Lucro das montadoras: 5 grandes migués da indústria

O mercado também se vale dos seus “caôs” para manter veículos em determinadas categorias e engordar as margens de lucro das montadoras

emblema 200tsi do volkswagen polo sobre pintura preta
Motor 1.0 TSI equipa carros de luxo, mas com tributação de popular (Foto: Marcelo Jabulas | AutoPapo)
Por Fernando Miragaya
Publicado em 04/03/2023 às 13h03
Atualizado em 07/03/2023 às 19h49

A cadeia automotiva é complexa, há uma política tributária perversa e tem sempre o tal do custo Brasil. Mas as fabricantes e o mercado também têm seus subterfúgios para sobreviver e faturar. São uns migués automotivos dos quais as montadoras se valem para diferentes objetivos, e garantir seu lucro.

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Faixa de tributação por motor, ajustes mecânicos para poder colocar uma tração 4×4, híbrido-leve para se valer de rodízio… Tem muito atalho que parecem migués automotivos para manter a competitividade. Conheça alguns deles.

1. 1.0 e turbo elevou lucro das montadoras

volkswagen polo tsi 2023 prata motor
Motores 1.0 turbo equipam carros de maior valor agregado, mas com tributação mais baixa (Foto: Arquivo AutoPapo)

Desde os anos 1990 que o modelo 1.0 é tratado (com muita licença poética) de carro popular por causa da tributação diferente. Veículos com motores flex com capacidade volumétrica de até 1.000 cm³ pagam 7% do Impostos sobre Propriedade Industrial (IPI).

Para se ter ideia, os carros com conjuntos de 1.0 a 2.0, a gasolina, são tributados em 13%. Enquanto os acima de 2.0 pagam uma alíquota entre 18% e 25%. Porém, esse critério do automóvel 1.0 vale independentemente de potência.

Ou seja, a avalanche de carros “mil” turbos pagam os mesmos 7% de IPI. Só que, se você for comparar o preço de tabela, o custo Brasil foi bem diluído. Os veículos turbinados são bem mais caros que seus pares aspirados.

Tudo bem que o turbo representa um custo a mais, assim como outros componentes e tecnologias (injeção direta, quando for o caso, por exemplo) e até óleo lubrificante. Vamos com o exemplo do HB20. A opção Comfort manual do hatch da Hyundai com o motor TGDI custa R$ 96.490, R$ 13.700 ou 16,5% mais caro que a Comfort aspirada.

2. Onda picapeira?

fiat toro volcano t270 2022 branco de frente
Picapes, por serem utilitários, têm menor carga tributária que um SUV e elevam o lucro das montadoras (Foto: Marcelo Jabulas | AutoPapo)

Ainda na seara dos impostos. Já viu como as montadoras dão atenção para as picapes? A razão não está só no crescimento inegável do segmento. No fim de abril passado foi anunciada uma redução de 35% na cobrança do IPI para picapes e outros comerciais leves, como furgões e vans.

Desta forma, a alíquota, que já tinha sido reduzida anteriormente de 8% para 6,5%, caiu para 5,2% na ocasião por meio do Decreto 11.055. Os preços das picapes até foram discretamente reduzidos depois disso, mas a verdade é que é um tremendo migué automotivo investir nelas para aumentar as margens.

Veja que os preços das picapes médio-compactas, como Fiat Toro e Renault Oroch, são maiores ou se assemelham muito aos dos SUVs que lhes servem de base. Isso com os mesmos conjuntos mecânicos e nível de equipamentos, sendo que os utilitários pagam 13% de imposto.

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O Bronco Sport compartilha quase tudo com a picape Maverick, mas custa quase R$ 30 mil a mais e garante o lucro da montadora (Foto: Ford | Divulgação)

O Jeep Renegade com motor 1.3 turbo mais barato custa R$ 134.190 (versão Sport). A Toro – que usa parte da plataforma do SUV – de entrada sai por R$ 146.990 (Endurance), com o mesmo motor e mais ou menos os mesmos itens de série.

