Carros nacionais inovadores: 8 modelos que criaram segmentos
Criados para ocupar faixas de mercado inexploradas, esses veículos acabaram sendo pioneiros em novas categorias, mas nem todos fizeram sucesso
Criados para ocupar faixas de mercado inexploradas, esses veículos acabaram sendo pioneiros em novas categorias, mas nem todos fizeram sucesso
Para os fabricantes de carros, sejam eles nacionais ou de outros países, entender os desejos dos consumidores é um grande desafio. Geralmente, a aposta mais segura é participar de segmentos já consolidados, que têm boa participação no mercado. Mas existe outra possibilidade: entrar em nichos inexplorados.
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Nesse caso, os riscos são maiores, pois é impossível prever precisamente como será a reação do público a um produto fora do padrão. Porém, se a aceitação for boa, o veículo permanece sem concorrentes diretos por algum tempo. Ademais, quando algum similar enfim for desenvolvido, o pioneiro já terá imagem forte e, consequentemente, compradores fiéis.
O AutoPapo enumerou 8 desses modelos: a relação é composta unicamente por carros nacionais, de diferentes marcas e modelos. Confira o listão:
Até o fim dos anos 70, quem precisava de uma caminhonete só tinha à disposição modelos de grande porte, construídos sobre chassi. A Fiat viu uma oportunidade e, em 1978, lançou um utilitário baseado no 147, batizado simplesmente de Pick-up.
Menor, mais barata e econômica que os similares de então, o modelo acabou criando um segmento inédito para os carros nacionais. Na década seguinte, essa categoria já era disputada por Ford Pampa, Volkswagen Saveiro e Chevrolet Chevy 500.
A Fiat fez vários aperfeiçoamentos na caminhonetinha até substituí-la pelo Fiorino Pick-up, que, por sua vez, deu lugar à Strada. Essa última, inclusive, voltou a inovar quando ganhou opções de cabine estendida e, posteriormente, de cabine dupla. Recentemente, o modelo ganhou uma nova geração.
O ano era 1990. O governo havia modificado os critérios de cobrança do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados): até então, veículos com motores menores que 1.0 eram tributados com uma alíquota de 40%. A partir dessa cilindrada, o percentual era menor: 35%.
Naquele ano, a alíquota de IPI passou a ser de 20% na faixa até 1.0: motores de maior cilindrada permaneceriam tributados em 35%. Criou-se, então, o chamado carro popular. Inicialmente, a maior beneficiada seria a Gurgel, com sua linha de subcompactos equipados com propulsores de 800 cm³.
A Fiat, porém, agiu rápido. A empresa simplesmente reduziu a cilindrada do motor que havia movido o 147, de 1.049 cm³ para 994 cm³ (1.0, arredondando-se): para tal, bastou desenvolver um virabrequim de curso mais curto. Surgia, então, o Uno Mille, que nadou de braçada na onda da isenção fiscal.
Os primeiros carros nacionais semelhantes, o Chevrolet Chevette Júnior e o Ford Escort Hobby, só surgiram dois anos depois. Mais leve e moderno, o Uno Mille lidava melhor com o motor de baixa cilindrada e só ganhou o primeiro concorrente de peso em 1994: o Corsa. Àquela altura, porém, o hatch da Fiat já estava consolidado no mercado, tanto que só saiu de linha de 2013.
Outro nicho que a Fiat soube identificar muito bem foi o dos aventureiros urbanos. Ainda nos anos 90, o fabricante percebeu que alguns consumidores apreciavam a estética dos carros off-road, mas não necessariamente precisavam de tração 4×4 e de outros recursos para enfrentar trilhas, então disponíveis nos modelos nacionais com esse tipo de proposta.
É que a maioria dos proprietários desses veículos não enfrentava grandes obstáculos: a utilização fora do asfalto restringia-se a alguns quilômetros em estradas rurais, para chegar a sítios ou a atrações naturais. Portanto, bastaria um visual caprichado e uma suspensão reforçada e elevada.
Com base nessas constatações, a Fiat criou a versão Adventure da Palio Weekend, que chegou ao mercado em 1999. A suspensão elevada agradou em cheio: além de manter o veículo livre de esbarrões contra o solo, ainda colocava o motorista em posição mais alta que os demais, numa época em que pouquíssimos SUVs circulavam pelas cidades.
A nova versão logo tornou-se a mais vendida da gama da Palio Weekend. O sucesso fez a Fiat estender a linha Adventure para vários de seus veículos e outros fabricantes adotaram a mesma fórmula. Desde então, o mercado brasileiro passou a contar com hatches, picapes, monovolumes e até sedãs com suspensão elevada.
Por sua vez, a Palio Weekend contou com a versão Adventure até sair de linha neste ano. Tanto em vendas quanto em longevidade, a peruinha aventureira da Fiat superou todas as concorrentes diretas que teve, entre as quais 206 e 207 Escapade, da Peugeot, Parati Crossover e SpaceCross, ambas da Volkswagen.
Não foi apenas a Fiat que percebeu o desejo dos consumidores por veículos com suspensão elevada e estética off-road. A Ford também explorou esse nicho, mas, em vez de supri-lo com uma versão aventureira de um modelo já existente, criou um produto inédito: o EcoSport, baseado na plataforma do compacto Fiesta.
Lançado em 2003, o EcoSport tornou-se o primeiro SUV compacto entre todos os carros nacionais. O modelo permaneceu sem concorrentes diretos até 2011, quando a Renault apresentou o Duster. Desde então, praticamente todos fabricantes investiram nesse segmento, que passou a ser um dos mais importantes do mercado brasileiro.
