Stellantis: tudo sobre a fusão de Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën

A fusão das marcas já é real, mas, na prática, o que isso significará para o consumidor? Teremos Peugeot com motor Fiat?

sede da stellantis turim
Grupo é o 4º maior do setor automotivo (Foto: Shutterstock)
Por Fernando Miragaya
Especial para o AutoPapo
Publicado em 02/02/2021 às 19h00
Atualizado em 04/02/2021 às 09h28

Quarto maior grupo automotivo do planeta, a Stellantis acaba de se tornar realidade na prática. A fusão entre FCA – Fiat Chrysler Automóveis e PSA Groupe (dona de Peugeot e Citroën) acaba de ser formalizada e aprovada pelos acionistas. Sites e e-mails corporativos das empresas já migram para o novo nome, cuja origem vem stello – algo como “iluminar com estrelas” em latim.

Mas o que essa união significa e no que vai resultar? AutoPapo resolveu iluminar – com estrelas ou não – o presente e o futuro desta fusão para você. Veja 10 fatos sobre a Stellantis, desde quais marcas ela vai reunir, que projetos em conjunto já podemos imaginar e como serão as operações, inclusive no Brasil.

O que é Stellantis?

É a fusão da FCA – Fiat Chrysler Automóveis com o PSA Groupe, que resulta em um gigante automotivo já sob o posto de quarto maior produtor de veículos do mundo. Em 2019, as duas obtiveram lucro operacional de 12 bilhões de euros.

Com 14 marcas distintas e sede em Amsterdã, na Holanda, o grupo atua em mais de 130 países, tem fábrica em pelo menos 30 deles e reúne cerca de 400 mil funcionários. No Brasil são quatro unidades: em Betim (MG), Campo Largo (PR) Goiana (PE), da parte da FCA, e Porto Real (RJ) da parte da PSA.

Na Argentina, ainda há linhas de produção em Córdoba e El Palomar, esta na Grande Buenos Aires. A capacidade total de produção no Mercosul é de 1,7 milhão de unidades/ano.

Quais marcas fazem parte da Stellantis?

Preste atenção, para não se perder. São 13 marcas de automóveis diferentes. Do lado da FCA, Abarth, Alfa Romeo, Chrysler, Dodge, Fiat, Jeep, Lancia e Ram. Do lado francês, Citroën, DS, Opel, Peugeot e Vauxhall. Sem contar as divisões dos grupos automotivos, como Fiat Professional, Mopar, Peugeot Sport e Opel Performance, entre outras.

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Quem é dona de quem?

Muitos caminhos foram percorridos – e se encontraram – antes de a Stellantis se formar. A PSA Peugeot Citroën nasceu em 1976, quando a marca do leão, que já tinha participação na compatriota, se tornou majoritária e assumiu o controle da empresa do deux chevron – quase 90%.

Mas, curiosamente, os destinos das marcas que hoje compõem a Stellantis se cruzaram em diferentes momentos – e bem antes. O “encontro” mais inusitado: em 1979 a PSA comprou as operações europeias da Chrysler – porém se deu mal e só teve prejuízo.

Depois de parcerias internacionais com Toyota (107, C1 e Aygo) e Mitsubishi (4007, C-Cross e Outlander), a francesa se encontraria com outra marca da Stellantis, só que desta vez a Fiat. Nos anos 2000, uma parceria com a Iveco iniciou a produção das linhas comerciais de vans e furgões. Da fábrica de Sete Lagoas (MG), saíram Peugeot Boxster, Citroën Jumper, Fiat Ducato e Iveco Daily.

Em março de 2017, a fabricante francesa, então, fez uma ofensiva forte na Europa. Comprou, à General Motors, a Opel e sua subsidiária britânica Vauxhall, se transformando em PSA Groupe, dona destas operações e que já incluía a DS – divisão de luxo da Citroën, transformada em marca própria.

Na parte da italiana, tudo começou a se formar no início da década de 2010. A Chrysler estava muito mal das rodas, o casamento com a Daimler (dona da Mercedes) tinha chegado ao fim em 2007 e a fabricante (dona de Dodge, Jeep e Ram) foi à falência após a crise financeira de 2008.

Em 2010, teve início, então, uma parceria com o Grupo Fiat, que resultou em produtos como o Freemont, a versão da marca italiana para o Dodge Journey. Depois, adquiriu 60% da estadunidense. Em 2014, a italiana concluiu o processo de compra do Grupo Chrysler e se tornou um gigante automotivo por meio da FCA.