Já a Oroch Intense, intermediária, tem preço de R$ 120.950. O Duster, que serve de base para a picape, sai por R$ 121.990 na mesma versão, com câmbio CVT, ok, mas com design atualizado e pagando mais imposto.

3. SUV de luxo com motor diesel

mercedes benz ml430 1999 prata em movimento frente lateral lucro das montadoras
O Mercedes ML era oferecido com motor diesel por ter tração 4×4 e um sistema que imitava a caixa de redução (Foto: Mercedes-Benz | Divulgação)

A legislação brasileira proíbe carros de passeio movidos por motor diesel desde 1976, em meio à Crise do Petróleo. O uso do combustível ficou restrito a veículos para uso produtivo, uma vez que mais de 70% da atividade econômica do país se concentra no modal rodoviário e o Brasil precisa importar o combustível.

A lei que permite a um veículo beber diesel no país também inclui os jipes. Para tal, estes fora de estrada precisam ter tração nas quatro rodas, caixa de mudança múltipla e tração reduzida. É aí onde começa a brecha para alguns caôs automotivos.

Tudo começou em 1997, quando a Mercedes começou a vender a então nova geração do ML. O SUV da marca de luxo passou a ser importado na versão 320 CDI com motor diesel, mas sem o redutor mecânico.

No lugar do dispositivo mecânico acoplado à caixa ou diferencial e que encurta a relação de todas as marchas do câmbio, o ML tinha um sistema eletrônico que prometia substituir o redutor. O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) aceitou o migué automotivo e o ML abriu precedentes para outras marcas venderem SUVs de luxo em versões diesel.

Outro caô comum também é escalonar a primeira marcha bem curta e vender como uma super-reduzida. Foi o que fez a Agrale para poder negociar o Marruá com o motor diesel com órgãos governamentais e Forças Armadas. Segundo a marca, a primeira marcha do jipe capaz de substituir a reduzida – era até chamada de “primeira trator”…

4. Combustível subsidiado

tampa do bocal do tanque de combustivel de veiculo a diesel
Picapes e SUVs de luxo com motores diesel se beneficiam de subsídios que deveriam atender a caminhoneiros (Foto: Shotterstock)

Por falar em diesel, como dito, desde 1976 é proibida a comercialização de veículos de passageiros com motor movido pelo combustível. Ao mesmo tempo, o governo tratou de subsidiar o diesel para aliviar os custos do frete rodoviário.

Dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT) indicam que o Governo Federal desembolsou R$ 4,8 bilhões com programa de subsídio ao óleo diesel. Foi naquele ano em que os caminhoneiros fizeram uma greve contra o aumento do combustível, que acabou recebendo maiores desonerações.

Esses subsídios, porém, também são usufruídos por donos de veículos que não necessariamente transportam mercadorias. Picapes para uso no lazer, SUVs de luxo como já mencionados ou mesmo utilitários com vocação bastante urbana (Jeep Compass, por exemplo) tem suas variantes a diesel…

5. Isenção de rodízio para um mero gerador…

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Sistema 48V do Kia Stonic garante a esse híbrido leve “carta branca” para furar o rodízio da capital paulista (Foto: Kia | Divulgação)

Esse migué automotivo é mais recente e vem na onda da eletrificação. E também pela banalização para classificar um veículo como “eletrificado”. No pacote entram 100% elétricos, híbridos plug-in e funcionais (onde o propulsor elétrico traciona as rodas), mas também os híbridos leves.

Nestes MHEV, o carro só é movido pelo motor a combustão. O que existe é um pequeno motor de 48V que funciona como gerador para ajudar o propulsor flex ou a gasolina em determinadas situações. Até o ganho de economia é bem inferior se comparado aos outros tipos de hibridização.

Mesmo assim, esses híbridos-leves se valem da isenção de rodízio na cidade de São Paulo. Por serem considerados eletrificados, podem rodar todos os dias na capital paulista. Para as montadoras, um argumento a mais de venda.

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1 Comentário
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Jo 5 de março de 2023

Puro lobby. ANFAVEA ao meu ver é um antro.

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