Ponto morto ou banguela: pode ou não pode? Economiza combustível?
A eterna dúvida sobre a banguela: "Ao contrário do que muitos pensam, isso não economiza combustível, e sim aumenta o consumo"
A eterna dúvida sobre a banguela: "Ao contrário do que muitos pensam, isso não economiza combustível, e sim aumenta o consumo"
“Jogar o ponto morto” é bom ou ruim? Boris explica que, na verdade, para aproveitar a “banguela”, você precisa analisar o tipo de descida a ser percorrida.
[TRANSCRIÇÃO]
“Nós já comentamos aqui a respeito de jogar a banguela ou ponto morto em uma longa descida na estrada. Ao contrário do que muitos pensam, isso não economiza combustível, e sim aumenta o consumo. Além disso, descer engrenado em uma forte descida poupa também o sistema de freios.
Um ouvinte mais atento pergunta: numa longa e forte descida, onde seria necessário usar os freios, a explicação está correta. Mas se a descida não tiver um ângulo muito acentuado e que nem seria necessário o uso dos freios, não justificaria jogar o ponto morto?
Sim, ele tem razão, se a descida não for muito forte, descer engrenado até prejudica o embalo, o uso da inércia para movimentar o carro, e ainda obrigaria o motorista a pisar no acelerador antes do tempo necessário, desprezando a ajuda gratuita da lei da gravidade”.
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Este é um post antigo, mas o que melhor apresenta a questão até hoje, que continua a gerar controvérsias e novos artigos na mídia; afora este do AutoPapo, encontrei apenas no Best Cars alguns leitores questionando a pós-verdade onipresente de que “banguela não economiza combustível, pois carros com injeção eletrônica possuem cut-off”. Ora, isso é um atestado de falência da educação de física no Brasil, como já advertira o físico – e prêmio Nobel – Richard Feynman há algumas décadas: trata-se de conhecimento de papagaio, decorado e repetido aprioristicamente sem qualquer compromisso com a física experimental. Vemos em toda parte sabichões negarem os dados de computadores de bordo dos veículos com discursos em tese, desculpas esfarrapadas, de que não haveria como ser diferente. Alguns chegam ao despautério de dizer que é FISICAMENTE impossível ser diferente! Sugiro o prêmio IgNobel para esses jênios incompreendidos, que do alto de seus avançados processadores mentais de 4 bits representam a realidade com enorme sofisticação (#sqn).
Ora, de fato a banguela não economiza combustível, e é contraproducente, se o motorista, em razão da inclinação excessiva da via, da sua longa extensão e/ou de perigos a seguir (curvas, pavimento ruim, obstáculos, etc.), precisar controlar o carro por meio dos freios, no atrito, em vez do freio-motor (durante o qual o cut-off efetivamente zera o consumo do motor); os freios irão sobreaquecer e o consumo da marcha lenta será efetivamente pior que no cut-off. Ou seja, ninguém em sã consciência vai descer uma serra na banguela, é arriscado e burrice (claro, existem os inconsequentes e os irresponsáveis, mas isso não autoriza a generalização do tipo: “como você é um idiota sem discernimento, então não é seguro usar banguela”). A regra de ouro correta seria: sempre que necessário e possível, use preferencialmente freio-motor em relação aos freios convencionais, para maior segurança e economia de combustível (com o perdão, claro, das correias e demais componentes que irão dissipar a energia – essa é outra discussão, que deixo para outra ocasião, do stress causado na transmissão).
No entanto, e aí os “físicos” de fancaria, papagaios feynmanianos, quebram a cara com seus reducionismos, essa não é a única situação que existe na realidade, provavelmente nem mesmo a mais comum em que um motorista pode querer usar a “banguela”. Existem muitas e muitas rodovias no país que possuem descidas curtas ou médias, retilíneas ou em curva suave, com boa visibilidade e/ou de conhecimento prévio do motorista (rotas corriqueiras), normalmente intercaladas com subidas, vencendo morros e desníveis corriqueiros que não foram removidos por terraplanagem ou cortes no projeto; e aí entra em cena uma coisa esquecida chamada conservação de energia: a energia potencial aproveitada, de um veículo de uma tonelada, convertida em cinética ao longo de uma descida, é muito superior à consumida pelo motor em marcha lenta, sem uso do cut-off. O balanço de energia é amplamente favorável, como atestam dez em cada dez testes usando computador de bordo, a despeito das teses dos sabichões – que botam a culpa no combustível, no computador de bordo ou na honestidade do motorista em trazer o relato.
