Golf Comfortline: hatch contra o ‘efeito manada’
Com vendas em baixa, ofuscado pela moda dos SUVs, hatch médio da VW proporciona prazer ao dirigir, é bem-acabado e traz pacote de equipamentos coerente
Com vendas em baixa, ofuscado pela moda dos SUVs, hatch médio da VW proporciona prazer ao dirigir, é bem-acabado e traz pacote de equipamentos coerente
Poucas pessoas se interessam pelos hatches médios atualmente, devido à febre pelos SUVs. As vendas da categoria caem ano após ano e, em 2018, a média de emplacamentos de todos os modelos do gênero não chega sequer a 1.000 unidades por mês. E olha que o mercado brasileiro tem algumas boas opções nesse segmento, entre as quais o Golf Comfortline: neste ano, a gama passou por uma leve reestilização e voltou a ficar alinhada com a similar europeia. Se você, todavia, gosta verdadeiramente de dirigir e não se importa muito com modismos, vale a pena ignorar o efeito manada e olhar com atenção para ele.
Prazer ao conduzir sempre foi uma das bandeiras do hatch da Volkswagen, assim como do seu arquirrival Ford Focus. E isso vale inclusive para o Golf Comfortline, opção de entrada da gama, equipado com um motor 1.0 turbo, com três cilindros e 12 válvulas com duplo comando variável. Bloco e cabeçote são feitos em alumínio e a correia dentada é do tipo de alta durabilidade, com substituição prevista a cada 120 mil km ou 4,5 anos. O sistema de injeção direta de combustível torna desnecessários sistemas auxiliares de partida a frio.
Os 128 cv com etanol – com gasolina o valor é ainda menor, 116 cv – dão a impressão que o desempenho do Golf Comfortline é tímido. Mas potência não é tudo: é preciso levar em consideração também o torque, que no caso, é de generosos 20,4 kgfm com ambos os combustíveis. E, graças à tecnologia de sobrealimentação, essa força aparece bem cedo, a apenas 2.000 rpm, e segue sendo entregue em sua totalidade até os 3.500 rpm. Segundo o fabricante, a 1.500 rpm, cerca de 90% do valor máximo já está disponível. Esse é o segredo da agilidade surpreendente do hatch no trânsito urbano.
É verdade que, em determinadas situações, a potência máxima limitada causa impacto no desempenho, principalmente em rotações mais altas. Com seu motor 1.0 TSI, o Golf Comfortline arranca bem e tem respostas rápidas em baixa, mas, em acelerações a pleno pedal, é nítida a perda de rendimento à medida que o ponteiro do conta-giros varre o mostrador. Por outro lado, os freios, com discos nas quatro rodas, imobilizam o veículo com eficiência.
Nas retomadas, o modelo é ágil, beneficiado pela boa atuação do câmbio automático de seis velocidades, que passou a ser o único disponível para as versões Comfortline e Highline. Esperta, a central eletrônica faz trocas em momentos oportunos, ao passo que o escalonamento correto das marchas colabora para não desperdiçar a força do propulsor. Se quiser comandar o sistema por conta própria, o motorista pode utilizar práticos paddle-shits no volante.
Em consumo, os resultados são satisfatórios, mas não excepcionais. O AutoPapo obteve, com gasolina no tanque, médias de 11,2 km/l na cidade e de 14 km/l na estrada. São números muito parecidos com os divulgados pelo Programa de Etiquetagem Veicular do Inmetro (PBE), que cravou 11,4 km/l e 14,2 km/l nas mesmas condições, respectivamente. Com etanol, o PBE indica médias de 8 km/l em circuito urbano e 10,2 km/l no rodoviário.
Não é só a agilidade que torna o Golf Comfortline um carro prazeroso. A maior qualidade dele está no ajuste fino do conjunto mecânico. Além do bom casamento entre motor e câmbio, o modelo entrega ótimo acerto de suspensão. Apesar de o hatch já ter sido até melhor nesse quesito, quando era equipado com um conjunto traseiro independente do tipo multilink, que foi trocado por um semi-independente por barra de torção durante o processo de nacionalização, o comportamento dinâmico ainda agrada bastante.
Ele entrega excelente estabilidade em curvas sem prejudicar a absorção de irregularidades em pisos ruins, o que denota ótimo compromisso entre conforto de marcha e esportividade. A direção elétrica é referência em calibração: permite ótimo feeling e tem sempre o peso correto, em diferentes velocidades, demonstrando boa progressividade.
