Mercedes 150 Sport Roadster 1936: Precursor do Fórmula 1
Quando todos os carros tinham motor dianteiro, inclusive os “charutinhos” de corrida, a Mercedes projetou um esportivo com motor traseiro entre-eixos
Quando todos os carros tinham motor dianteiro, inclusive os “charutinhos” de corrida, a Mercedes projetou um esportivo com motor traseiro entre-eixos
Motor na frente e um eixo (cardã) cruzando o carro para tracionar o eixo traseiro. Essa era a configuração de todos os automóveis produzidos em série na década de 1930. Até que a Mercedes-Benz teve a brilhante ideia de levar o motor para a traseira. Com as vantagens de reduzir peso e custo (ao eliminar o eixo cardã) e de aumentar o espaço interno.
O projeto do sedã compacto “130 H” (“H” de Heck, “traseiro” em alemão) foi desenvolvido em 1933. O carro lançado em 1934, tendo sido fabricado até 1939. A última série foi a “170 H”, com a cilindrada aumentada de 1,3 para 1,7 litros. De tão parecido, o carro foi chamado de “Fusca da Mercedes”.
Aliás, se substituir seu motor traseiro refrigerado a água por um resfriado a ar, você fica muito próximo do projeto do Fusca apresentado por Porsche ao governo alemão em 1937.
Se o Fusca e os automóveis Porsche (a partir de 1948) com essa configuração foram extremamente bem sucedidos, os Mercedes “Heck Motoren” não foram adiante por dois motivos: custo elevado e início da guerra. Além, claro, da estabilidade comprometida por causa do motor dependurado atrás do eixo traseiro.
Houve uma variação sobre o tema do motor traseiro desenvolvida pela Mercedes, o 150 Sport Roadster. A ideia de seus engenheiros foi colocar o motor não atrás, mas à frente do eixo traseiro. Ou seja: a famosa disposição “entre-eixos”, que resulta em excepcional estabilidade. Impossível para um sedã, pois o motor ficava exatamente no lugar do banco traseiro, mas perfeita para um roadster que só carregava motorista e um passageiro. Uma ideia tão boa que é adotada até hoje nos carros da Fórmula 1 e outros esportivos de alta estirpe…
O Sport Roadster foi apresentado em 1935, no Salão de Berlim, equipado com motor de 1.500 cm3 de cilindrada e 55 cv de potência, que levavam o esportivo a excepcionais 125 km/h (para a época…) graças ao seu baixo peso e boa aerodinâmica. A disposição mecânica abriu espaço para soluções estilísticas, no mínimo, exóticas.
Já que não tinha radiador na dianteira (ele ficava atrás, entre as molas da suspensão), seus projetistas lascaram um terceiro farol central na dianteira. A traseira é do tipo “Boat Tail” (rabo de canoa), obrigando a instalação de duas placas laterais. O porta-malas (dianteiro) ficou reduzido, pois o tanque vai sobre o eixo – para melhorar a distribuição de peso – e comporta apenas uma grande valise. Sem lugar para o estepe, bolaram então dois deles nas laterais…
Não há dados concretos sobre quantos 150 Sport Roadster foram produzidos pela Mercedes-Benz entre 1935 e 1936. No entanto, alguns registros (salvados da guerra) indicam apenas cinco unidades, duas delas efetivamente entregues. Todas se perderam, exceto a adquirida na década de 1950 pelo museu da marca alemã. Esta, claro, foi a que guiei.
Sentar ao volante da “fera” é experiência tão exótica quanto a própria. Não tem regulagem de banco e o motorista mais alto (como eu) vai quase espremido ao volante. Mas surpresa agradável é que o danado tem bom desempenho… Para a época, bom frisar. Anda tão bem que faz lembrar as antigas Mercedes com compressores.
E a maior surpresa é a estabilidade: ele não vai muito além dos 100 km/h, mas é bom em curvas de baixa graças ao motor entre-eixos e a boa suspensão com molas helicoidais. E um interessante detalhe mecânico: depois das três marchas habituais, uma quarta do tipo overdrive, que se engata sem pisar na embreagem. E sem nenhum engasgo nem “arranhada” de engrenagens, apesar dos mais de 70 anos de chão…
“Pronto, cara, você já andou muito no Sport Roadster”, disse o diretor do Classic Center da Mercedes na Califórnia (EUA), aflito com a raridade que veio da Alemanha com seguro de 1 milhão de dólares. Só para constar: se o navio afunda, onde comprar outra? Por isso me pediu logo o brinquedinho de volta. Uma pena!
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Boris, siga com esta coluna mais vezes. Se me permite, poderia incluir nessas análises carros da sua coleção ou que já passaram por ela. Primeiro porque gosto demais da forma como vc escreve e do seu conhecimento, e também sei que tem bom gosto para automóveis.