Renault Kwid Outsider cobra caro pelo visual aventureiro

Preço da versão top de linha, que tem como diferencial apenas itens estéticos, acaba esbarrando no de hatches de categoria superior

renault kwid outsider frente
Por Alexandre Carneiro
Publicado em 06/08/2019 às 17h15
Atualizado em 09/09/2019 às 20h52

A versão Outsider quebrou a lógica de mercado do Kwid. Afinal, o subcompacto da Renault tem o preço como maior argumento de venda desde que foi lançado, há dois anos. Porém, a versão aventureira, que chegou no último mês de maio, é a mais cara da linha, com preços a partir de R$ 44.990. Isso representa uma diferença de mais de R$ 10 mil para a opção de entrada Zen. Ou de R$ 3.100 para a Intense, a penúltima na hierarquia da gama.

Em relação à primeira, o Kwid Outsider traz grande oferta extra de conteúdo. Porém, comparando com a segunda, a diferença está apenas nos adereços com estética aventureira. A fantasia inclui racks no teto (que não são funcionais, pois não suportam a fixação de bagageiros), apliques plásticos pintados de cinza na parte inferior dos para-choques, molduras em torno dos faróis de neblina, calotas e retrovisores pintados de preto e adesivos laterais. E só.

renault kwid outsider frente

Se, por fora, o Kwid Outsider chama atenção diante das outras versões, por dentro a coisa muda de figura. A Renault introduziu alguns apliques alaranjados no painel, nos forros das portas e trocou tecido do estofamento.

O aspecto geral não é exatamente ruim, mas as alterações da versão Outsider são incapazes de esconder que o Kwid é um carro de baixo custo. O plástico duro, com aspecto brilhante, está por toda parte, ao passo que o carpete do assoalho é bem fino. No veículo avaliado, o revestimento interno do bojo do brake-light simplesmente se soltou.

Porém, o maior problema do interior do Kwid Outsider é a ergonomia. Esse, aliás, é o aspecto no qual a contenção de custos mostra-se mais evidente. Nem o volante nem o banco do motorista contam com regulagem de altura, o que prejudica a posição de dirigir.

Os comandos dos vidros elétricos dianteiros estão no painel, e as portas ainda são travadas por meio de mal-posicionados pinos superiores. Felizmente, esse último inconveniente é amenizado pela presença de uma tecla de travamento central.

Kwid não é SUV nem compacto: é subcompato

Apesar de a Renault anunciar o Kwid como “o SUV dos compactos”, o modelo é, na verdade, um hatch subcompacto com suspensão elevada, ao qual a versão Outsider soma os adereços aventureiros. Ser pequeno não é, necessariamente, um defeito: traz inclusive vantagens, como facilidade para manobrar. Mas o pouco tamanho da carroceria impõe restrições ao espaço interno.

A Renault aproveitou o habitáculo ao máximo: o porta-malas, por exemplo, tem bons 290 litros. Esse volume até supera o de alguns hatches maiores. Faltou só um banco traseiro bipartido para aumentar a versatilidade quando for necessário rebater o encosto. Por dentro, uma boa solução do Kwid é a capota alta, que mantém as cabeças dos ocupantes longe de raspões contra o forro do teto.

renault kwid outsider interior

Mas não há milagre. Atrás, os vãos para as pernas são insuficientes para adultos. E a cabine é bastante estreita, o que torna martirizante transportar três pessoas no banco traseiro. O ocupante central, inclusive, não conta com cinto de três pontos, apenas com encosto de cabeça. Pelo menos o ressalto no centro do assoalho é baixo, liberando algum espaço para os pés. Na frente, os ocupantes também são penalizados pela falta de largura: sentam-se muitíssimo próximos das colunas da carroceria.

Kwid Outsider não tem alterações mecânicas

Mecanicamente, o Kwid Outsider é idêntico a todas as demais versões. Como o modelo foi concebido para ser altinho, o que inclui um vão livre do solo de 18 cm, a Renault optou por não elevar ainda mais a suspensão. Tampouco instalou pneus de uso misto nas rodas.

