VP brasileiro da BYD renega origem chinesa da marca

Comentário xenofóbico foi publicado pela própria marca em um release divulgado para imprensa em 2 de dezembro

Fábrica da BYD em Camaçari (BA) FOTO Divulgação 3
Marca chinesa não quer ser relacionada com suas concorrentes por ter 11 anos de atuação no Brasil (Foto: BYD | Divulgação)
Por Marcelo Jabulas
Publicado em 03/12/2025 às 19h00

A BYD não gosta de ser taxada como marca chinesa. A afirmação veio de Alexandre Baldy, que acumula as funções de vice-presidente sênior, head comercial e também de marketing da filial Brasileira. A declaração foi dada em um release divulgado pela marca nesta terça-feira (2).

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No documento, que relaciona o bom desempenho de vendas da BYD com sua estreia no Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, Baldy disparou:

As pessoas às vezes, por esquecimento, desatenção ou alguma intenção que não vem ao caso, incluem a BYD num grupo geral de ‘as chinesas’ que absolutamente não corresponde à verdade. O fato de a BYD estar no Brasil há 11 anos com outros negócios faz muita diferença na nossa operação de automóveis”, disse Baldy, no release.

A colocação do executivo é um tanto estranha, uma vez que a BYD Auto foi fundada em 2003, na China, após a aquisição e reestruturação da Xi’an Qinchuan Automobile. Além disso, a fala tem claro tom xenófobo, uma vez que a desvinculação soa como uma forma grosseira de agregar valor à BYD em detrimento das demais.

O simples fato de a empresa ter operações há 11 anos não faz dela brasileira, da mesma forma que o centenário da General Motors não ceifa suas raízes em Detroit. O mesmo é válido para todas as outras marcas de origem estrangeira como Volkswagen, Fiat, Toyota, Honda, Renault e por aí vai. Se fosse assim, a JAC Motors seria tupiniquim há muito tempo.

Presença de mercado não e naturalização

Claro que uma marca, depois de anos de operação em um mercado, se ajusta às necessidades de cada praça e a BYD já conhece bem o consumidor brasileiro. Mas suas concorrentes também fazem isso há décadas e desenvolvem carros de acordo com as peculiaridades de cada mercado. Mas isso não apaga suas origens. Pelo contrário, elas sempre enaltecem o lugar de onde surgiram, com emblemas, séries e demais referências.

BYD ASPA BALDY
Fala do executivo destoa da mensagem principal de seu release (Foto: Reprodução)

A Fiat, por exemplo, iniciou as comemorações de seu cinquentenário no Brasil, que será celebrado em julho de 2026. Sua primeira ação foi fazer um retorno ao berço da marca, na fábrica de Lingotto, em Turim. O prédio, que hoje é grande centro cultural, é um local de orgulho para os italianos e também para a filial brasileira.

A General Motors, que comemora seus 100 anos de Brasil, fez o mesmo. Foi até Detroit, no Michigan, para revelar como serão os próximos 100 anos no país, abrindo as portas de seu gigante centro de desenvolvimento.

Marcas chinesas também têm feito um trabalho gigantesco para demonstrar seu avanço tecnológico de sua indústria natal. Quem visitou os salões de Pequim e Xangai pôde ver de perto como ela é avançada ao ponto de todas as demais marcas ocidentais terem se associado a elas para conseguirem se manter na corrida da mobilidade, não apenas na eletrificação.

Fla-flu ideológico

O correto seria Baldy defender que sua marca conhece melhor o mercado por estar aqui há mais tempo e emprega a alta tecnologia patenteada como diferencial para o consumidor. Mas quando declara: “as pessoas às vezes, por esquecimento, desatenção ou alguma intenção que não vem ao caso, incluem a BYD num grupo geral de ‘as chinesas’ que absolutamente não corresponde à verdade”, soa pejorativo e xenófobo.

E o pior, reforça um discurso preconceituoso não apenas sobre carros chineses, mas também sobre a cultura daquele país. Ou seja, ele joga contra o próprio patrimônio.

Também chama atenção que no mesmo release, o presidente da BYD do Brasil, Tyler Li, exalta o nível de sofisticação de seus carros justamente no mercado chinês. “O que se observa na China é que nossos carros elétricos e PHEV estão muito à frente em desenvolvimento. Nossos competidores tentam ganhar mercado com modelos a combustão mais baratos”, disse o executivo.

Ou seja, em um mesmo documento público o presidente da filial enaltece a superioridade de seus carros, feitos na China, e seu vice tenta apagar a origem de seus produtos. Pelo visto, o senhor Li não revisa os releases que são disparados para a imprensa (e o sr. Baldy parece ter certeza disso).

A fala de Baldy transparece uma preocupação com o Fla-Flu ideológico de redes sociais, que só reforça um discurso polarizado, ao invés de buscar desconstruir preconceitos.

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1 Comentário
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Santiago 3 de dezembro de 2025

Me parece mais una frase elaborada de improviso, e facilmente sujeita a ser tirada de contexto.
Quando o executivo rejeita o rótulo “essas chinesas”, certamente é pela conotação pejorativa que ainda persiste de um tempo relativamente recente em que a China ainda não eta o sinônimo de alta tecnologia que ela é hoje. Fato é que a China transformou-se em bem menos tempo do que demoram pra desaparer certos preconceitos culturais.

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