Quer mais uma curiosidade de caminhos cruzados? A Fiat pegou um passivo da Chrysler aqui no Brasil anos antes de se imaginar qualquer coisa parecida com a FCA. Em 2008, a marca europeia adquiriu a fábrica de motores da Tritec, em Campo Largo (PR), que por alguns anos produziu motores para a americana e para a BMW.

Quanto vendeu no mundo e no Brasil?

Com base nos números de 2019, as duas empresas, somadas, venderam 8 milhões de carros. No ano passado, atípico devido à pandemia do novo coronavírus, foram mais de 6,8 milhões de unidades no planeta.

No Brasil, porém, são apenas cinco marcas em operação, de fato: Citroën, Fiat, Jeep, Peugeot e Ram. Segundo dados de emplacamentos da Fenabrave em 2020, foram quase 298 mil unidades, só que a esmagadora maioria da FCA: 276.017 (92%), contra 21.882 das francesas.

Carros da Stellantis que gostaríamos de ver aqui

Antes de mais nada, os carros da Alfa Romeo. Se trouxer só o Giulia normal e sua variante esportiva Quadrifoglio – com seu V6 biturbo de 510 cv e 62 kgfm -, já nos damos por satisfeitos. Mas a Fiat só fica na promessa de voltar a trazer os belíssimos carros da marca italiana, que já teve produção aqui (o sedã 2300, projeto FNM) e importação entre os anos 1990 e 2000.

alfa romeo giulia quadrifoglio vermelho de frente
Alfa Romeo Guilia Quadrifoglio

Mas para não nos acusarem de elitistas ou de só pensarmos grande, pois bem, tem carros legais da Opel que poderiam vir para cá. Que tal o Corsinha voltar, só que bem mais moderno e em uma geração com desenho bastante arrojado? Ou mesmo o Astra, para tentar reacender o quase morto segmento de hatches médios?

Tem mais. A DS, que já foi vendida aqui, poderia retornar com seus SUVs de luxo da gama Crossback (DS3 e DS7). Ou mesmo com o imponente sedã DS9. De repente, a parceria pode facilitar a produção/venda aqui de modelos como o Panda ou o novo Tipo, ambos da Fiat, ou mesmo a simpática linha Ypsilon, da Lancia.

Que modelos da Stellantis devem compartilhar plataformas e motores?

Toda parceria dessa natureza busca principalmente diluir custos com o compartilhamento de projetos. O CEO da Stellantis, Carlos Tavares (oriundo do lado PSA da aliança), já avisou que o foco é reduzir em cerca de 40% os gastos por meio da sinergia de plataforma e em desenvolvimento de novos produtos.

Isso, obviamente, começará de fato a médio prazo, já que os próximos lançamentos foram pensados antes de qualquer fusão. De qualquer maneira, pense em novas gerações do 208 e do Corsa que servirão a futuros compactos da Fiat. Ou mesmo em renovações dos Jeep Renegade e Compass que darão base a novos Cactus, 2008 e 3008.

Compartilhamentos no Brasil

Com três fábricas no Brasil (Porto Real, Betim e Goiana), e duas na Argentina, a sinergia é certa. A Stellantis já até confirmou o primeiro lançamento de produto para o segundo semestre, o novo C3 “altinho”, baseado no modelo indiano e feito sobre uma plataforma simplificada da modular CMP, que deu origem ao novo 208.

Esse carro será lançado em outubro e é projeto de três anos atrás, claro, mas pode cair como uma luva para a Fiat ter um compacto para ficar abaixo do Argo e substituir o Uno.

Ou mesmo um crossover menor que o futuro SUV baseado no hatch – lembrando que, na programação da Citroën, teremos um jipinho do C3, em 2022, inspirado no XR chinês, além de um sedã.

citroen c3 xr
Citroën C3-XR pode inspirar modelo nacional

Na outra direção, a PSA do Brasil já estuda usar os novos motores flex turbinados da parceira, aqueles que vão equipar Toro, Renegade, Compass este ano, e Argo e Cronos no início de 2022. Lembre que Peugeot e Citroën reduziram o uso do veterano THP nas linhas – o novo 208 só veio com o velho 1.6 aspirado.

Em que uma pode ajudar outra?

Como dito, o ganho para a Peugeot e Citroën pode ser em termos mecânicos. Sem previsão de investimentos em novos motores, as marcas francesas devem se valer da nova gama turboflex que está para chegar. Ao mesmo tempo, a Stellantis pode ajudar a emprestar uma fama de mecânica simples para os carros das duas, que sofrem com o estigma de pós-venda complicado.

