Canibalização: entenda a concorrência interna nas montadoras
Muitos fabricantes colocam mais de um carro dentro do mesmo segmento, isso se chama canibalização e ajuda nos lucros
Muitos fabricantes colocam mais de um carro dentro do mesmo segmento, isso se chama canibalização e ajuda nos lucros
No mundo automotivo a expressão “canibalização” se refere a dois produtos do mesmo fabricante disputam o mesmo mercado ou público. Isso ocorre quando um produto novo é lançado mas o seu antecessor continua em linha por ter público cativo.
É comum o produto mais antigo durar além do previsto devido a boa aceitação do público. O Fiat Palio, por exemplo, veio para matar o Uno, mas no final os dois carros conviveram em conjunto por muitos anos. O mesmo ocorreu com os Volkswagen Gol e Fox, mas nesse caso o Fox saiu de linha antes do carro que deveria suceder.
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Muitos “analistas de teclado” gostam de criticar os fabricantes quando fazem um lançamento que resulta em canibalização. Consideram a equipe da multinacional com orçamentos milionários burra por colocar carros segmentados tão próximos.
Porém no fim das contas a canibalização pode ser boa para a fábrica. Afinal, carros similares costumam compartilhar muitos componentes. Além disso, ter um consumidor em dúvida entre dois ou mais modelos da mesma empresa é melhor que ver ele considerar um carro da concorrente.
Recentemente a Stellantis equipou o Peugeot 208 com o motor 1.0 Firefly da Fiat e agora lançou o Citroën C3 com o mesmo propulsor. Hoje ela tem a dupla francesa mais o Fiat Argo disputando o mesmo segmento e disputando os mesmos clientes. Caso alguém esteja de olho nesse trio e no Volkswagen Polo, existe 75% de chances do dinheiro dessa pessoa ir parar no bolso da Stellantis.
No exterior isso é ainda mais forte. O grupo Volkswagen oferece na Europa os hatches compactos Audi A1, VW Polo, Skoda Fabia e Seat Ibiza. Todos compartilhando a mesma plataforma, mecânica e com sobreposição de preços. Mas cada um tem sua personalidade própria para abranger um público maior.
Abaixo vamos citar alguns casos famosos de canibalização no mercado brasileiro.
A Fiat celebrou o Pulse como seu primeiro SUV compacto, mas, de acordo com o Inmetro, o Argo Trekking já estava nesse segmento. Independente dessa classificação técnica, ambos modelos compartilham a carroceria e atributos como o espaço interno.
Na versão Drive 1.3 manual o Pulse traz poucos atrativos para justificar o preço maior em relação ao Argo Trekking. A canibalização só não foi das maiores pois a Fiat ainda não introduziu o câmbio CVT no hatch aventureiro. Ainda.
Antes do lançamento da linha 2023, o Volkswagen Polo com motor 200 TSI brigava diretamente com seu irmão Nivus. O SUV compacto compartilha medidas e até peças de estamparia com o hatch, como as portas. Sua vantagem fica no volume do porta-malas e oferta de itens de segurança.
A linha 2023 do Polo parece ter sido feita para distanciá-lo do Nivus. O motor 170 TSI coloca o hatch em um patamar inferior de desempenho e traz foco na economia de combustível. Mudanças como a adoção de bancos com encosto de cabeça integrado fazem o interior do SUV parecer mais sofisticado e valer o preço superior.
O Chevrolet Celta nasceu como versão de baixo custo do Corsa B, amos conviveram em harmonia por um tempo até a marca matar o Corsa hatch dessa geração e manter apenas o sedã trazendo o sobrenome Classic. O Corsa C subiu de segmento, largando o Classic como sedã de entrada.
Em 2006 a Chevrolet complicou essa relação lançando o Prisma, sedã do Celta. No início ele se diferenciava do Classic por trazer apenas o motor 1.4, contra o 1.0 do sedã mais antigo. Essa diferenciação durou pouco tempo, em 2009 veio a oferta do 1.0 para o Prisma.
A surpresa foi que o sedã com desenho mais moderno não canibalizou o antigo e sim o contrário. O Classic vendeu mais e até hoje é bastante querido no mercado de usados. Já o Prisma de primeira geração anda meio esquecido, a segunda geração derivada do Onix obteve mais sucesso no mercado.
O Renault Clio chegou ao Brasil alinhado com a Europa e tendo como diferencial ser um compacto mais refinado e seguro: trazia airbags de fábrica um acabamento esmerado. O hatch conseguiu sucesso moderado, mas o sedã não conseguiu acompanhar devido ao desenho estranho.
A Renault conseguiu se destacar em sedãs quando trouxe o Logan. O projeto de baixo custo originário da romena Dacia trazia espaço interno de carro médio a preço de compacto. E seu design simples não se destacava em feiura, nem em beleza.
Em 2009, apenas um ano após o lançamento do Logan, a Renault lançou um segundo sedã na mesma faixa de preço: o Symbol. Esse modelo se tratava do antigo Clio sedã com um desenho todo novo — com traseira menos estranha — e o painel usado pelo Clio europeu.
No mercado a preferência continuou sendo pelo espaço interno. O Logan canibalizou o Symbol, a ponto do segundo ter durado apenas 5 anos no mercado enquanto o sedã de projeto romeno continua em linha até hoje em sua segunda geração.
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