TÜV SÜD erra desde barragens até economizadores

Entidade de certificação alemã, apesar de centenária e respeitada, já emitiu diversos certificados duvidosos

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Por Boris Feldman
Publicado em 28/09/2019 às 09h00

O rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, certificada pela TÜV SÜD, não é o único mal-feito desta entidade alemã, também acusada de emitir certificados irregulares em usinas nucleares na Alemanha e na Coreia do Sul. Em 2013, sua “irmã” TÜV NORD foi incriminada na França por ter aprovado próteses mamárias que se romperam em 1.600 mulheres.

TÜV signfica Technische Überwachung Verein (Associação para Vistoria Técnica), criada na Alemanha no século XIX para verificar a qualidade de caldeiras de vapor após a explosão de uma delas em 1865, numa cervejaria em Manheim. No início do século XX, ela iniciou a vistoria veicular.

Várias dessas entidades surgiram na Alemanha e foram se associando até que permaneceram três delas: a TÜV Rheinland, a TÜV NORD e TÜV SÜD. Entre as diversas filiais pelo mundo, no Brasil tem a TÜV Nord (como BRTÜV) e a TÜV SÜD do Brasil.

Estabeleceram padrões internacionais para a certificação de produtos e serviços, mas a TÜV SÜD se tornou reconhecida principalmente pelo rigor de sua inspeção veicular, certificando automóveis, peças e acessórios. Na Europa, só se comercializa uma peça de reposição depois de certificada pela TÜV SÜD. Mas elas se dedicam também a consultoria, certificação, testes e treinamento em diversos outros setores, inclusive barragens.

No último dia 19, funcionários da Vale e da TÜV SÜD foram formalmente indiciados pela Policia Federal por falsidade ideológica e uso de documentos falsos para permitir o funcionamento da barragem da mina do Feijão (em Brumadinho) que se rompeu em janeiro deste ano.

Pinox: picaretagem aprovada pelo TÜV SÜD?

TÜV SÜD aprovou pinox
Pinox foi aprovado pelo TÜV SÜD (Foto Alexandre Carneiro | AutoPapo)

Em 2017, tomamos conhecimento da venda no Brasil de um “economizador” de combustível chamado BE-Fuel Saver. Que não passa de um pino de aço que o motorista joga no tanque (gasolina, etanol ou diesel) ou prende-o junto a uma mangueira que leva o combustível ao motor.

O pino, chamado aqui de Pinox, é produzido na Austria e vendido no Brasil por um importador. Para convencer os incautos, “o Pinox melhora o desempenho do motor e reduz em até 20% o consumo de combustível”. E anuncia que suas qualidades são certificadas por uma filial da TÜV SÜD em Dubai, no Oriente Médio, a TÜV SÜD Middle East.

Embora jamais tenhamos acreditado em “economizadores”, desta vez tomamos o cuidado de investigar a tal certificação pelo TÜV SÜD, uma entidade centenária e merecedora de  respeito na Alemanha. Chegamos a duvidar de sua presença no Oriente Médio e consultamos a matriz a respeito da filial e do teste com o BE-Fuel Saver. Na resposta, ela sugeriu que se consultasse sua filial brasileira, que confirmou nossas suspeitas.

O engenheiro Sergio Murillo Mello, diretor-geral da TÜV-SÜD Brasil, nos respondeu que:  “não conseguimos rastrear nenhum certificado de conformidade para este produto. Isto quer dizer que não existe nenhum certificado de conformidade com qualquer norma registrado em nosso sistema.” E que: “…nós realmente temos uma filial no Middle East, mas, até onde eu sei, ela não tem laboratórios automotivos.”

E mais: “… os resultados de relatórios de ensaios são cheios de tecnicidades e dificilmente uma pessoa sem a formação específica consegue tirar conclusões corretas. Ensaios limitam-se a apresentar resultados de testes aplicados em uma amostra determinada e sem nenhuma conclusão específica.”

Confirmou portanto que o certificado emitido pela filial do TÜV-SÜD não tinha consistência técnica e tão discutível quanto o das próteses mamárias na França ou da barragem de Brumadinho. Óbvio tratar-se de uma maracutaia pois o que levaria uma empresa austríaca a se certificar numa filial do longínquo Oriente Médio, se estava num país vizinho da Alemanha?

Contemplamos então o Pinox com nosso tradicional troféu de a maior mentira do ano, o “Pinóquio de Ouro”, obviamente contestado pelo importador no Brasil. Que inicialmente nos ameaçou e acabou nos contemplando de volta com uma notificação extrajudicial. Avant-premiere de uma ação judicial que jamais pousou em nossa caixa postal.

Entenda como testamos o Pinox: veja o vídeo!

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