Por outro lado, a Fiat poderia melhorar o acabamento e design de seus carros. Os modelos da marca italiana até evoluíram no trato na cabine – como Argo e Cronos -, mas merecem um toque de sofisticação peculiar às francesas. Sem falar que os carros da Peugeot e Citroën costumam abusar quando o assunto é desenho.

Concessionárias compartilhadas

Esse já é um recurso muito utilizado por concessionários Peugeot e Citroën, e uma ótima forma de diluir custos operacionais. Funciona assim: na frente, os showroom separados das marcas. Nos fundos, a oficina compartilhada entre elas. A curto prazo, incluir Fiat e Jeep nesta lógica vai demorar, mas quando os modelos começarem a usar a mesma plataforma, será uma opção.

A salvação de Peugeot e Citroën?

A PSA no Brasil passa por uma crise e um profundo processo de reestruturação há pelo menos cinco anos. A empresa fez mudanças na rede e no pós-venda, e investiu pesado em ações para desmistificar questões de manutenção. Mesmo assim, Peugeot e Citroën, juntas, fecharam 2020 com participação de pouco mais de 1% – A Fiat anotou 16,5% e a Jeep, 6,6%.

A fusão no Brasil pode ser, senão uma tábua de salvação para as francesas, uma aceleração e otimização de suas operações para voltar a operar no azul – e vender. Hoje, a Citroën, por exemplo, só tem um carro na vitrine, o C4 Cactus, apesar de a marca garantir que ainda saem unidades de C3 e Aircross de Porto Real (RJ).

A Stellantis pode não só diversificar o portfólio das duas marcas da PSA, como solucionar o problema da ociosidade da fábrica fluminense. Com capacidade para 250 mil veículos ano, produziu nem 10% disso no ano passado.

Fotos: Divulgação

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27 Comentários
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Davidson Leonardo da Cruz Rocha 24 de novembro de 2022

Boa tarde ! eu acho que essa fusão sera muito importante , para o mercado internacional , porque assim haverá troca de ideias , entre as montadoras , onde uma tem a funcionalidade melhor que a outra , e com isso quem sai ganhado e o consumidor final.

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JORGE 6 de fevereiro de 2022

Eu para minha concepção acho que cada carro tem que utilizar peças e componentes genuínos pois já nasceram e foram projetados para esta finalidade. Tive um Nissan Kicks que apresentou problema no marcados de combustível e parou imediatamente na rodovia com combustível. Ao comentar com especialista no assunto o esclarecimento foi que a fusão com a Renault não foi bem sucedida por compartilharem as mesmas peças. Enfim sou do tempo de auto latina e sociedade complicado. Sempre uma marca quer levar vantagem sobre a outra.

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Samuel Gonçalves 18 de agosto de 2021

Olá boa noite, me chamo Samuel Gonçalves, procuro uma oportunidade de emprego, moro em Betim e tenho interesse em trabalhar na Fiat, existe algum email que eu possa encaminhar meu currículo ? Agradeço desde e pela atenção.

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Teles 1 de julho de 2021

A UNICA COISA q presta da stellantis é o softtouch (acabamento interno), o resto é uma M…..inclusive a mecânica.

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Leo 8 de dezembro de 2022

Disse Tudo! Jeep… Peugeot… Citroen logo estarão decadentes igual os carros da jeep e Fiat! Uma alegria quando compra e uma maior quando vende! Sou dono de um compass 1.3 turbo (novo Marea)!

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Paulo 17 de abril de 2021

Que a fusão beneficie o Brasil com o melhor de cada linha e mais empregos. Não podemos mais perder fábricas de automóveis, empregos e subsidiárias.

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Leandro Soares 12 de março de 2021

Sempre fui apaixonado por automóveis, como muitos brasileiros. Toda mudança organizacional enfrenta resistências e expectativas. Tenho certeza que essa nova estrutura trará grandes benefícios para todos os envolvidos nos negócios, seja para os fabricantes, para as suas redes de distribuição e, também, para o consumidor final. Será questão de pouco tempo a adaptação aos novos tempos pós pandemia. SUCESSO A TODOS!

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Rocha 6 de março de 2021

Se PSA tem participação de 1% no mercado de novos. Imagina a tristeza dos proprietários quando precisam vender seus usados das marcas. Essas marcas só servem pra quem desvalorização do patrimônio não significa nada. Tive um C3 2003 e na época não tive grandes problemas na revenda, mas na atualidade acredito que a realidade seja bem diferente.