O motor também é comum ao restante da gama: o 1.0 de três cilindros e 12 válvulas rende 70 cv de potência com etanol e 66 cv com gasolina. O torque é de 9,8 kgfm com o primeiro combustível e de 9,4 kgfm com o segundo. Esse propulsor tem a vantagem de ter os comandos de válvulas acionados por corrente, que não exige trocas periódicas. Porém, há a desvantagem de o sistema do partia a frio com subtanque auxiliar. O câmbio é sempre manual de cinco marchas.

Esse conjunto consegue proporcionar desempenho razoável, graças, em grande parte, ao peso de apenas 806 kg do veículo. Poderia ser melhor se a Renault utilizasse uma versão mais sofisticada do propulsor, com variador no tempo de abertura das válvulas, que equipa Sandero e Logan. Devido à falta desse recurso, o Kwid Outsider apresenta alguma falta de fôlego em baixas rotações. A partir de 3.000 rpm, o motor acorda, o que estimula o motorista a “esticar” as marchas.

renault kwid outsider motor

Fazer o motor trabalhar com o giro mais alto, porém, causa incômodo. Nessa situação, fica evidente que o isolamento acústico é ruim, pois o ruído do motor invade o habitáculo sem qualquer cerimônia. O modelo carece de mais material fonoabsorvente para manter o silêncio a bordo. Ao menos o câmbio tem engates razoáveis e relações bem-feitas.

Suspensão elevada tem prós e contras

Por sua vez, a suspensão conjuga sistemas McPherson na dianteira com eixo rígido na traseira; esse último, pouco usual ultimamente, é outro reflexo da contenção de custos. A altura elevada do conjunto dá ao Kwid boa desenvoltura em lombadas, valetas e toda a sorte de obstáculos urbanos. Entretanto, prejudica a estabilidade.

Estreito, alto e calçados com pneus finos, o Kwid Outsider não tolera abusos em curvas. Além disso, o subcompacto sente bastante os efeitos de ventos laterais.

A direção, que tem assistência elétrica, também não ajuda nessas situações. É exageradamente leve em alta velocidade, além de ter respostas um tanto artificiais. Por outro lado, a maciez do sistema agrada em manobras.

renault kwid outsider traseira

O Kwid Ousider trouxe uma melhoria que foi estendida a toda a linha: discos de freio ventilados nas rodas dianteiras. Antes, esses componentes eram sólidos, tecnicamente menos eficientes. O sistema de servoassistência também foi revisto. Graças a esses aperfeiçoamentos, o subcompato vai bem em frenagens.

Baixo consumo é ponto forte do Kwid Outsider

Outra qualidade do Kwid Outsider é consumir pouco combustível. Muito pouco! A combinação de baixo peso com motor pequeno faz com que essa seja uma das maiores virtudes do modelo. Nas medições do AutoPapo, o modelo cravou, com gasolina, 12,6 km/l na cidade e 15,5 km/l na estrada.

A frugalidade do subcompacto faz com que o tanque, mesmo comportando apenas 38 litros, proporcione boa autonomia. É possível rodar, segundo nossas aferições, até 589 km.

Vale lembrar que, embora a versão Outsider ainda não conste no programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBE) do Inmetro, as demais configurações do Kwid receberam nota A e selo de eficiência energética. O PBE informa médias de consumo, com gasolina, de 14,9 km/l na cidade e de 15,6 km/l na estrada. Com etanol, segundo o programa, são 10,3 km/l no ciclo urbano e 10,8 km/l no rodoviário.

Versão Outsider é a mais equipada da linha Kwid…

Entre os equipamentos, o destaque o Kwid Outsider são os airbags laterais, que vêm de série em toda a gama. Há também ganchos Isofix para fixação de cadeirinhas infantis e faróis de neblina, ambos raros em carros de entrada. Eles se somam aos itens obrigatórios por lei, que são as bolsas de ar frontais e os freios ABS.

renault kwid outsider dinamica
Renault Kwid...

