Elétrico: Sr. Toyoda foi duramente criticado, mas estava certo!

Confiante em sua estratégia, Toyota ficou de fora da corrida pelos elétricos, e o tempo provou que ela não tem do que se queixar

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Toyota não está alheia à eletrificação, mas tem tem sido mais cautelosa com sua linha 100% a bateria (Fotos: Toyota | Divulgação)
Por Boris Feldman
Publicado em 12/04/2025 às 09h00

Enquanto grandes empresas anunciavam bilhões de dólares de investimentos nos elétricos, Akio Toyoda, presidente da Toyota e neto de seu fundador, enfrentou um turbilhão de críticas ao decidir diversificar investimentos em outras alternativas energéticas.

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Um dos resultados foi de a Toyota ter sido pioneira do sistema híbrido com o Prius lançado em 1997. E novamente pioneira com o Mirai, que se movimenta com motores elétricos, mas sem bateria, pois a corrente é gerada por uma célula a combustível (Fuel Cell) alimentada por hidrogênio. Seu elétrico só apareceu anos mais tarde.

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Prius foi um marco na indústria por ter sido o primeiro híbrido de série, que consolidou tecnologia presente em carros como Corolla e Corolla Cross

Corrida pelo elétrico

Primeiro elétrico do mundo produzido em série? Foi o Zoe da Renault, apresentado no Salão de Genebra de 2009. Um ano depois foi a vez de sua então parceira, a Nissan, com o Leaf.

A corrida pelo elétrico agitou o setor. Em vários países foram surgindo iniciativas para se determinar uma data limite no emplacamento de carros com motores térmicos (a combustão). Os anos de 2030 e 2035 foram os marcos definidos para as barreiras legais aos automóveis a gasolina e incentivo aos elétricos.

Navegando nesta onda, a CEO global da General Motors, Mary Barra, anunciou que sua empresa não iria sequer investir nos híbridos e migrar diretamente para os carros a bateria. A Ford, embora menos radical, também apostou suas fichas nos elétricos.

Os chineses foram ainda mais espertos, desenvolveram seus elétricos à frente dos ocidentais e esbanjam tecnologia na eletrificação veicular.

A euforia durou pouco e os ventos sopram hoje mais para os híbridos. Mrs Mary foi forçada a investir nesta praia e a engenharia da GM está debruçada sobre eles. A Ford encerrou prematuramente a produção da F 150 Lightning (pura elétrica), que não vingou no mercado norte-americano e passou a oferecer versões híbridas. A Stellantis volta a produzir em agosto seu famoso V-8 Hemi (riscado do mapa por seu ex-CEO Carlos Tavares) e lança uma Ram hibrida. Na Europa, o ano de 2030 para limitar os carros à combustão já foi empurrado mais para frente. Não por falta de tecnologia, mas de adesão do mercado aos elétricos. Fábricas como Mercedes e Porsche estão ressuscitando projetos de novos motores a gasolina.

As estatísticas comprovam: segundo o JD Power, o mercado dos EUA absorveu 1,2 milhão de elétricos em 2024, uma fatia de 9,2% com crescimento de 0,8% em relação a 2023. Enquanto isso, os híbridos representaram 11% das vendas, tendo crescido 2,4% em relação ao ano anterior. Os elétricos nos EUA ainda custam – em média -cerca de U$ 5 mil mais que os carros a combustão. E desvalorizam quase o dobro no mercado de usados.

Ri melhor quem ri por último

A Toyota assistiu de camarote à enxurrada de elétricos, continuou investindo nos híbridos e logo percebeu a superioridade dos chineses nesta tecnologia.

Seu primeiro elétrico? O ainda conceito bZ4X, lançado em 2021. Um SUV com mais de 500 km de autonomia, garantia de até 10 anos e que inaugurou a linha bZ. Que significa “beyond Zero”, numa referencia às emissões “zero”. Mas sua grande aposta é no segundo modelo bZ, o compacto 3X desenvolvido em parceria com a chinesa GAC e que será comercializado inicialmente apenas na China. Um SUV com preços mais que competitivos e que aplica todo o aperfeiçoamento dos elétricos conquistado pelos chineses até agora.