Embora a Ford também afirme que a maioria dos consumidores não faz uso da tração 4×4, disponibiliza esse recurso para o EcoSport desde 2004. O modelo é, até hoje, um dos poucos a contar com essa opção, apesar de as vendas realmente concentrarem-se nas versões com tração dianteira.
Quase 20 anos antes de lançar o EcoSport, mais precisamente em 1984, a Ford apresentou uma linha de carros que tinha proposta inversa, mas também inédita entre os nacionais: apresentavam poucas diferenças visuais em relação às demais versões, porém podiam, de fato, encarar desafios fora de estrada. Os veículos em questão são a Pampa e a Belina com tração 4×4.
Com a picape e a perua derivadas do Corcel, a Ford inovou ao disponibilizar a tração total em veículos que mantinham-se práticos e confortáveis para uso diário. Além disso, tinam preços acessíveis para os padrões da época.
É verdade que o sistema de tração 4×4 desses modelos tinha uma grande limitação: ausência de diferencial central. Sem esse recurso para compensar as diferenças de rotação, o diferencial traseiro e o eixo cardã sofriam enorme desgaste. Por isso, o mecanismo só podia ser acionado em baixa velocidade e em linha reta.
Desse modo, muitos proprietários tiveram problemas e os dois modelos adquiriram má-fama no mercado. A Belina 4×4 acabou saindo de linha precocemente, em 1987. A Pampa, que tinha uma suspensão traseira de menor curso, devido à utilização de molas semi-elípticas, era menos propensa a falhas e durou até 1991.
Apesar dos percalços, Pampa e Belina 4×4 são, ainda hoje veículos sem similares no mercado brasileiro. Não por acaso, os exemplares sobreviventes tornaram-se cobiçados por colecionadores.
A chegada do Corsa ao mercado foi praticamente uma reinvenção da fórmula do Mille. A Chevrolet optou por um compacto moderno, arredondado e, para um popular, até sofisticado. Tais características opunham-se às do compacto da Fiat, quadrado, despojado e criado a partir de um projeto que, então, já existia há 10 anos no Brasil.
Alinhado com o similar europeu, o Corsa incorporou itens que, na época, simplesmente não existiam no segmento. O motor 1.0 tinha injeção eletrônica (monoponto, mas já mais avançada que o carburador dos concorrentes), enquanto a lista de opcionais oferecia ar-condicionado e direção hidráulica, equipamentos que não eram comuns nem nos segmentos superiores.
A resposta dos consumidores superou as expectativas do fabricante: imediatamente após o lançamento, em 1994, formaram-se enormes filas de espera. A produção não conseguiria suprir a demanda de imediato, e as concessionárias cobravam sobrepreço. A Chevrolet chegou a veicular uma campanha publicitária pedindo que os interessados aguardassem alguns meses.
Claro, a trilha do Corsa foi, de certo modo, seguida pela concorrência. A própria Fiat lançou a versão ELX do Mille, com acabamento aprimorado e mais equipamentos. A partir de então, os carros com proposta popular começaram a se descolar da imagem de despojamento. Não são raros, inclusive, os fabricantes que mantém duas linhas de compactos, uma das quais mais sofisticada.
Integrante da primeira leva de carros nacionais (começou a ser fabricada no Brasil em 1957), a Volkswagen Kombi é um modelo com características muito particulares. Tanto que, ao sair de linha 56 anos depois, em 2013, deixou uma lacuna no mercado. Afinal, outras vans do tipo multiuso sempre foram maiores e mais caras.
Por sua vez, a Kombi consegue acomodar nove ocupantes ou uma tonelada de carga. Isso apesar do comprimento relativamente compacto, de aproximadamente 4,5 metros. Junte-se a isso o preço de compra acessível e a manutenção simples: pronto, está explicado porque a produção durou tanto tempo.
É inegável que, nas últimas décadas, a idade do projeto trazia desvantagens nítidas à Kombi. A segurança pouco evoluiu, a ponto de a saída do mercado ter sido causada pela impossibilidade de adequá-la à nova legislação. O conforto a bordo também nunca foi um ponto alto.
O fato é que as qualidades parecem ter falado mais alto. A Kombi ocupou uma posição tão única no mercado que nunca enfrentou concorrentes com iguais características: nem a própria Volkswagen conseguiu substituí-la diretamente. Hoje, exemplares antigos são muito valorizados tanto no Brasil quanto no exterior.
Qual foi a primeira picape a ocupar a lacuna entre as compactas e as grandes? Quem respondeu Fiat Toro, errou, pois seis meses antes dela a Renault já havia colocado a Oroch no mercado. Em relação às similares menores, o modelo oferecia maior espaço interno e opção de motor 2.0. Isso, porém, com porte bem mais amigável às cidades que as caminhonetes maiores.
Do ponto de vista comercial, o pioneirismo da Oroch não representou sucesso. A Toro, apesar de ter chegado um pouco depois, obteve vendas bem superiores, graças a exclusividades como o motor a diesel. Também parecem ter pesado a falta de tradição da Renault no segmento de picapes e a derivação do Duster, enquanto a concorrente tem carroceria própria.
Vale destacar, entretanto, que em outros mercados, como o da Argentina e o da Colômbia, a Oroch vem obtendo bons resultados mercadológicos. A Renault, inclusive, encorajou-se a vender uma versão 4×4 da picape nesses países. Ironicamente, essa versão é fabricada no Brasil, mas só para exportação.
Fotos: Divulgação
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Faltou de mencionar o Ford Corcel, que trazia inovações tecnológicas inéditas no Brasil, como circuito selado de refrigeração e coluna de direção bipartida.
Também é bom lembrar que embora o DKW já tivesse tração dianteira, a do Corcel era bem mais moderna.