Carro e casa continuam sendo o sonho da maioria

Os avanços tecnológicos nos séculos XX e XXI contribuíram para um salto de qualidade tantos nos carros quanto nas residências

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Por Boris Feldman
Publicado em 30/06/2018 às 17h00
Atualizado em 11/02/2020 às 19h46

Carro e casa fazem parte, nesta ordem, do nosso imaginário e sempre foram sonho de consumo. Há divergência entre pesquisas: algumas apontam que as redes sociais reduziram o contingente de adolescentes interessados em ter seu próprio automóvel, de conquistar com ele sua liberdade de ir e vir, principalmente nos EUA. Outras indicam que o pessoal desta faixa etária (cerca de 18 anos) continua tendo carros povoando seus sonhos. No Brasil, talvez pela precariedade do nosso transporte público, nosso jovem continua mantendo o sonho do carro na garagem.

Desde que foi inventado, há mais de 100 anos, o automóvel passou por substanciais transformações. Nasceu vilão e foi combatido por carruagens e ferrovias. Logo se transformou em sinal de status e a servir altos dignitários, autoridades e milionários. Depois se popularizou e se tornou meio de transporte de fato. Virou herói cantado em prosa, verso, cinema, teatro e literatura. Mas voltou hoje à condição de malfeitor pois polui, congestiona e mata.

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A casa, milhares de anos mais idosa que o automóvel, também passou por inúmeras transformações desde que deixou a caverna. De simples abrigo contra as intempéries, conquistou novos padrões de conforto e segurança. Entre as diversas modernidades implantadas durante séculos, foi até dotada (!) de vaso sanitário na casa de banhos.

Avanços tecnológicos nos séculos XX e XXI contribuíram para um salto de qualidade em carros e casas. A eletrônica tornou o automóvel mais seguro, eficiente e confortável. A casa foi beneficiada com uma parafernália de equipamentos de conforto, lazer e segurança.

O carro sempre interferiu no padrão de habitação. Tornou desnecessária a proximidade do lar com o trabalho e estimulou a expansão de zonas residenciais para locais distantes dos centros. Além do crescimento vertical dos prédios de apartamentos, permitiu implantar condomínios horizontais afastados das grandes cidades.

O automóvel foi sempre um retrato de época, das diversas fases sociais e econômicas de cada país. O luxo e a ostentação dos modelos europeus anteriores à Segunda Grande Guerra deram lugar a carros simples e econômicos do pós-guerra. Cada ciclo de prosperidade da economia resulta em automóveis maiores, mais potentes e com profusão de cromados.

A motorização do Primeiro Mundo atingiu índices inacreditáveis de habitantes por automóvel: 1:1 nos EUA, 1,7 na Europa. Mesmo em países com excelência de transportes públicos e de massa. No Brasil, ainda derrapamos em cinco pessoas por carro.

Carro expressa melhor o sinal de status que a casa. Ambos evidenciam a saúde financeira do dono. Mas a casa, mesmo sofisticada ou abrigando raríssimas e valiosas obras de arte, fica atrás de muros ou numa cobertura do prédio e admirada apenas pelos mais chegados da família. Automóvel circula, se exibe, para na porta do restaurante ou da casa de shows. Está no topo dos sinais externos de riqueza. E, de tempos em tempos, o “must” automobilístico varia, muitas vezes influenciado pela própria indústria interessada em manter seus níveis de faturamento. Se, até dez anos atrás, era chique chegar no restaurante com um belo automóvel do tipo sedã, ele hoje perde o brilho e o charme para o utilitário esportivo. E está enganado quem pensa que o SUV faz sucesso apenas no Brasil: no respeitável e conservador Velho Mundo ele já representa 25% do mercado.

Mas, o setor imobiliário não fica atrás e também cria seus apelos consumistas: o feliz motorista que finalmente realizou o sonho de seu SUV (custei, mas cheguei lá!) jamais compraria hoje um apartamento que não tenha na varanda um “Espaço Gourmet”.

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Boris Feldman

Jornalista e engenheiro com 50 anos de rodagem na imprensa automotiva. Comandou equipes de jornais, televisão e apresenta o programa AutoPapo em emissoras de rádio em todo o país.

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