Algumas explicações e orientações das montadoras sobre os seus automóveis mais confundem do que ajudam o motorista
Tantas foram as novas tecnologias embarcadas no automóvel que o manual do proprietário tornou-se um quase inalcançável calhamaço. As fábricas chegam a publicá-lo pelo sistema digital para ser lido na tela. E o resultado é que poucos se animam a decifrá-lo. E, quando o fazem, permanecem com muitas dúvidas.
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Dizem os manuais dos automóveis que a troca do óleo do motor deve ser feita, em geral, aos 10 mil km ou 12 meses, o que vencer primeiro. Salvo quando o veículo é utilizado sob condições “severas”. Neste caso, a frequência aumenta para seis meses ou 5.000 km. A meu ver, a fábrica deveria inverter: troca aos 5.000 km ou seis meses, salvo quando o veículo não rodar nas tais condições.
Pois o motorista imagina que “severas” é andar sempre com peso no limite (ou além), puxando reboque ou na terra/lama. Mas não é nada disso: é como roda a maioria, que sai de casa de manhã e roda alguns quilômetros até o trabalho. E só liga o motor novamente ao voltar para o almoço ou à noite. O óleo do motor permanece frio e é contaminado pelo combustível. O que justifica sua troca num prazo mais curto.
Alguns manuais nem explicam o que vem a ser “condições severas”, outros a explicam de modo quase incompreensível.
Combustível no Brasil é uma fonte de mal entendidos. Raros os manuais dos carros que explicam corretamente quais são e quais os mais adequados para cada modelo. A octanagem, por exemplo, ou capacidade de resistir à compressão, alguns a mencionam pelo sistema RON, outros vão de MON, enquanto no Brasil o padrão passou a ser o IAD, uma média dos outros dois.
Mas os manuais traduzidos de carros europeus, asiáticos ou norte-americanos costumam manter o padrão do país de origem do automóvel. E outras barbaridades: num manual em português (brasileiro) da Mercedes Benz, de um carro “fabricado” em Iracemápolis (SP), consta com todas as letras que o teor máximo de etanol permitido na gasolina é de 10%. Quando no Brasil ele já estava a 27%.
Alguns manuais de automóveis sugerem apenas o óleo da marca “parceira”, outros mencionam também as características básicas, permitindo o uso dos concorrentes. Na Alemanha, a Mercedes-Benz foi processada pelo sindicato dos produtores de lubrificantes, pois exigia o uso de um óleo específico nos motores, sob risco de se perder a garantia.
Pode-se abastecer com qualquer dos dois combustíveis se o carro é flex? Sim, mas não convém passar meses usando apenas um deles. Algumas fábricas recomendam alternar entre etanol e gasolina. Outras sequer se manifestam.
Sujeito a chuvas e trovoadas, alguns são life-time e não pedem troca. Outros sugerem a substituição em elevadas quilometragens. É tão contraditório que duas marcas presentes no Brasil usam o mesmo câmbio (CVT). Uma recomenda a troca, outra diz não ser necessário…
Todas sugerem, no manual do carro, trocar rodas e pneus de posição ao atingir determinada quilometragem (em geral, cada 10 mil km). Muitas explicam superficialmente como fazê-lo. Outras capricham um pouco mais. Nenhuma se dedica a detalhes como a possiblidade de incluir o estepe na operação. Recomendam o alinhamento da direção, o que poderia ser defensável. Mas também o balanceamento das rodas. Elas por acaso se desbalanceam ao trocar de posição no carro?
Nenhuma fábrica deixa claro que se deve utilizar gasolina aditivada. Aliás, elas não deixam de ter razão, pois a aditivação não é padronizada nem fiscalizada…Também não se sabe se o etanol merece aditivos, pois é assunto nebuloso. Exceto para as fábricas que objetivamente não recomendam nenhum aditivo no tanque. Será que estão corretas?
Controvérsia eterna! Há um consenso entre as engenharias das fábricas ser normal um consumo de um litro cada 5.000 km, nos motores modernos. Entretanto, alguns carros saem da linha de montagem no dia seguinte ao jogo de futebol perdido pelo time superpopular. Então, para evitar aborrecimentos nas concessionárias e na própria fábrica, e na maior cara-de-pau, alguns manuais dos carros informam ser normal a queima de ½ litro de óleo cada 1.000 km.
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Acho que devemos seguir sempre os “manuais”, não apenas do veículo, mas do fabricante dos componentes e dos fluidos tbm.
Um professor de engenharia mecânica da Universidade que me formei aqui na Capital Paulista, nos disse em sala de aula por volta do ano de 2006, que óleo de motor durava o dobro do que os manuais recomendavam. Então eu tinha um Gol 1.8-L ano 1990 com 190.000 km rodados e o manual do proprietário recomendava a troca de óleo a cada 10.000 km. Usava o ótimo Castro GTX 20W-50 base mineral e trocava a cada 3.000 km conforme recomendação do posto de troca de óleo Castrol.
Então resolvi chegar aos 10.000 km que o manual do proprietário recomendava e o motor começou a fazer um barulho nas partidas a frio. Levei ao mecânico de confiança e se constatou que destruiu todas as bronzinas do motor. Por pouco o motor poderia ter fundido.
Então passei a trocar de óleo mineral como manda o figurino… 3.000 km ou 6 meses e não tive mais problemas. Vendi este carro em 2019 aos 242.000 km e 29 anos de uso.
Moral da história:
“O barato pode sair muito caro!”