VW Voyage já se chamou Fox! E por que não teve Voyage ‘Bolinha’?
Sedã derivado do Gol fez relativo sucesso nos mercados norte-americanos e na América Latina; disputa interna 'matou' o modelo em 1996
Sedã derivado do Gol fez relativo sucesso nos mercados norte-americanos e na América Latina; disputa interna 'matou' o modelo em 1996
Já contei aqui no AutoPapo a história do VW Voyage desde o seu lançamento até a sua primeira grande reestilização em 1987. Pela boa fama que o modelo construiu por aqui, a Volkswagen começou a exportar o Voyage em grande escala para países da América Latina, e até para os EUA e Canadá, além de algumas unidades enviadas para o Oriente Médio.
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Vale ressaltar que nessas caminhadas internacionais, o Voyage foi rebatizado com outros nomes de acordo com o país que era vendido: Gacel ou Senda (exclusivo da Argentina), Amazon (no Peru, Chile e Guatemala) e Fox (EUA, Canadá e Oriente Médio).
Claro que a cada país que era exportado, o Voyage, além do novo nome, ganhava várias diferenças para se adequar às legislações regionais. Os Fox (mais modificados em relação ao Voyage nacional), eram oferecidos na carroceria de duas ou quatro portas e tinham a missão de ser o carro de entrada da VW na América do Norte.
Para ser vendido nos EUA, o Fox (ou Voyage) passou por mais de 2.000 melhorias em diversos pontos (mecânica, acabamento, visual, segurança, equipamentos e muito mais).
Além disso, o “Voyage do Tio Sam” era equipado com o motor AP-800, mas com a enorme diferença da injeção eletrônica de combustível, que substituía o obsoleto carburador e garantia potência/torque extra: 81 cv e 12,8 mkgf, sempre abastecido com gasolina.
O câmbio manual era sempre o conhecido 3+E, o mesmo dos Voyage nacionais, enquanto o catalisador e sonda lambda, que controlam as emissões de gases poluentes, já eram itens de série desde sua estreia. No Brasil, esses itens se tornaram obrigatórios somente no início da década de 90.
De início, o VW Fox sedan tinha visual exclusivo, que incluía faróis, grade e parachoques inéditos, além de modificações na lateral e traseira. O interior, também diferente, era o mesmo que surgiria na linha nacional em 1988, com os botões satélite no painel.
Com o tempo, ele passou a compartilhar o mesmo visual com o Voyage brasileiro, mas só depois da reestilização de 1991 (apelidada de “frente chinesa”, que falaremos mais pra frente), enquanto a transmissão manual de 5 velocidades se tornava um opcional dos Fox.
Eles foram oferecidos no Canadá até 1992, enquanto nos EUA as vendas se estenderam até 1993, acumulando surpreendentes 202 mil unidades durante seis anos (uma média que supera os 33 mil carros/ano).
Voltando ao Brasil e seu Voyage nacional, a Volkswagen relançava seu sedan popular com carroceria quatro portas em 1990, ainda com a frente de 1988. Nessa época, o consumidor brasileiro já buscava com cada vez mais frequência os carros quatro portas, enquanto as carrocerias duas portas cada vez mais caíam no esquecimento.
Alguns meses antes, por conta da união VW/Ford na Autolatina, todos os modelos equipados com o motor AP-600 (1.6), incluindo o Voyage, passavam a utilizar o 1.6 CHT da Ford (rebatizado para AE, de Alta Economia), que era montado longitudinalmente e tinha origem no Del-Rey e Belina.
Em 1991, mais uma grande mudança marcava a família do Gol, incluindo o Voyage: a nova frente, mais baixa, que incorporava os modernos faróis afilados, grade plástica, novos parachoques e capô do motor, melhorando até mesmo o perfil aerodinâmico, que não era lá dos melhores.
Chamada carinhosamente de “Chinesa”, essa frente mais moderna era acompanhada por pequenas mudanças na traseira e interior, mas nada muito significativo. A mecânica permanecia a mesma, ou seja, motor 1.6 AE (CHT) ou 1.8 – neste caso o bom e velho AP, de projeto alemão.
Para a alegria de uns e tristeza de outros, o Voyage com o motor AE não durou muito, e saiu de linha em meados de 1993, justamente na época do fim da parceria entre Ford e VW na Autolatina.
Voltavam os padrões alemães na mecânica, ou seja, motor AP-600 para as versões de entrada e AP-800 para as mais caras. Com a chegada do Gol bolinha (geração seguinte) em 1994, restava ao Voyage ter sua produção centralizada na Argentina, onde já era produzido para atender o mercado local.
Os Voyage argentinos tinham sempre quatro portas e ofereciam os AP 1.6 e 1.8, mas duraram pouco: tiveram o seu fim decretado já em 1996, dando lugar ao pouco popular Polo Classic, também fabricado no país hermano.
