O bêbado equilibrista que resolveu um grave problema de motor
'Quando é que o nosso jovem e talentoso mecânico poderia imaginar que o palpite de um bêbado de rua pudesse resolver todos os seus problemas de motor?'
'Quando é que o nosso jovem e talentoso mecânico poderia imaginar que o palpite de um bêbado de rua pudesse resolver todos os seus problemas de motor?'
Esse “causo” ocorreu no fim dos anos 80. E é a mais flagrante prova de que não é porque o indivíduo é bêbado que pode ser taxado de burro. O protagonista principal dessa história é o nosso amigo Ricardo Dilser, atualmente uma das linhas de frente da assessoria de imprensa do grupo FCA, que envolve a Fiat e a marca Jeep no Brasil. Nessa época, Dilser, como é mais conhecido no meio, estava deixando a adolescência e era um jovem, como a maioria da época, fanático por automóveis e competições. Logo que completou a maioridade e foi habilitado a dirigir, ganhou de seu pai um Fusca cor de laranja – para ele um grande feito e uma grande farra.
A primeira coisa que o jovem motorista se propôs a fazer foi a de envenenar o Fusquinha. Era assim que se chamava na época mudar componentes do motor para ganhar potência e mexer nas suspensões para ganhar estabilidade. O Rica, essa é outra forma de chamá-lo, levava jeito para mexer em mecânica e, pela proximidade que tínhamos, apresentei-o ao Josias Silveira, na época responsável pela revista Oficina Mecânica, quando ele começou a dar seus primeiros passos no jornalismo especializado.
Além dos trabalhos jornalísticos, Rica ocupava o seu tempo também em uma oficina mecânica, a Afinauto, que preparava carros para as pistas e para aqueles apressadinhos que gostavam de carros de rua mais nervosos que os demais.
Como todo jovem prendado, o Rica estudava à noite, trabalhava na revista, e, no pouco tempo que restava do dia, estava sempre na Afinauto ajudando no desenvolvimento de motores dos carros de corrida e na elaboração dos envenenados de rua. Período da vida muito rico no quesito aprendizado. Mas, claro, como todo jovem, ele sonhava com seu próprio carro mexido (outro sinônimo para envenenado). E seu Fusquinha era a vítima desse envenenamento.
Contando com a ajuda de outro amigo, o Flávio Ancona, que importa e vende componentes de preparação para quase todos os carros nacionais, Rica foi aos poucos comprando os componentes americanos que ele sonhava para montar o supermotor do seu Fusquinha. E o Flavinho, que entendia muito desse babado, o ajudava na escolha desses componentes especiais para esse novo motor.
Em um curto período de tempo, o Ricardo tinha as peças do seu potente e sonhado motor. Detalhe: ele fez questão de, ele mesmo, montá-lo com o conhecimento adquirido em seus aprendizados obtidos na Afinauto. Montou o tal motor, que foi um sucesso.
“Nos 100 metros rasos, sou imbatível!”, costumava dizer.
Mas, como todo superprojeto, o motor apresentava um sério problema: não havia jeito da correia que acionava o dínamo e a ventoinha ficar entre as duas polias. Bastava uma acelerada forte e a correia voava fora das polias, ou virava do avesso ou, nos casos mais duros, a correia arrebentava. Um problema seríssimo que o Rica não sabia mais como resolver. Ele chegou até mesmo a comprar polias especiais de alumínio de tamanhos diferentes, acreditando que o excesso de rotações do motor estivesse danificando as correias. E o defeito persistia
Em um belo dia, depois de uma acelerada forte no Fusquinha, acendeu-se a luz vermelha no painel que indicava que a correia não estava mais nas polias. Rica desceu desacorçoado, pegou uma das várias correias que já tinha embaixo do banco e foi fazer o reparo que ele já estava acostumado a fazer diariamente. Contrariado, iniciou o duro e chato trabalho de recolocação de uma nova correia. Nesse tempo se aproximou da traseira do Fusquinha um bêbado que começou a falar coisas com a língua toda enrolada. Rica mal entendia o que aquele cara queria dizer.
Além do mal-humor da troca da correia, aguentar bêbado, ninguém merece. Rica parou o que estava fazendo e virou para trás para saber o que o tal bêbado queria dizer. O indivíduo embriagado disse a ele: “É a correia que está pulando? Isso é fácil resolver, basta você alinhar corretamente a polia de baixo com a polia de cima que a correia não vai mais pular nem quebrar, isso é muito fácil de fazer, qualquer um faz!”.
Rica, apesar de toda raiva que estava sentindo, parou e refletiu: “Nunca pensei nisso, será que esse bêbado não tem razão?”. Terminou o que estava fazendo, colocou a correia de qualquer jeito e foi para casa pensando no que o bêbado falou. Chegando em casa, pegou suas ferramentas e voltou para a traseira do Fusca para saber se o bêbado tinha razão.
Desmontou o que havia montado de qualquer maneira na rua e foi verificar o alinhamento entre as duas polias. Ficou abismado com o que descobriu: a polia debaixo do virabrequim estava completamente fora de alinhamento com a polia de cima do dínamo e da ventoinha, um completo desequilíbrio. Utilizou todos os recursos para alinhar as polias e remontou uma correia nova. E não é que a correia nunca mais saltou ou quebrou? Não é que o tal bêbado tinha razão?
Quando é que o nosso jovem e talentoso mecânico poderia imaginar que o palpite de um simples bêbado de rua pudesse resolver todos os seus problemas de motor? Pois foi assim! Por isso, meus caros amigos leitores, nunca menosprezem uma opinião, por mais simples, singela ou vinda de uma pessoa que não te pareça apta a dar essa opinião. A solução dos problemas, muitas vezes, está na simplicidade e pode vir de pessoas comuns. Serviu o aprendizado!
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oi Boris, gostei da históriazinha, mas o problema do rica era a falta de prática, e/ou experiência, pois duas polias desalinhadas não funcionam kakaka
Qq um sabe q as polias tem q estar alinhadas o cara burro. Fiz curdo na pavema em curitiba com 13 anos. Mecânico amador.
É sempre muito bom ler estes causos,como você mesmo diz,eu sempre gosto muito!
Adorei e tem ao final uma verdadeira lição de vida. O Rica é uma pessoa maravilhosa e essa mensagem o fez viajar no tempo. Abraços Dodô.
Qualquer mecânico que se preze sabe que polias devem estar alinhadas. Se esse otário do Rica tivesse estudado um pouco, um SENAI já servia, não passaria por esse vexame. O pior é que tem outros imbecis achando a história boa, tem base?
Gílson , otário não! Acho que todos nós temos muito ainda que aprender nessa vida, uns na parte mecânica outros na vida. Vamos sempre questionar onde é que nós estamos errando.
Parabéns Douglas, ótima história, não deixa de ser uma lição, apesar do efeito etílico do indivíduo.
Excelente história. Meus pais sempre falavam, quando éramos moleques, para ficarmos longe dos bebuns.
Hoje vejo que somos inofensivos, não fazemos mal a ninguém! Abração, Douglas!