Ayrton Senna e Audi: a história de uma parceria de sucesso
No início dos anos 1990, Ayrton Senna decidiu investir parte de sua fortuna na representação de uma marca premium no Brasil
No início dos anos 1990, Ayrton Senna decidiu investir parte de sua fortuna na representação de uma marca premium no Brasil
Por incrível que possa parecer, a história, pelo menos escrita nas estrelas, entre o nosso tricampeão mundial Ayrton Senna da Silva, e a alemã Audi, teve início, sem que ambos soubessem, no início dos anos 1980, mais precisamente em 1981. Nesse ano, Senna decidiu iniciar sua carreira no automobilismo correndo na Europa, mais precisamente na Fórmula Ford 1600 inglesa.
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Nessa época, a Audi colhia os frutos de sua tecnologia 4×4 (quattro), que fazia estremecer o mundo do Rallye, em que o Audi Quattro vencia fácil as principais etapas do campeonato mundial. Nem Senna, nem Audi sabiam que seus destinos estavam traçados aqui no Brasil, tendo como objetivo a tecnologia de um carro superior, e o talento de um dos melhores pilotos que o mundo já viu, principalmente na Fórmula 1.
Ayrton prosseguiu sua carreira vitoriosa no automobilismo europeu, mudando de categoria e crescendo cada vez mais. Claro que todo esse talento chamou a atenção das equipes europeias de F1, e em 1984 ele já iniciava sua carreira na britânica Toleman, um aprendizado importante para nosso campeão, que já rendeu frutos naquele mesmo ano: no GP de Mônaco, sob chuva, o novato Senna só não venceu a prova porque interesses econômicos encerraram a corrida uma volta antes, quando o brasileiro já havia ultrapassado Alain Prost e liderava.
Como a direção da prova decidiu que valeria a classificação da volta anterior, a vitória ficou para o francês, em uma resolução inédita na categoria, contestada mundialmente. Lembrando que Prost, dado como campeão, era francês, assim como o local de sede para a corrida (Mônaco). Além disso, o grande patrocinador da prova também patrocinava o carro de Prost.
Ayrton logo assinou com a Lotus, sem se dar por vencido, e vitoriou no GP de Portugal debaixo de chuva, em abril de 1985. Dali em diante, sua carreira na F1 só cresceu, culminando com seu primeiro campeonato em 1988, já pilotando pela McLaren, equipe que ficou até 1993, vencendo outros dois campeonatos (1990 e 1991).
Enquanto isso, a Audi continuava a surpreender o mundo com a alta tecnologia de seus produtos, que tinham sempre uma pitada de esportividade graças ao seu início vitorioso com o rallye, e carros que primavam principalmente pela qualidade, robustez mecânica e linhas atraentes. Pois bem. Em 1990, o universo decidiu dar aquele empurrãozinho entre Audi e Senna! Esse ano marcou a chegada do piloto austríaco Gerhard Berger como companheiro de equipe de Ayrton na McLaren. A simpatia entre eles foi imediata, tanto que tornaram-se muito amigos, daqueles que frequentavam a casa um do outro.
Nessa época, Senna tinha a intenção de investir uma boa parte do dinheiro ganho com corridas e patrocínios no Brasil, sua terra natal, e queria abrir algumas concessionárias de uma marca premium de automóveis mundiais. Como em 1990 o Brasil havia liberado a importação de automóveis, Ayrton pensava em trazer Mercedes ou BMW para sua futura empreitada com as concessionárias.
Comentando essa ideia com seu amigo Berger, ele quis saber do austríaco qual marca ele recomendaria para o mercado brasileiro. Gerhard, apesar da ligação com a BMW por conta de suas competições, disse para Senna sobre a Audi, que merecia sua atenção. A fabricante das quatro argolas, nessa época, já despontava no mundo com seus produtos tecnológicos, como os motores turbocomprimidos (nenhuma das rivais dispunham dessa tecnologia), e provava sua qualidade.