Claro, por precaução o ideal é nunca deixar o carro ganhar muita velocidade sem a devida visibilidade, uma vez que pode haver curvas perigosas, obstáculos, defeitos na pista, ou mesmo se o tráfego estiver intenso, uma vez que o comportamento de outros motoristas pode ser imprevisível. Mas isso não é um problema da banguela em si, mas do excesso de velocidade; se for respeitada a velocidade da via, as distâncias de segurança e houver visibilidade adequada, aproveitar a energia potencial acumulada em uma subida para se recuperar a velocidade, por exemplo, de 60 Km/h de volta a 110 Km/h, como em sucessivos tobogãs nas rodovias do interior do país, qual o problema? Pelo contrário, é muito mais econômico, ecológico e racional (além de não estressar os freios, não desgasta outros componentes mecânicos com freio-motor desnecessário); muito melhor que idiotas “politicamente corretos” que não desengrenam e pisam no acelerador em plena descida. Claro, novamente fazendo a ressalva óbvia, se a descida for longa ou íngreme o bastante para demandar uso dos freios, será interessante acoplar a marcha mais alta e continuar com o freio-motor; qualquer motorista que sabe usar a banguela também sabe disso. Bem como que carros automáticos (e também os 1.0, de relação de marchas muito curta) são uma desgraça quanto a isso: se na banguela o carro ganha velocidade excessiva, engrenado ele perde velocidade. E aí, o que fazer? Inevitável ficar intercalando ou usar o freio… Ou adotar a postura patética de ter de pisar no acelerador em uma descida.
“Mas é ilegal! O CTB não permite!”, dirão os idiotas da objetividade. Sim, mas aí é um problema jurídico, não da física, da mecânica. Nosso código de trânsito possui uma miríade de aberrações, normas burras e mal escritas, mas isso não é culpa da banguela. Veremos ainda até quando isso sobreviverá sem esse mito de que “banguela aumenta o consumo”; vai-se insistir então no discurso reducionista e simplório, tosco, de que “banguela é sempre insegura!”? E o meio-ambiente, o aquecimento global, as emissões, a sustentabilidade? Se um computador de bordo mostra que o desempenho de um carro pode subir em vários Km/l com o uso da banguela em comparação ao não-uso no mesmo trajeto, qual seria o efeito acumulado em toda a frota? Ou tudo não passa de demagogia, ou ideologia?
É simples constatar se “banguela” economiza ou não: veja o consumo médio do carro, coloque em ponto morto na descida e veja se houve melhora do consumo. Dependendo da distância percorrida há variação, p. ex., de 9,8 para 10,2 km/l.
Boa tarde Boris, tudo bom?
Uma dúvida que tenho a tempos, e sinceramente não encontro informações concretas para saná-las:
Quando as montadores, Inmetro etc fazem os testes de economia de combustível, os veículos são conduzidos com o mínimo de rotações possíveis, em vez de seguir os regimes de torque máximo, correto?
Para máxima economia de combustível, o correto é usar a marcha mais alta nas menores rotações possíveis ou utilizar/ trocar das marchas nos regimes de torque máximo de cada motor?
Explicando com mais detalhes a dúvida:
Simulando uma leve subida qualquer, pegamos um carro popular com injeção eletronica:
Renault Clio 1.0 16v Hi Flex 4 cilindros motor D4D 2012.
76cv gasolina / 77 cv álcool a 6.000 rpm.
9,7 Kgfm gasolina / 10,2 álcool kgfm a 4.250 rpm.
A 60 km/h ele está a cerca de 2000 rpm em 5ª marcha.
A 80 km/h ele está a cerca de 3000 rpm em 5ª marcha.
Visando somente a economia de combustível e abrindo mão de desempenho, é melhor “atolar” o pé no acelerador em 5ª marcha e subir ou reduzir para 4ª marcha (elevando o rpm)?
Elevando o rpm, será injetado mais combustível naquele mesmo tempo, o que aumenta o consumo.
Até onde eu sei, quanto menor o rpm, menor o consumo (exceto em situações de Cut Off).
Em alguns carros que tem computador de bordo com consumo instantâneo, ao acelerar tudo em marcha alta (5ª, 6º), nota-se que os índices de consumo instantâneo caem drasticamente, mas a rotação não sobe! O que ocorre com esse combustível que o computador diz que o motor está consumindo?
É enriquecido a mistura ar/combustível e por isso o computador diz que está consumindo mais?
Ele lê somente a abertura da borboleta?
Ele injeta o combustível e devido a não elevar o rpm, é devolvido para o tanque através do retorno, e isso não é contabilizado pelo gerenciador do consumo instantâneo?
Quando reduz uma marcha, o consumo instantâneo também aumenta, devido o aumento de rpm. Até ai é entendido!
Devemos considerar que baixa rotação também pode prejudicar o motor, lubrificação, entre outros, mas visando somente economia de combustível, qual apresenta maior economia de combustível?
No exemplo acima, o torque máximo vem a altos 4250 rpm, mais de 70% da rpm máxima do motor. A 60 km/h, ele está utilizando 1/3, 33% (2000 rpm) dos rpm disponíveis por esse mesmo motor, portanto, não podemos dizer que é uma rotação muito baixa que estragaria o mesmo.
Afinal, visando apenas economia máxima de combustível, é melhor “atolar” o pé e manter na marcha mais alta (respeitando o limite mínimo de rpm de cada motor?
Ou
Trocar sempre na rotação de torque máximo (em alguns carros fica a mais de 70% da rpm máxima do motor)?
Eis a dúvida…
Agradeço pela atenção desde já.
Obrigado, Renato, por nos acompanhar. Por favor, envie a sua dúvida para borisresponde@autopapo.com.br