordo e abertura interna do porta-malas. Porém, os vidros traseiros são sempre manuais e não há opção de rodas de liga leve.
Um fator essencial para classificar terminado produto como bom ou ruim é o preço. E o valor de compra, que é de R$ 44.990, acaba tirando a competitividade da versão Outsider dentro da linha Kwid. Primeiro, porque ela custa R$ 3.100 a mais que a configuração Intense, mas, como já foi dito, agrega muito pouco: apenas adereços estéticos. Segundo, porque nessa faixa ele esbarra em modelos de categorias superiores.
Nesse patamar, já é possível levar para casa um Ford Ka S (R$ 45.590), um Chevrolet Onix Joy (R$ 46.590) ou um Hyundai HB20 Unique (R$ 44.490) Até mesmo na própria gama Renault, há o Sandero Life (R$ 46.990). Todos eles são um pouco menos equipados, é verdade. Todavia, em compensação, oferecem mais espaço interno e melhor padrão de construção. Assim sendo, a versão Outsider acaba não fazendo jus à premissa básica da linha Kwid: ter preço baixo. Afinal, só o valor de compra bem acessível pode justificar as limitações do projeto.
No Brasil, o Kwid chegou para ocupar uma faixa de preço inferior à dos hatches compactos, então pouco explorada. Até ser lançado, quem tinha menos de R$ 40 mil para comprar um carro precisava, necessariamente, optar por marcas chinesas (que ainda têm uma reputação a construir no Brasil) ou se voltar para o mercado de usados. Dentro dessa lógica, parece fazer sentido pagar R$ 39.590 em um Kwid Zen. Mas é difícil enxergar lógica nos R$ 44.990 cobrados pelo Outsider.
Confira a galeria de fotos do Renault Kwid Outsider:
Ficha técnica | Renault Kwid Outsider |
---|---|
Motor | Dianteiro, transversal, flex, 999 cm³, com três cilindros, de 71 mm de diâmetro e 84,1 mm de curso, e 12 válvulas, com duplo comando |
Potência | 66 cv (gasolina) e 70 cv (etanol), a 5.550 rpm |
Torque | 9,4 kgfm (gasolina) e 9,8 kgfm (etanol) a 4.250 rpm |
Transmissão | manual de cinco marchas, tração dianteira |
Suspensão | McPherson na dianteira e eixo rígido na traseira |
Rodas e pneus | Rodas de aço estampado com calotas; pneus 165/60 R14” |
Freios | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS |
Direção | assistida eletricamente |
Dimensões | 3,680 m de comprimento, 1,579 m de largura, 2,423 m de distância entre-eixos, 1,474 m de altura |
Peso | 806 kg |
Vão livre do solo | 180 mm |
Carga útil | 375 kg |
Tanque de combustível | 38 litros |
Porta-malas | 290 litros |
Fotos Alexandre Carneiro | AutoPapo
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Pelas normas brasileiras, ele é sim um SUV, ou então mudem as normas…
Quero comentário sobre Chery QQ em relação ao kuwid