Por quê carro do Primeiro Mundo é melhor que o nosso?
Presidente de fábrica explica as dificuldades para trazer tecnologia de ponta para os modelos que produz no Brasil
Presidente de fábrica explica as dificuldades para trazer tecnologia de ponta para os modelos que produz no Brasil
Jornalistas conversaram na semana passada com o presidente da Renault para a América do Sul, o brasileiro Luiz Pedrucci (a marca comemora 20 anos de sua fábrica no Brasil). Ele respondeu com muita franqueza (e conhecimento) algumas perguntas feitas para “apertá-lo”, principalmente as voltadas para investimentos da empresa em novas tecnologias, pois nunca se registrou um progresso tão rápido na centenária história do automóvel. Como ele mesmo destacou, “a evolução atual em dez anos supera a dos últimos 50…”.
A eletrônica permitiu vários saltos tecnológicos simultâneos: na eficiência, segurança, conforto e conectividade. Uma das questões foi do porquê a marca francesa ter lançado recentemente no Brasil motores muito atualizados, mas ainda defasados em relação a alguns produzidos na França. Pedrucci não vacilou: disse não faltar tecnologia de última geração na Renault e prova disso é que parte dela já está presente nos modelos franceses.
“É claro – disse ele – que a gente gostaria de tê-la também nos carros produzidos aqui”.
Mas ressaltou que o xis da questão está sempre nos custos envolvidos. Não do projeto, já desenvolvido e pronto para equipar qualquer carro da marca, mas de avaliar quanto vai encarecer o modelo para o consumidor. Muitas vezes o equipamento instalado em outros países se inviabiliza aqui pelos elevados impostos que incidem sobre a importação. Ou pelas exigências da legislação local. Ou ainda pelo baixo poder de compra do freguês.
O brasileiro que dirige um automóvel nos EUA ou Europa percebe as diferenças entre o mesmo carro vendido lá e cá. E questiona a ausência, na versão brasileira, de equipamentos de segurança, conforto ou conectividade. Nem imagina que sua ausência pode, talvez, ser explicada pelas condições precárias de nossas estradas. Ou critérios tributários. Ou pela baixa aceitação no nosso mercado. Ou pela falta de infraestrutura nas ruas e rodovias.
Entre parênteses: tentei, recentemente, conectar o sistema de som de um carro importado a um canal (streaming) com centenas de categorias de músicas (Syrius). O aparelho oferecia o aplicativo, mas de acesso impossível no Brasil: estes sistemas operam por satélite cujo sinal existe somente no hemisfério norte. Também recentemente, questionei a Mercedes-Benz porquê seus carros no Brasil não ofereciam o dispositivo de controle da distância em relação ao carro da frente. Seus engenheiros me explicaram que o governo brasileiro o proibiu pois a frequência de seus radares era semelhante à dos aparelhos do exército para detectar discos voadores…
Voltando ao Pedrucci, ele enfatizou que um dos mais complicados desafios dos executivos de uma fábrica de automóveis é decidir os investimentos a serem feitos para atender as exigências do mercado, da legislação e dos acionistas. No Brasil, disse ele, Michel Temer assinou no mês passado o Rota 2030, plano governamental que define os rumos tecnológicos da industria nos próximos quinze anos.
“Precisamos atingir metas de eficiência nos motores para fazer jus a uma redução de impostos, o que exige investimentos elevados”. Deixou nas entrelinhas que, se sua fábrica não investe, terá dificuldade para competir com as contempladas pelos incentivos fiscais previstos pelo Rota 2030.
Tento imaginar a agenda do Pedrucci: quando acaba sua reunião com o time que desenvolve motores, entram na sala os engenheiros responsáveis pelos sistemas de conectividade, sem os quais não se vende mais automóvel principalmente para o público jovem. Mais tarde é a vez da turma responsável pelas exigências de segurança e ambientais. Além disso, para atender a cada um destes times, tem que assinar um cheque de dezenas de milhões de dólares. E depois, ainda convencer a área financeira (da matriz…) da absoluta necessidade de todos estes investimentos.
Ao final dessa maratona interna, é hora da entrevista com jornalistas durante o lançamento de um novo modelo. A primeira pergunta: “Por que os motores franceses são equipados com injeção direta de combustível e, nos brasileiros, ela ainda é indireta?”
É mole?…
Fotos Renault | Divulgação
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Coloca aí nessa conta a margem de lucro bem maior que nos EUA e Europa. O brasileiro é o maior otário do mundo.
Infelizmente a razão é que o Brasil (e quando digo Brasil leia-se os brasileiros) não tem poder aquisitivo para tal. Veja, a Volkswagen acaba de lançar uma versão “pé duro” do Jetta por não conseguir ganho de escala com os modelos mais sofisticados.
A verdade é esses modelos mais sofisticados, equivalentes aos europeus e americanos do norte, estão quase todos à venda aqui. O “buzilis”, como diria meu saudoso pai, é ter dinheiro pra comprar.
Assim, a maioria acaba optando pelo desenho moderninho, cheio de “firulas”, mas que em matéria de segurança, dirigibilidade e modernidade estão bem aquém dos mesmos modelos apresentados nos mercados mais abastados. Como exemplo posso citar o Ford Ecosport, basta pesquisar o conteúdo que é vendido nos Estados Unidos e aqui para entender o meu ponto de vista.
Bem, é claro que nenhum executivo de nenhuma montadora vai admitir isso para não fugir ao “politicamente correto” e para não dar “tiro no pé”.
Parece que brasileiro gosta de carro ruim. Ao invés de pegar um Golf de entrada, opta por modelo de qualidade estrutural inferior só por causa da multimídia e mais um ou outro mimo de baixo custo.
Simples. Brasileiro não enxerga o carro como mais um acessório e sim como um troféu, uma conquista de vida e se deixa levar pela emoção na compra de um veículo e pelo “status” que ele atribui.
Além disso vem o descontrole financeiro do exagero de fornecimento de crédito no Brasil, nunca que um americano ou europeu compraria um carro em 60 prestações.
Conversa pra enganar trouxa. A verdade é que o lucro Brasil é exorbitante.
Veja o argo/Cronos, custam uma fortuna e tem uns 16 modelos… Sairia bem mais em conta se só vendessem os modelos completos, pois ganham em escala, simplifica a produção, as vendas, etc. A enorme qtidade de opções é uma técnica primitiva de marketing.
Funciona no terceiro mundo, afinal, somos especialistas em patos…
Tenho um sandero stepway… Um desastre.
Problemas permanentes…