O Voyage que, mesmo roubado, insistia em voltar para a família

'Quando começa errado, parece que não para de dar errado. Mesmo depois de algumas buscas na região, conclui-se que o Voyage havia mesmo desaparecido'

volkswagen voyage
Por Douglas Mendonça
Publicado em 25/02/2020 às 10h00
Atualizado em 26/02/2020 às 09h30

Esse “causo” conta a trajetória de um Voyage LS 1985 que serviu, ou melhor, ainda serve a uma família paulistana há quase 35 anos. Tudo começou no segundo semestre de 1985, quando dona Solange, a matriarca, optou pela compra do modelo que havia encontrado a venda no mercado de carros usados.

O carrinho atendia bem as necessidades de sua família de três pessoas: ela, o marido Maércio – policial militar das antigas – e seu filho recém-nascido. Esse “causo”, me foi contado pelo Marcelo, o segundo filho do casal nascido no início dos anos 90, e hoje um homem de 30 anos cuja paixão pelos automóveis o levou a trabalhar no departamento de marketing da Ford.

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O Voyage que dona Solange escolheu era bem bacana: cinza claro metálico com interior monocromático, volante especial de 4 raios e bancos diferenciados. Um carro bem diferente para a época.

Além disso, o carro possuía também rodas especiais de liga leve da Jolly, de desenho bem charmoso naqueles tempos. O Voyage que dona Solange escolheu não decepcionou a família, atendendo muito bem inclusive ao seu Maércio, quando estava de folga em seu trabalho na polícia.

Os anos se passaram e o tal Voyage, com méritos, seguia trabalhando duro para essa família. No incio do ano 2000, o carro da Volkswagen começou a atender as necessidades do irmão mais velho que começava a cursar a faculdade. Vida dura!

Nesse tempo, Marcelo que ainda era um garoto partindo para a adolescência, dedicava uma parte de seu tempo a cuidar do querido Voyage, limpando, polindo e deixando-o sempre impecável. Conhecia o carro como a palma de sua mão.

volkswagen voyage

Mas, no carnaval de 2004, uma desgraça na família: o pai do seu Maércio veio a falecer repentinamente, e no corre-corre para atender as necessidades da família, o Voyage foi furtado em uma rua do bairro de Perdizes em São Paulo.

Seu Maércio havia estacionado o carro em uma descida íngreme perto da casa dos pais e, quando voltou, percebeu que o querido carro da família não estava mais: um amigo do alheio, o famoso ladrão, aproveitou a pirambeira e se mandou com o carro que já estava há quase 20 anos na família.

Tem dia, que parece noite! Quando começa errado, parece que não para de dar errado. Mesmo depois de algumas buscas na região, conclui-se que o Voyage havia mesmo desaparecido, como por encanto. A família se entristeceu, mas fazer o que? O fato é que o carro dificilmente voltaria!

Depois de tanta desgraça, aos poucos, a vida da família paulistana foi voltando ao normal, mas, agora, sem o carro querido. Mas, como sabemos, o mundo dá voltas e, em algumas vezes, essas voltas acabam fazendo justiça.

Marcelo, que nessa altura do campeonato já tinha perto dos 15 anos de idade, um dia no final de 2004, mesmo ano em que o carro foi roubado, foi acompanhar a dona Solange em uma consulta médica.

Voyage encontrado! Será?

Na volta, estavam passando pela zona norte da cidade de São Paulo e, como esse mundo é pequeno, o garoto Marcelo viu estacionado em uma rua do bairro do Mandaqui um Voyage cinza que parecia aquele da família roubado no início do ano naquele fatídico carnaval. Pediu para a mãe dar uma volta no quarteirão e parar perto do tal carro, que foi fiscalizar pessoalmente.

As placas não eram as mesmas, as charmosas rodas de liga leve haviam sido trocadas por rodas comuns de aço e o volante esportivo de quatro raios dava lugar a um comum de apenas dois raios. Mesmo assim, Marcelo procurou alguns frisos que ele sabia que faltavam e alguns arranhões que só ele que cuidava do carro conhecia.

O friso faltante continuava ausente e todos os arranhões que ele sabia continuavam na lataria do Voyage. Bingo! Aquele era o carro roubado da família.

No mesmo momento telefonou para o pai, seu Maércio que, naquele momento. estava de serviço na Polícia Militar e insistia com a mãe incrédula de que aquele era o carro da família, mesmo que aparentemente e pelas placas não fosse o mesmo carro.

Claro, imediatamente chegou uma viatura da Polícia Militar e com aquele furdúncio que se armou, o tal “dono do carro “também surgiu para saber o que estava acontecendo. O tal dono não tinha os documentos sob a alegação de que havia perdido e os números do chassi estavam grosseiramente adulterados.

Seu Maércio, o dono legítimo, chegou com os documentos do carro e as chaves que serviram perfeitamente na porta e no contato, como o garoto Marcelo havia afirmado.

O dono de araque, além de não ter os documentos, também tinha chaves “mandrake” longe das originais. Todos foram levados a delegacia para esclarecimentos e o delegado de plantão foi obrigado a nomear o seu Maércio como fiel depositário do tal veículo.

Depois de exames feitos no chassi do Voyage pela perícia técnica, ficou provado que os números haviam sido adulterados e que os números originais por baixo daqueles falsificados eram os que constavam no documento original apresentado pelo seu Maércio.

Restou ao dono de araque explicar no inquérito que foi aberto contra ele porque é que ele trafegava com um carro sem documentos, com uma placa falsificada e com chassi de números adulterados.

O final feliz desse episódio é que o Voyage está até hoje na família do seu Maércio e da dona Solange e atualmente passa por uma minuciosa restauração feita pelo apaixonado Marcelo, que praticamente cresceu dentro desse carro: seu velho carburador foi trocado por um moderno sistema de injeção eletrônica e recebe alguns mimos de modernidade.

Uma história de final feliz na qual o bandido se deu mal e o mocinho levou a melhor.

Foto Volkswagen | Divulgação

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