A atmosfera do habitáculo ajuda o motorista a interagir com a máquina. O motorista conta com um ótimo posto de comando, com comandos à mão, boa leitura dos instrumentos e volante de ótima pegada. A coluna de direção tem ajustes telescópico e de altura, e o banco, que proporciona bom apoio para o corpo, também tem regulagem de altura.
O acabamento é bom, mas alguns detalhes que podem melhorar. Painel e portas dianteiras exibem material emborrachado, mas nas portas traseiras os plásticos são sempre duros; há apenas um enxerto de tecido. Pelo menos a qualidade da montagem segue sendo referência no segmento, com arremates e encaixes perfeitos.
O espaço interno também agrada. Quatro adultos acomodam-se com folga, e, mesmo com cinco a bordo, ainda há nível aceitável de conforto. Os ocupantes do banco traseiro contam com difusores de ar dedicados e ainda há encostos de cabeça e cintos de três pontos para todos acomodados ali. Já o porta-malas é limitado a 313 litros, mas esse número não chega a ser incoerente para um hatch médio.
Entre os equipamentos de série, o Golf Comfortline traz rodas de liga leve de 16 polegadas, ar-condicionado manual, sensores de estacionamento na dianteira e na traseira, sistema start-stop, vidros elétricos nas quatro portas com dispositivo one-touch, travas elétricas e retrovisores elétricos, retrovisor interno eletrocrômico, alarme, chave com telecomando, assistente de partida em rampa, volante revestido em couro, computador de bordo e alerta de pressão dos pneus.
O sistema multimídia com tela touchscreen de oito polegadas também é de série e tem tecnologia Android Auto, Apple Carplay e MirrorLink. Há também CD-Player, leitor de cartão de memória (SD-Card), Bluetooth e entrada USB.
A lista de itens segurança do hatch médio inclui sete airbags (dois frontais, dois laterais, dois do tipo cortina e um para os joelho para o motorista), controles eletrônicos de estabilidade e tração, sistema Isofix para fixação de cadeirinhas e faróis e lanternas de neblina.
Teto solar panorâmico e rodas de 17 polegadas são opcionais que custam R$ 4.800 e R$ 2.450, respectivamente. O chamado virtual cockpit, que concentra os instrumentos do painel em uma tela digital, nã está disponível para a versão Comfortline. O preço parte de R$ 91.790, mas pode chegar a R$ 101.240 se o comprador adquirir todo o conteúdo extra, inclusive pintura metálica (R$ 1.750) ou perolizada (R$ 2.200).
Apesar de ser um dos medalhões da linha Volkswagen e um dos automóveis mais vendidos no mundo, o futuro do Golf é nebuloso no Brasil, ao menos a médio prazo. Nos próximos anos, o modelo deve seguir sendo comercializado sem grandes surpresas, mas dificilmente, a julgar pelos números de emplacamentos, a próxima geração será nacionalizada. A partir de então, o hatch médio deve ser trazido para cá via importação, em menores quantidades e com preços (ainda) mais elevados. Se, por um lado, isso desestimula a compra, por outro talvez seja uma das últimas oportunidades de adquiri-lo por valores na casa dos R$ 100 mil.
Ficha técnica | Volkswagen Golf Comfortline |
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Motor | Dianteiro, transversal, flex, 999 cm³, com três cilindros, 12 válvulas, injeção direta de combustível e turbocompressor |
Potência | 116 cv (gasolina) e 128 cv (etanol) a 5.500 rpm |
Torque | 20,4 kgfm (gasolina/etanol) entre 2.000 rpm e 3.500 rpm |
Transmissão | automática de seis velocidades, tração dianteira |
Suspensão | McPherson na dianteira e barra de torção na traseira |
Freios | disco ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira, com ABS |
Direção | assistida eletricamente |
Dimensões | 4,255 m de comprimento, 1,468 m de altura, 2,630 m de distância entre-eixos, 1,799 m de largura |
Peso | 1.223 kg |
Tanque de combustível | 50 litros |
Porta-malas | 313 litros |
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Carro bom mas sem chance por este valor.
Por isso não vende.
Como erguer a dianteira do PT Cruiser? Obrigado.