Fraude no DPVAT pode ser 40 vezes maior, afirma auditoria

Informação foi revelada pela empresa de consultoria KPMG, que analisou as contas da Seguradora Líder de 2008 a 2017

dpvat seguro obrigatorio lider shutterstock
Por AutoPapo
Publicado em 14/01/2020 às 11h40

Auditoria da consultoria KPMG, realizada na Seguradora Líder, empresa responsável por administrar o DPVAT, destaca uma extensa lista de inconsistências financeiras e administrativas entre os anos de 2008 a 2017. Análise foi requisitada depois da divulgação da Operação Tempo de Despertar, que detectou a fraude no DPVAT.

A pesquisa foi revelada em uma reportagem da Folha de São Paulo, que relata ainda que na lista de irregularidades estão:

  • despesas sem comprovação;
  • concentração no pagamento de sinistros em pequeno número de médicos;
  • gastos excessivos no pagamento de advogados;
  • e até compra de garrafas de vinho e de um veículo usado pela esposa de um ex-diretor da empresa.

O levantamento, encomendado pela atual direção da Líder, avaliou documentos da seguradora de 2008 até o fim da última gestão, em 2017. Os problemas estão compilados no relatório final, que tem mais de mil páginas.

Seguradora Líder

Formado por 73 empresas, o consórcio que controla a Líder foi criado em 2007 para gerenciar o DPVT. A Líder é responsável pela arrecadação dos prêmios pagos por proprietários e veículos e pelo pagamento das indenizações.

Em 2015, o DPVAT foi alvo da Operação Tempo de Despertar, que emitiu 41 mandados de prisão e determinou o afastamento de 12 servidores públicos por fraudes no pagamento de indenizações. Na sequência, em 2016, houve uma CPI para apurar o seguro obrigatório.

Em 2018, outra auditoria, desta vez do Tribunal de Contas da União, também apontou fraudes na gestão.

Valores da fraude no DPVAT

A Tempo de Despertar apontou que os prejuízos com transações indevidas eram estimados em R$ 28 milhões. No entanto, documentos vistos pela Folha no relatório final da KPMG mostram que o valor pode ser quase 40 vezes maior.

Os problemas em pagamentos feitos pela seguradora podem superar a marca de R$ 1 bilhão (valores não corrigidos), segundo números disponibilizados na auditoria. Por exemplo:

  • R$ 219,3 milhões não tinham evidências de prestações de serviços;
  • R$ 156,1 milhões estavam sem comprovantes;
  • R$ 47,1milhões não dispunham de documentos fiscais.

A KPMG identificou irregularidades de diferentes portes nas prestações de contas. Encontrou, por exemplo, 216 irregularidades ou inconsistências na base de cobrança de honorários advocatícios.

A auditoria fala até em possível impacto na remuneração por êxito aos advogados devido a aumento dos valores pleiteados de 2008 a 2016. Essa remuneração, inicialmente prevista para ser de R$ 74,8 mil, passou para R$74,9 milhões.

A Líder pagou R$ 99,6 milhões em indenizações em 36 mil processos envolvendo apenas esses cinco médicos —mais de 7.000 processos para cada médico. Um deles, um fisioterapeuta, obteve R$ 44,9 milhões em indenizações em 15.294 processos.

Auditoria que analisou a fraude no DPVAT afirma que inconsistências financeiras e administrativas podem ser 40 vezes maiores que o anunciado.

A KPMG aponta ainda problemas de controle interno e vê indícios de atuação consciente de gestores da empresa para driblar os processos de auditoria da fraude no DPVAT.

A auditoria identificou também problemas com a contabilidade de gastos pessoais diários ou semanais da diretoria. Um único restaurante recebeu, ao longo de oito anos, R$ 280.530 — média de quase R$ 3.000 por mês. As faturas incluem gastos de R$ 14.373 em bebidas alcoólicas.

Em 2012, a Líder comprou, por R$ 67.656, um veículo que pertencia à esposado então diretor jurídico, Marcelo Davoli, operação aprovada por Xavier e pelo ex-diretor de Infraestrutura Marcos Felipe. O carro foi vendido dois anos depois por R$ 26 mil.

Em outro trecho da auditoria, a KPMG fala em possíveis irregularidades em despesas de viagem e hospedagem, com pagamentos de passagens aéreas e diárias de hotéis para políticos, vereadores e servidores públicos como autoridades da polícia.

Em entrevista à Folha em novembro, a superintendente da Susep (Superintendência de Seguros Privados), Solange Vieira, disse que os sistemas de controles de fraudes no DPVAT eram “frouxos” e que o órgão regulador não é eficiente para analisar todas as contas.

O que diz a Seguradora líder

A Seguradora Líder enviou nota dizendo que esclarece aquilo que é possível dentro dos limites de conhecimento de sua administração. A empresa diz que, no segundo semestre de 2016, e por sua exclusiva iniciativa, contratou uma consultoria internacional de renome para a realização, “de maneira absolutamente isenta e independente, de um amplo e minucioso trabalho de auditoria de suas operações”.

“Em 2017, com a entrega do relatório sobre a análise documental, foram adotadas todas a medidas administrativas e de compliance cabíveis, alinhadas com os valores de retidão e transparência que norteiam a administração da Seguradora Líder”, afirmou.

Newsletter
Receba semanalmente notícias, dicas e conteúdos exclusivos que foram destaque no AutoPapo.

👍  Curtiu? Apoie nosso trabalho seguindo nossas redes sociais e tenha acesso a conteúdos exclusivos. Não esqueça de comentar e compartilhar.

TikTok TikTok YouTube YouTube Facebook Facebook X X Instagram Instagram

Ah, e se você é fã dos áudios do Boris, procure o AutoPapo nas principais plataformas de podcasts:

Spotify Spotify Google PodCast Google PodCasts Deezer Deezer Apple PodCast Apple PodCasts Amazon Music Amazon Music
3 Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Comentários com palavrões e ofensas não serão publicados. Se identificar algo que viole os termos de uso, denuncie.
Avatar
Eduardo Henrique de Lima 20 de janeiro de 2020

Esse Fernando Miranda é o típico eleitor que vota no político bandido com o pretexto: “ROUBA, MAS FAZ”. O Brasil está cheio de gente assim, “rouba, mas faz”… Temos que acabar com essa cultura de reeleger político corrupto!

Avatar
Afonso Gomes dos Reia 19 de janeiro de 2020

Que ótimo que as fraudes estão sendo descobertas, e o governo BOLSONORO que segundo os grandes intestinais dizem que é incompetente, que não sabe nada, Esse é o governo que baixou para R$12,00 o Dpvat enquanto que governo que se intitulava como governo dos pobres, mas não era dos pobres e sim da malandragem, da fraude, do roubo aos cofres públicos o Dpvat era de quase R$300,00, mais tem gente doente que ainda defende. O pior cego é o que vê mais não enxerga.

Avatar
Fernando Miranda 14 de janeiro de 2020

Como o governo (o atual e os anteriores) não tem competencia pra acabar c fraude (ate porque o presidente tem filho envolvido em corrupcao) ele decide acabar c o seguro e prejudicar milhoes de pessoas e o SUS. Piada. Acaba com beneficios fiscais também. Porque tem muita fraude. Acaba com as obras publicas também. Porque tem muita fraude. Kkkkk o incompetente q não sabe arrumar o problema decide acabar c tudo. Meu Deus.

Avatar
Deixe um comentário