Como o universo conspirava a favor de Ayrton na época, a VW do Brasil já tinha feito testes com o Audi 80 e Audi 100 para futuro lançamento no mercado nacional (a Audi faz parte do Grupo Volkswagen). Mas, os dirigentes daqui concluíram que não havia espaço no Brasil para nenhum dos Audi, e por isso renunciaram da ideia de trazer a marca para cá. O tricampeão, então, foi conversar diretamente com os dirigentes alemães da Audi em Ingolstadt, em sua sede na Alemanha, e os executivos logo se empolgaram: teriam como representante de sua marca no Brasil um dos maiores pilotos do automobilismo mundial!
Esse era o casamento perfeito: um carro turbo de alta tecnologia construtiva, com pitadas de esportividade, vendidos no Brasil por uma empresa dirigida por ninguém menos que Ayrton Senna. Melhor impossível! Pois foi o que aconteceu: Senna, tendo como sócios o irmão Leonardo e o empresário Ubirajara Guimarães, que já trabalhava com Ayrton no ramo de revendas Ford em SP, e contando com a experiência do diretor comercial Jaroslav Sussland, iniciou seus mais novos negócios através da sua empresa Senna Import.
O interessante é que a própria VW, que já havia desistido de trazer a Audi para o Brasil, cedeu seus modelos de teste para que Senna e seus sócios pudessem avaliar os carros no mercado brasileiro. Ayrton, Léo e Ubirajara tiveram a oportunidade de andar com os modelos 80 e 100 aqui no Brasil cedidos pela Volks, que já havia encerrado seus testes com a marca das argolas por aqui.
Nosso tricampeão, apesar de já conhecer bem a performance dos Audi no mercado europeu, queria os avaliar no piso, clima e gasolina brasileiros, para saber como os carros se comportariam. Depois desse curto período de experimentação, os três sócios concluíram o mesmo: os Audi tinham um enorme potencial no mercado brasileiro, o que só fazia empolgar Senna. Em 1993, a Senna Import já estava comercialmente montada, as concessionárias estavam sendo constituídas, os mecânicos treinados e a linha de produtos definida.
Teríamos o Audi 80, o Audi 100, o esportivo S2 e o esportivo maior S4. Esses foram os quatro primeiros carros que chegaram ao Brasil em fevereiro de 1994: os sonhos do nosso tricampeão Ayrton e da Audi AG estavam concretizados. Um grande evento, feito na noite de 29 de março, no Aeroporto de Congonhas, com o apresentador Jô Soares e Ayrton Senna. Jô saiu guiando um Audi 80 Cabriolet azul marinho de dentro de um avião cargueiro da Varig, sob aplausos dos mais de 2 mil convidados, incluindo muitas celebridades. Ayrton o esperava no palco do evento, próximo de um Audi 100 também azul.
Dois dias depois, em 31 de março, em Interlagos, foi feita uma apresentação especial para a imprensa especializada, em que Ayrton levou para um passeio no autódromo os principais jornalistas do meio automotivo, a bordo do S2 e do S4, até então os únicos modelos esportivos da Audi a desembarcarem no Brasil. Mas, infelizmente, o sonho estava acabando: depois do dia 31, uma quinta, Senna foi passar a Páscoa (domingo) com a família em sua propriedade em Angra dos Reis (RJ).
Passada a Páscoa, logo na segunda (dia 04), Ayrton já embarcava rumo à Europa para testes antes do início da temporada de 1994 de Fórmula 1 no Velho Continente. No GP da Itália daquele ano, ocorrido em Ímola, o acidente fatal levou nosso tricampeão, encerrando sua breve passagem por nosso planeta. Mas tudo que ele havia plantado por aqui, floresceu, e a Senna Import, graças também a competência de seus sócios e diretores, mostrou-se um sucesso, colocando a marca Audi no mesmo nível de suas arquirrivais BMW e Mercedes.
Tecnologia e competência para isso não faltaram nesse time, e esse casamento durou até o início de 2005, quando a Audi alemã assumiu toda a operação de importação, fabricação e venda de todos os seus produtos no Brasil. A família Senna, claro, foi devidamente ressarcida nesse negócio.
Nas próximas edições da coluna, vamos mostrar com mais detalhes todos os esportivos que a Audi lançou no Brasil nesses quase 30 anos de história, contada em ordem cronológica. Não perca!
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