Há também central multimídia com tela touch de sete polegadas, compatível com Android Auto e Apple Carplay. O equipamento, que tem Bluetooth e entradas USB e AUX, permite acessar Spotify, Waze, Google Maps (este apenas em aparelhos Android) e reproduzir áudios de Whatsapp. Há ainda, de série, câmera de ré, item que nem chega a ser essencial em um veículo tão pequeno.

No mais, o Kwid Outsider traz ar-condicionado manual, direção elétrica, travas elétricas acionadas por telecomando, retrovisores elétricos, chave dobrável, computador de bordo e abertura interna do porta-malas. Porém, os vidros traseiros são sempre manuais e não há opção de rodas de liga leve.

Mas preço de compra esbarra no de hatches de categorias superiores

Um fator essencial para classificar terminado produto como bom ou ruim é o preço. E o valor de compra, que é de R$ 44.990, acaba tirando a competitividade da versão Outsider dentro da linha Kwid. Primeiro, porque ela custa R$ 3.100 a mais que a configuração Intense, mas, como já foi dito, agrega muito pouco: apenas adereços estéticos. Segundo, porque nessa faixa ele esbarra em modelos de categorias superiores.

Nesse patamar, já é possível levar para casa um Ford Ka S (R$ 45.590), um Chevrolet Onix Joy (R$ 46.590) ou um Hyundai HB20 Unique (R$ 44.490) Até mesmo na própria gama Renault, há o Sandero Life (R$ 46.990). Todos eles são um pouco menos equipados, é verdade. Todavia, em compensação, oferecem mais espaço interno e melhor padrão de construção. Assim sendo, a versão Outsider acaba não fazendo jus à premissa básica da linha Kwid: ter preço baixo. Afinal, só o valor de compra bem acessível pode justificar as limitações do projeto.

No Brasil, o Kwid chegou para ocupar uma faixa de preço inferior à dos hatches compactos, então pouco explorada. Até ser lançado, quem tinha menos de R$ 40 mil para comprar um carro precisava, necessariamente, optar por marcas chinesas (que ainda têm uma reputação a construir no Brasil) ou se voltar para o mercado de usados. Dentro dessa lógica, parece fazer sentido pagar R$ 39.590 em um Kwid Zen. Mas é difícil enxergar lógica nos R$ 44.990 cobrados pelo Outsider.

Confira a galeria de fotos do Renault Kwid Outsider:

Pontos positivos do Kwid Outsider:

  • Consumo de combustível
  • Facilidade para manobrar
  • Tamanho do porta-malas (em relação ao porte do veículo)
  • Equipamentos de segurança passiva
  • Altura livre do solo

Pontos negativos do Renault Kwid Outsider:

  • Ergonomia
  • Acabamento
  • Espaço interno
  • Nível de ruído
  • Estabilidade
  • Preço de compra
Ficha técnica Renault Kwid Outsider
Motor Dianteiro, transversal, flex, 999 cm³, com três cilindros, de 71 mm de diâmetro e 84,1 mm de curso, e 12 válvulas, com duplo comando
Potência 66 cv (gasolina) e 70 cv (etanol), a 5.550 rpm
Torque 9,4 kgfm (gasolina) e 9,8 kgfm (etanol) a 4.250 rpm
Transmissão manual de cinco marchas, tração dianteira
Suspensão McPherson na dianteira e eixo rígido na traseira
Rodas e pneus Rodas de aço estampado com calotas; pneus 165/60 R14”
Freios discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS
Direção assistida eletricamente
Dimensões 3,680 m de comprimento, 1,579 m de largura, 2,423 m de distância entre-eixos, 1,474 m de altura
Peso 806 kg
Vão livre do solo 180 mm
Carga útil 375 kg
Tanque de combustível 38 litros
Porta-malas 290 litros

Fotos Alexandre Carneiro | AutoPapo

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3 Comentários
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Ivai Freitas 4 de maio de 2020

Pelas normas brasileiras, ele é sim um SUV, ou então mudem as normas…

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Douglas Oliveira 5 de outubro de 2019

Quero comentário sobre Chery QQ em relação ao kuwid

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