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Família bZ terá a China como mercado inicial, mas será distribuído gradualmente em outras praças mundo afora

A estratégia de “seu” Toyoda é iniciar apenas em 2027 os lançamentos globais de elétricos começando por sua linha de luxo, a Lexus. Com uma nova plataforma flexível e modular projetada para reduzir custos, acelerar tempo e eficiência na linha de montagem. Enquanto a concorrência investia bilhões nos carros a bateria, sua marca continuou desenvolvendo os híbridos. Que, hoje, todos percebem tornar-se a melhor opção do mercado até que os elétricos sejam mais viáveis em termos de custo, alcance, recarga e valor de revenda.

Pelo andar da carruagem, quando este dia chegar, a Toyota já terá um portfolio com uma completa linha de eletrificados. E Akio Toyoda, sorridente num ofurô familiar, contando para seus herdeiros e sucessores como se sair vitorioso neste complexo jogo contra os mais poderosos players do mundo.

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6 Comentários
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Gustavo 14 de abril de 2025

Trabalhei 10 anos numa empresa japonesa, vi muito da cultura deles, que é ultraconservadora, muito resiliente e de longo prazo. Portanto zero surpresas para mim essa posição da Toyota, mas que na época deixou várias pessoas sem entender nada, do tipo, “os japas estão sendo trouxas e perdendo o bonde da história”. A bem da verdade, os fatos mostram que o conservadorismo e paciência dos japas se pagou, pois evitaram colocar uma montanha de dinheiro e perder tempo em carros com uma tecnologia pífia, que ainda não atende vários aspectos do que se espera de um carro.
Elétricos estão indo bem na China, verdade, mas ali existe uma decisão governamental forte de apoiar a adoção de carros elétricos, a aceitação social é mais fácil pois eles não tem uma cultura automobilística. Fora da China, em países livres, a pegada é outra pois a adoção do elétrico depende da população livremente comprar a ideia, e isso obviamente não está acontecendo na intensidade esperada e por razões que não são tão difíceis de calcular. A diferença é que os japoneses tiveram competência de fazer essa conta corretamente e sangue-frio de não ceder às tentações ilusórias do elétrico.
Hoje tenho um carro a combustão, mas se eu fosse me arriscar num hibrido (elétrico nem pensar…) a única opção de híbrido que eu confiaria investir 200K seria Corolla ou Corolla Cross híbridos. Tenho certeza que o carro vai funcionar, não vai dar “pau” na bateria, e vou conseguir revender depois. Conta simples.

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Santiago 14 de abril de 2025

Exatamente!!!

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Davi Ribeiro 15 de abril de 2025

Sinto lhe dizer, mas a bateria do Corolla Cross e de 90% dos carros eletrificados são de fornecedores chineses.

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GUSTAVO 15 de abril de 2025

80% dos iPhones também são produzidos na China, sob especificações da Apple, claro. Todo mundo pode comprar baterias na China, cada um com suas especificações. No caso da Toyota, a fabricação pode ser da LG (Coréia do Sul), Panasonic (Japão) e CATL/BYD (China) dependendo do caso. Até parece que a China tem monopólio na fabricação de algo. O que eles tem realmente de diferencial é custo competitivo e capacidade produtiva. De qualquer modo, para o consumidor brasileiro o que vale é a confiabilidade geral, acesso a peças e manutenção, e valor de revenda do carro, e nesses aspectos a Toyota ainda é melhor. Eu não sou Toyoteiro de forma alguma, mas como disse se fosse me arriscar a comprar um híbrido eu escolheria o mais confiável.

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Carlos Alberto Ranieri 14 de abril de 2025

Discordo. Toyota errou com o carro à hidrogênio. Quanto aos BEVs, ainda não se pode dizer se errou ou acertou. Vamos aguardar mais uns 5 anos.

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Santiago 12 de abril de 2025

Mais uma vez parabéns ao sr Toyoda por saber enxergar o óbvio que estava embaixo dos nossos narizes, mas que os posudos CEOs das outras montadoras não quiseram enxergar.
Não se faz transições energéticas da noite para o dia, muito menos em escala global!
Entre o presente e o futuro sempre há que se “cruzar pontes”; e no caso da descarbonização os Hibridos são essa ponte.
Os que tentaram pular por cima da ponte cairam na ribanceira, e agora estão escalando o barranco de volta para ainda então aprenderem a cruzar a ponte.

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