X2 coloca as tradições da BMW em xeque
Com tração dianteira e design ousado, que mescla elementos de SUV, hatch e cupê, modelo começa a ser vendido no Brasil a partir da semana que vem
Com tração dianteira e design ousado, que mescla elementos de SUV, hatch e cupê, modelo começa a ser vendido no Brasil a partir da semana que vem
Quem é gearhead, purista, entusiasta de automóveis ou se enquadra em qualquer outra definição desse gênero costuma torcer o nariz para a atual linha que a marca bávara constrói sobre a plataforma UKL, que impõe algo impensável em um modelo da marca até poucos anos atrás: tração dianteira, além de motor transversal. Movida pelo apetite do mercado mundial por SUVs, a BMW desenvolveu o X2, um crossover que mescla altura elevada da carroceria, toques de cupê e de hatch no estilo e… rodas dianteiras motrizes.
São fruto dessa arquitetura, além do X2, vários integrantes da gama Mini e a atual geração do X1. Em termos de concepção, esses modelos ficaram mais pasteurizados, é verdade. Porém, a BMW parece conhecer a necessidade de manter suas raízes esportivas nessa nova gama; ou, ao menos, parte dela.
Em relação ao X1, que tem proposta mais familiar, o BMW X2 é mais baixo e tem bitolas mais largas. Externamente, o modelo mede 1,54 m de altura e 1,82 m de largura. Essas diferenças, por si só, já conseguem proporcionar ganhos em termos de dirigibilidade. O comprimento é de 4,36 m, digno de hatch médio, mas distância entre-eixos é de expressivos 2,67 m. O porta-malas tem razoáveis 370 litros de volume.
O motor é, basicamente, o mesmo nos dois modelos: um 2.0 turbo de quatro cilindros a gasolina, capaz de desenvolver 192 cv de potência. O torque, de 28,5 kgfm, porém, é ligeiramente maior no X2, graças a algumas atualizações, principalmente na parte eletrônica. O câmbio é outro: em vez do automático do tipo epicíclico, com conversor de torque, do X1, há um automatizado de dupla embreagem e sete velocidades.
O BMW X2 chega ao país em duas versões. A de entrada, que custa R$ 211.950, traz, entre outros equipamentos, rodas de 19 polegadas, chave presencial, tampa do porta-malas elétrica, com abertura e fechamento por meio de gestos, ar-condicionado digital com duas zonas de temperatura, bancos em couro com ajustes elétricos e aquecimento, teto solar elétrico panorâmico, assistente de estacionamento e central multimídia compatível com o sistema Apple CarPlay, com botão sensível ao toque, navegador GPS com informações em tempo real e câmera de ré.
A top de linha, batizada de sDrive20i M Sport X, custa R$ 246.950. Ela acrescenta head-up display e central multimídia mais completa, com tela de 8,8 polegadas e GPS com mapas com visualização 3D e mais funções. No mais, há acabamento interno com outra padronização e apliques em alumínio, além de detalhes estéticos exclusivos na carroceria.
Toda a gama traz seis airbags (frontais, laterais e do tipo cortina) e controles eletrônicos de segurança e auxílio à direção. As vendas regulares, nas concessionárias, começam no próximo dia 26.
Gosto é algo pessoal, mas parece ser difícil achar alguém que não se sinta atraído pelo design do BMW X2. Com linhas agressivas, que incluem linha de cintura alta, capô longo, traseira curta e muitos vincos na carroceria, o crossover chama muita atenção. O magnetismo de olhares é ainda maior se a carroceria for pintada nas cores amarelo Galvanic ou azul Misano (essa última restrita à versão top de linha), oferecidas ao público geral.
Quem reparar nos detalhes verá que o design (assim como a tração dianteira), rompe com alguns paradigmas da BMW. A grade frontal bipartida, por exemplo, é mais larga na base que no topo (algo inédito nos carros da marca), enquanto as janelas abandonaram a chamada linha hofmeister, que forma um chanfro na vigia lateral-traseira, junto à coluna C. Para não dizer que o X2 abandonou todas as tradições, o fabricante instalou ali sua logomarca, remetendo aos seus antigos cupês.
No interior, o X2 traz padrão de acabamento à altura da proposta premium da BMW, com materiais de ótima qualidade e montagem perfeita. O espaço interno é bom, inclusive no banco traseiro, onde há vãos generosos para a cabeça e as pernas. O quinto ocupante, porém, terá que conviver com um ressalto central no assoalho.
Há outros inconvenientes, que fazem com que a vida a bordo não seja perfeita. Poderiam existir, por exemplo, mais entradas USB, tanto para os ocupantes dos bancos dianteiros quanto para os do traseiro. Considerando o preço do veículo, faltam também alguns equipamentos, como cruise-control adaptativo e assistente de mudança de faixa. Já o painel, apesar de proporcionar excelente leitura, é tradicional, sem a tecnologia digital presente em alguns concorrentes, que oferece ao condutor diferentes modos de exibição.
Mas e quanto ao comportamento dinâmico, que é o ponto principal de qualquer BMW? A reportagem dirigiu o X2 em um percurso de aproximadamente 150 km, entre as cidades de Campinas (SP) e Tuiutí (SP), que incluiu tanto rodovias duplicadas quanto de pista única.
A impressão é de que o modelo sobra para as estradas do país. Para respeitar o limite de velocidade, o ideal é ativar o cruise-control; caso contrário, o motorista terá que ficar atento e exercitando seu auto-controle para não extrapolar o limite. O veículo parece ficar “à vontade” mesmo entre 140 km/h e 160 km/h, valores que, vale lembrar, são ilegais no Brasil.
Isso ocorre não apenas devido ao motor potente, mas também ao excelente acerto de suspensão, ao isolamento acústico de alto nível e à caixa de sete velocidades, que faz o 2.0 turbo trabalhar em baixa rotação até em velocidades mais altas, ao menos quando o condutor está com o pé mais leve. Nessa situação, andando sem pressa, é bom curtir o rodar é sólido e confortável, típico de carro de luxo. O BMW X2 transpôs quebra-molas e imperfeições do piso ao longo do trajeto com suavidade.
Porém, quem não quiser conter os próprios instintos e atender ao chamado do carro por velocidade, terá na transmissão uma aliada. Ela troca as marchas de modo muito rápido, fazendo ótimo trabalho também quando o pé do motorista está pesado. E, se isso não for suficiente, há opção de cambiar por meio de paddle-shifts.
Nas curvas, o BMW X2 mostra-se muito firme para um veículo de altura elevada. Mesmo nas estradinhas vicinais e sinuosas que fizeram parte do test-drive, foi impossível levá-lo limite. Para fazê-lo, só mesmo recorrendo a autódromos.
Nas pistas fechadas (nas quais a reportagem não dirigiu o modelo), porém, é que o modelo deve mostrar sua real personalidade, fruto da plataforma com rodas dianteiras motrizes. Afinal, por melhor que seja o acerto mecânico, não é de se esperar dele aquele comportamento seja típico de BMW, com a traseira escapando nas curvas caso a eletrônica seja desligada.
No X1, que tem proposta familiar, isso é até aceitável. Mas no X2, que tem grandes doses de ousadia no visual e proposta mais esportiva, o DNA típico da BMW faz falta. Ao menos para aquele público entusiasta, que apesar de ser pequeno, se mantém fiel justamente devido à dirigibilidade característica, agora ausente em parte de gama.
Fotos BMW | Divulgação
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