Há controvérsias sobre qual o real motivo do Voyage derivado do Gol bolinha nunca ter existido. Uma delas diz que o lançamento do Polo Classic, um pequeno sedan derivado do Seat Cordoba espanhol que era produzido na Argentina com a marca VW, chegaria ao mercado nacional substituindo o Voyage.
Aliás, o Polo Classic também veio substituir o Logus, um carro feito pela VW em épocas de Autolatina que utilizava a plataforma do Escort, e também deixou de ser produzido no início de 1997.
Teoricamente, o Polo Classic seria o salvador da pátria dentro da VW, substituindo um carro que saía de linha por questões contratuais com a Ford e economizando o investimento em design, ferramental, estamparia e engenharia de um novo Voyage bolinha. Essa é a versão contada pelo pessoal de fábrica.
Mas, na realidade, há uma outra história que circula pelos bastidores, de que o acontecido não foi muito bem esse. O CEO da VW do Brasil na época teria pedido ao diretor do design que fizesse, sem prévia consulta à Alemanha, o desenvolvimento do que seria o futuro Voyage do Gol bolinha.
Esse trabalho foi feito, e uma maquete em escala reduzida foi enviada para a Alemanha para testes no túnel de vento e aprovação pelo design alemão. O tal protótipo do sedan feito no Brasil tinha formas bonitas, mas sem a personalidade da marca na época (ele teria, inclusive, uma frente com elementos que remetiam aos Jaguar com quatro faróis).
Dessa forma, ele não foi bem visto pelo responsável do design de Wolfsburg, que ficou profundamente incomodado com a atitude do CEO brasileiro e seu líder de design, que passaram por cima de sua autoridade de chefe da matriz.
Claro que esse fato repercutiu negativamente para esse novo Voyage, e o diretor alemão pediu ao chefe do design brasileiro que fizesse alguns esboços do que ele acreditava ser a cara do novo Voyage G2.
Alguns rascunhos levaram à concepção de um protótipo em clay (massa), e essa nova ideia foi prontamente aprovada pelo Sr. Piëch, então CEO da VW mundial, e pelo diretor de design de Wolfsburg.
Mas um problema havia sido criado: o tal carro não era àquele do gosto do CEO que cuidava da VW do Brasil, nem tampouco de seu diretor de design responsável pelo estúdio brasileiro.
Resultado? O CEO brasileiro, juntamente com seu chefe de design, através de cálculos matemáticos, alegou que o Voyage bolinha não seria economicamente viável, e que o melhor mesmo era desistir completamente do projeto desse sedan derivado da segunda geração do Golzinho.
Para eles, o Polo Classic tinha a competência de assumir esse espaço, mas sabemos que isso nunca aconteceu, e, por isso, nós nos privamos da convivência com o Voyage por 12 anos, e o fracasso do Polo Classic foi gritante.
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Eu tenho foto do Voyage ‘bolinha’.
Aqui – INFELIZMENTE – é impossível postar.
você tem fotos do interior dele?
Foi uma pena a VW não ter dado um jeito de fabricar o Logus, pois era muito mais bonito, só faltava uma versão 4 portas. Esse Polo Classic era bem estranho com sua traseira desproporcional, por isso não deu certo por aqui. Acho que o CEO brasileiro e o chefe de designer deixaram a matriz da VW “quebrar a cara” com esse modelo, pois no fundo sabiam que seria um fracasso.
Nobre amigo POLVO: eu tive um Logus GLSI, tão bonito quanto imprestável, por “soluções” de Engenharia ridículas, provenientes da FORD BRASIL, useira-e-vezeira nas “meias bocas”, carros muito elegantes, é fato, porém, sempre deficientes em algum ponto, e,g. o Ford Escort. Eu fui gerente pós-vendas de uma concessionária VW, na época da AUTOLATINA (união idiota da VW com a FORD). Palavra, amigo, os Apollo, Logus e Pointer ME TORRAVAM O S_ _ O, de tanta reclamação!
O chefe me pediu comprar o Logus que eu tive: – “… daí vc comprando, Rodrigo, o povo vai acreditar nesse carro…”. TROQUEI MINHA VW QUANTUM GLSI, na cor preto-gótico pelo belíssimo Logus GLSI cor vermelho stilus, o pior erro automobilístico de minha vida.
Saudações a você! Engº MSC Rodrigo MARTINIANO.
Muito boa matéria
Muito curioso essa história e ironicamente a próxima geração do Polo saiu com a dianteira com faróis 4 elementos redondos. As vezes a matriz ficou mordido que ficou muito melhor concedido que o Polo classic que era novidade ainda.
Lembro que li uma vez um rumor semelhante com o Golf mk4. A unidade brasileira submeteu estudos a matriz a respeito de um facelift profundo no Golf 4 nacional já que o mk5 não viria para cá. Mas que a matriz rejeitou a ideia. Boatos que tinha ficado muito bem resolvido e ofuscado até o mk5 alemão. Por isso, houve atrasos e recebemos o “golf 4,5” tardiamente e com design controverso.