Mercedes-Benz 600 Pullman, o extravagante carro do Papa
Não deixa de ser extravagante dirigir o enorme Mercedes 600, pois se tem a nítida sensação de que no banco traseiro deveria estar ou Sua Santidade, o Papa
Não deixa de ser extravagante dirigir o enorme Mercedes 600, pois se tem a nítida sensação de que no banco traseiro deveria estar ou Sua Santidade, o Papa
Assim como seus modelos topo de linha, a Mercedes-Benz lançou o modelo “600” também em duas versões, a “normal” com 5,45 metros e a “Pullman” com 6,24 metros de comprimento. Fabricada de 1963 até 1981, foram 2.677 unidades incluindo aí 428 Pullman, 59 “Landaulet” (conversível na traseira, como o “carro do Papa”) e dois cupês protótipos.
Seu motor era o maior da linha Mercedes: um V-8 com 6,3 litros desenvolvendo 250 cv e torque “de caminhão”: 51 mkgf a 2.800 rpm. O carro, apesar de seus 2770 kg (Pullman), acelerava de zero a 100 km/h em apenas 12 segundos. O “600”, com 2.600 kg, acelerava até os 100 por hora em 10 segundos.
Todo o Mercedes-benz 600 Pullman funciona hidraulicamente: o fechamento automático e a trava das portas, porta-malas e tampa do tanque, o ajuste dos bancos, a abertura do teto solar e os vidros das portas. Até os sistemas de aquecimento e ar condicionado são comandados hidraulicamente. Um dos dispositivos da linha “600” acabou sendo adotado dezenas de anos depois pela indústria: freio-de-estacionamento desligado automaticamente quando se liga o motor.
O carro do Papa, considerado na época o “melhor do mundo”, tinha suspensão independente nas quatro rodas e um sistema pneumático no lugar de molas, com amortecedores hidráulicos que controlavam a altura do automóvel com comando no painel.
Ao encomendar o “600”, as possibilidades fazem lembrar as que se oferecem hoje para o cliente de um Mercedes Maybach: combinações de cores e revestimentos internos, geladeira, TV, toca-fitas (ainda não existia CD nem DVD), mesinhas acopladas à parte traseira dos bancos dianteiros, vidro para separar o motorista dos passageiros, intercomunicadores, barbeadores elétricos e outros mimos como ar-condicionado duplo e até o número de portas: eram seis na 600 Pullman, oferecendo acesso a três filas de bancos ou quatro com os dois bancos centrais virados para trás. Ou duas camas. Os “landaulets” eram os preferidos dos governantes pois abaixavam a capota traseira (de pano) e eram vistos e aplaudidos pelas multidões, durante os desfiles ou em ocasiões especiais. A fábrica oferecia a versão blindada que foi encomendada, entre outros, por Leonid Brezhnev e Mao Tsé-Tung.
Por incrível que pareça, a linha 600 foi definitivamente projetada para muito conforto atrás. Mas ai do motorista que medir mais que 1.70 m (meu caso): o curso do banco dianteiro é limitado (para privilegiar o espaço atrás) e desconfortável. A única regulagem interessante é da altura do volante. Mas requinte é marca registrada e está presente em todo o interior, com profusão de couro, veludo, madeira legítima e muito cromado.
É claro que o espaço do modelo de carro do Papa para os passageiros que vão atrás é descomunal e, apesar de o teto ser baixo, ninguém esbarra a cabeça, mesmo os mais altos.
A transmissão é automática de quatro marchas com a nostálgica alavanca na coluna. As marchas passam razoavelmente sem trancos. O motor do carro compensa seu peso e até hoje ele anda como gente grande na estrada. E não faz feio fora da “autobahn”: mesmo em estradinhas apertadas e sinuosas a suspensão pneumática garante curvas razoáveis. Os freios são bons, mas revelam a idade do automóvel, sem nenhum recurso além da assistência a vácuo e discos com pinças duplas nas quatro rodas. Uma sofisticação para a época mas que pode assustar o motorista mais afoito, afinal o carro chega fácil aos 200 km/h.
O ar condicionado funciona para valer, o som é de ótima qualidade (para a época) e o isolamento acústico excepcional. O carro avaliado era um modelo 1974 com apenas 17 mil km rodados, quase todos pelo governo de Baden-Würtemberg, estado da Alemanha cuja capital é Stuttgart, onde fica também a sede da Mercedes-Benz.
Rudolf Uhlenhaut, o designer que projetou a mais famosa Mercedes de todos os tempos (“Asa de Gaivota”), participou ativamente do projeto da série 600. Elementos importantes na carroceria do novo carro foram idealizados a partir da 300 SL (Asa), como os conjuntos óticos dianteiros verticais incorporando faroletes, faróis principais e auxiliares e luzes direcionais. O grande radiador com as entradas laterais de ar foram lançados pelos sedãs das décadas de 50 (Ponton) e 60 (Rabo de peixe). Os parachoques traseiros com lâminas duplas viraram marca registrada da linha Mercedes. A suspensão pneumática virou hidro-pneumática na série seguinte e foi relançada com comando eletrônico na década de 90. Apesar de não esconder suas linhas de enorme limusine, ainda assim a “600” manteve um estilo agradável e sóbrio, o que permitiu que o modelo fosse produzido durante 17 anos ininterruptamente.
Fotos Mercedes-Benz | Divulgação
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São as melhores matérias.
Aqui em Bh já vi em exposição uma 600, azul com interior vinho.
Linda.