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Rafael José Fávero 8 de fevereiro de 2021

Irei compartilhar sua reportagem pois acho muito relevante este conteúdo para meus seguidores, carro é um assunto masculino e feminino e para o engajamento isso é relevante. Parabens pela reportagem.

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Ruy Jr 3 de fevereiro de 2021

Olha, gente, eu não tenho nada contra carrps franceses mas, … eu gosto (gostava …) de Fiat ! Porque é duro, porque a caixa é encrenqueira, porque é espaçoso, porque é ‘italiani’, parente da Ferrari.
Tive Uno 1.6R, Tipo 1.6ie, Tipo Sedicivalvole (está com 197m Km), e demorei muuuito para ter um Marea Weekend Turbo, porque tem a mão da GM, q me desagrada. GM é ruim ? Não. Mas, não é Fiat ! Agora, comprei, usado, aquele q me parece ser o último Fiat: um Txinqüetxênto Abarth ! Essas fusões e compartilhamentos só funcionam na cabeça de gente que NÃO curte carros: os caras do dinheiro das empresas e essas oragas chamadas marqueteiros. Sou engenheiro mecânico por formação e aposto que, se entrevistados, meus pares, em qq dessas empresas, seriam contra esse juntamentos. A tal sinergia pode (bem fraquinho, ‘tá ?), pode favorecer o consumidor mas, para quem curte carro … De onde um aficcionado pode curtir um Lamborghini com motor … VW ?! Fala sério ! ISSO NÃO É um Lamborghini ! O motor, a mecânica, são a alma do carro !!! Imagina uma Ferrari com um motor V8 hemi … Fala sério !!! Está cada vez mais sem graça. Tristeza.

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Dw.C 16 de fevereiro de 2021

Bem assim, Ruy Jr.
Meu primeiro foi um Spazio, aí sim, era câmbio duro. A Elba 1.6ie último modelo completa muito boa. E a icônica Marea 2.4 20v HLX, carro espetacular. Fiat é Fiat. Paixão.

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Virgilio Marques 3 de fevereiro de 2021

F.J.P.C. = FUJAM PARA AS COLINAS!

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Marcus Aurélius Souza 3 de fevereiro de 2021

Essas fusões para o consumidor final é tipo… tanto faz se vc comprar um fiat ou Renault! A exemplo do passado com a fusão VW-Ford, espero que tenha o mesmo fim. Sobreviver um período de crise e depois cada pro seu lado.

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Fábio Reimberg 3 de fevereiro de 2021

Será que teria alguma possibilidade de continuidade do c4 lounge?

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Virgilio Marques 3 de fevereiro de 2021

F.J.P.C. = FUJAM PARA AS COLINAS!

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Fábio Reimberg 29 de abril de 2021

No caso esse Uno será um Uno sedã ? Qual motorização ?

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Conconco 29 de abril de 2021

Tio Binho o motor é V8 1.0 turbo, o melhor do mundo e de todos os tempos

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Luiz Grinberg 3 de fevereiro de 2021

Eu não posso reclamar das francesas da PSA, pois as tenho e nunca tive qualquer problema com os veículos, inclusive já morei em sítio e utilizava bem a estrada de terra e os carros franceses? Esses se comportaram muito bem! Por isso continuo fã deles. Infelizmente não posso dizer de outras marcas.

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Luiz 3 de fevereiro de 2021

Eu também já estou no meu segundo Peugeot e estou plenamente satisfeito. Nunca tive problemas com nenhum deles. Agora já com Fox comprado zero só tive problemas.

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Fabrício 1 de janeiro de 2022

Comprei um Peugeot 207 e estou muitíssimo satisfeito, carro completo e muito gostoso de andar

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Também comprei um Peugeot 207, usado, e estou amando, carro completo, macio e não me dar gastos financeiros como alguns me disseram que eu teria. 8 de janeiro de 2022

Estou amando meu Peugeot 207 2008.

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OpalaSemCaneco 2 de fevereiro de 2021

Imagina se eles lançam o novo 206 com mecânica de Marea

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Rodrigo 2 de fevereiro de 2021

Não tenho nada a reclamar dos carros da Peugeot. Foram ótimos e nunca tive problemas.

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OpalaSemCaneco 3 de fevereiro de 2021

Sabendo usar… Até bomba aguenta kkkkkk

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