Lucas, mais uma no ‘Clube dos 40 mil’

Fabricas amedrontam motoristas e apelam para segurança ao recomendar troca desnecessária de seus componentes

cabo de vela
Por Boris Feldman
Publicado em 21/09/2019 às 09h00

Diz a crença popular que “7” é conta de mentiroso. Nos automóveis, o número “40” vem conquistando essa posição…

O “Clube dos 40 mil km” não para de crescer e empresas sugerem aos donos de veículos a troca de seus produtos nesta quilometragem. É o time da “empurroterapia” que se utiliza das mais variadas pi-ca-re-ta-gens para faturar às custas do motorista.

O chute inicial foi da Cofap, nos anos 90, com um simpático cachorrinho bassê em seus comerciais de tevê que vinha escorregando nas esquinas dos corredores para lembrar a importância dos amortecedores. E recomendava que, por questão de segurança, fossem substituídos aos 40 mil km. Não se sabe se o propósito de aumentar as vendas do produto foi alcançado, mas nunca se vendeu tanto cachorrinho bassê.

Não existe prazo definido para troca de amortecedores, pois sua durabilidade depende das condições de uso do automóvel. Podem pifar aos 10 mil km como rodar mais de 100 mil km em condições satisfatórias.

Outras marcas de amortecedores resolveram surfar na mesma onda.  A Monroe foi tão cara-de-pau que, em seu site brasileiro, recomendava substitui-los aos 40 mil km. Já no site norte-americano, apesar de ter mesmo design, ilustrações, fotos e informações, só diferia por estar escrito em inglês e, no capítulo do amortecedor, sugerir que fosse verificado a cada 80 mil km (50 mil milhas). Sem recomendar sua troca em momento algum.

Os mágicos 40 mil km estão sendo também utilizados por algumas oficinas para condenar o catalisador. Equipamento caro pois produzido com materiais nobres, sua vida útil num carro novo deve ser de, no mínimo, 80 mil km. Mas pode ir muito além, desde que opere em boas condições.

Surgiu então a ideia de se produzi-lo especificamente para o mercado de reposição, reduzindo custos e durabilidade pela metade, com quilometragem mínima de apenas 40 mil km. A partir daí, alguns mecânicos preocupados em inchar seu faturamento, passaram a condenar indistintamente qualquer catalisador acima dos 40 mil km.

A mais nova integrante

Esta quilometragem “mágica” está sendo usada por outra empresa que acaba de se agregar ao “clube: é a marca inglesa Lucas, especialista em equipamentos elétricos, que recomenda a troca dos cabos de ignição (levam corrente de alta tensão da bobina para a vela) também aos 40 mil km.

cabo de ignicao lucas
Cabos de vela Lucas (Lucas | Divulgação)

Ela declara em seu comunicado à imprensa (“release”) que problemas de funcionamento do motor podem ser provocados por cabos que já atingiram esta quilometragem. Questionada, ela diz ter havido um “engano de informação”, sempre a mesma desculpa.

Não se discute que amortecedores, catalisadores e cabos  podem exigir substituição, pois não conservam suas características eternamente. Assim como embreagem, pastilha de freio ou pneu.

O novo sócio do Clube dos 40 mil parece ignorar que estes cabos podem durar centenas de milhares de quilômetros. Mas, se pifam antes, não é complicado verificar: visualmente ou aparelhos simples e baratos testam sua eficiência e determinam a necessidade ou não de trocá-los.

Lucas, Príncipe da Escuridão

Aliás, a empresa criada por Joseph Lucas no século 19, antes mesmo de existir o automóvel, é vítima de inúmeras chacotas que circulam pela internet e colocam em dúvida sua qualidade. Apesar de presente em marcas famosas como Rolls-Royce, Bentley, Jaguar, MG e outras, as brincadeiras estão estampadas em etiquetas nos vidros de carros (principalmente ingleses): “Lucas, Prince of Darkness” (em inglês: Lucas, Príncipe da Escuridão) e “Why do the English drink warm beer? Because they have Lucas refrigerators” (Porque os ingleses bebem cerveja quente? É porque usam geladeiras Lucas) ou “If Lucas made guns, wars would not start” (Se a Lucas fabricasse revolveres, as guerras não teriam começado).

No caso dos seus cabos: por que só a Lucas sugere sua troca com tão baixa quilometragem? Marketing para aumentar faturamento ou reconhecimento de baixa qualidade?

Manutenção do carro é coisa séria e pode afetar a segurança veicular. Mas é prática inescrupulosa e beira a chantagem emocional aproveitar-se da ignorância técnica do motorista para “azeitar a facada”.

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6 Comentários
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Eder Rogério Daniel 29 de junho de 2022

Sou engenheiro e sempre tive em mente que a durabilidade dos cabos seria alta, desde que as velas estivessem sempre em bom estado!
Em 2010 tirei uma Montana zero km.
Comecei a perceber que ao trocar as velas no prazo recomendado pelo manual, medindo os cabos com o multímetro sempre tinha um cabo rompido!
Em 2016 tirei um Onix zero e ao trocar o primeiro jogo de velas com 30.000km, resolvi medir os cabos e encontrei um rompido!
Bom o carro está com 115.000 e está no quinto jogo de velas!
Depois de trocar o terceiro jogo de cabos junto com as velas aos 90.000km, resolvi guardar os cabos bons, para ir trocando quando necessário!
Agora quando percebo o carro falhando, vou direto no cabo, identifico com o multímetro e troco apenas o defeituoso!
Hoje 29/06/2022 instalei o último que estava guardado!
Nas minhas contas, com 115.000km já troquei 3 jogos inteiros e mais 4 cabos separadamente, um total de 7 cabos rompidos!
Então pela minha experiência os cabos sempre estragam antes das velas

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Erlin WR Simeon 8 de setembro de 2021

Meu Toyota Rav4 esta com mais de 200,000 km, funcionamento perfeito e nunca troquei cabos de vela… amortecedores dianteiros originais, perfeitos… muito depende de como se usa, sempre fazer manutencao preventiva, isso não significa trocar, apenas verificar as condições das pecas.

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Julio 29 de setembro de 2019

Boris não concordo com você , pois estamos falando de prevenção e neste caso tirando os carros novos com suas garantias , você deve trocar Correia dentada , velas e cabos. Pois são peças de baixo custo que ajudam na combustão e na maioria dos casos traz economia de combustível e segurança.

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MARCELO 21 de setembro de 2019

Caro Boris, pelo que tenho visto ultimamente, a indústria automotiva tem intensificado este marketing de trocas de componentes em prol da segurança. Penso que parte destas ações se deve ao fato de que os automóveis e seus componentes estão cada vez mais duráveis. Então, como fazer para convencer os motoristas de que precisam trocar os componentes dos automóveis e fazer a indústria girar, se não apelando para o lado emocional dos mais leigos? Em muitos casos este tipo de ação chega a ser criminoso.

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Alex 21 de setembro de 2019

A Honda tira nosso couro na revisão de 40 mil..

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Fernando 21 de setembro de 2019

Trocar as velas e deixar os cabos é o mesmo erro primário de trocar o óleo e manter o filtro. Faça o serviço completo. Quanto aos amortecedores, assim como os freios, só se troca quando se chega ao limite do tolerável, como dito na reportagem, pode ser 10 mil ou 100 mil, dependendo de diversas situações, mas a principal é o modo de condução.

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