Há alguns anos boa fonte me garantiu o aparentemente impossível: Mercedes-Benz fabricaria picapes. E seria na Argentina. Fui conferir com empresa no Brasil e acharam sonho de noite de verão. Usei minha rede de intrigas mundo a fora. Pensavam igual, exceto o confiante Carlos Cristófalo, na Argentina.
Tive sorte de, numa véspera da Autoclasica, o melhor encontro de veículos na América Latina, ir a uma apresentação no Teatro Colón, em Buenos Aires. Mais sorte, o anfitrião era Roland Zey, então presidente da marca na Argentina. Perguntei-lhe de passagem e ele confirmou. Quando publiquei, o comentário dentro da Mercedes no Brasil foi uno: surtou.
A história começou a se desdobrar e ao final, por conta destes pouco conhecidos contratos de interesses entre empresas grandes, o desenho industrial apareceu: a Renault, aliada da Nissan, cederia espaço a ela dentro de sua fábrica em Córdoba, Argentina. Ali a nipônica construiria galpão para fazer um picape, a nova – a atual – geração do picape Frontier. Usaria a sua marca e, com poucas modificações seria vendido como Renault. A Mercedes tem acordo com a Nissan – leitores da Coluna sabem, por ter lido sobre a possibilidade do Mercedes Classe C ser montado pela Nissan na nova fábrica em Resende, RJ. E por conta disto a Nissan também faria versão personalizada como Mercedes.
A história se esclarece: a Nissan lançou o novo Frontier; constrói galpão e escritórios para tê-los operacionais em 2018. Renault deu ajeitada superficial e o expôs no Salón del Automóvil, em Buenos Aires, junho. Chama-o Alaskan.
Mercedes exibiu sua interpretação na Suécia, outubro de 2016. Era o X Concept, Conceito X. Virou Classe X, e o levou como protótipos à mostra argentina.
Ver
Mês passado recebi convite. Ir a cidadezinha, uma hora da sede da empresa em Sttugart, Alemanha, para ver o produto em versão final. Havia condição: embargo, nada conversar ou publicar até data 19 de julho. Topei.
Evento de alemães, hora certa. Éramos apenas sete jornalistas de mídia impressa e dos mercados pretendidos pela empresa: Alemanha, África do Sul, Argentina, Brasil. Fui com o Boris Feldman, mineiro, multi media. Haviam umas cem pessoas para atender a tão poucos, tipo cruzeiro de ultra luxo.
Em Münsingen, numa floresta, área de testes de veículos militares, e em tenda enfeitada, assinatura dos documentos de confidencialidade e, para inibir tentações, aposição de selo sobre a lente da câmara dos celulares.
Exposição estática e explicações dos líderes do projeto: Dr Stephan Mengel – doutor alemão tem doutorado e não apenas diploma de curso superior -, chefe da engenharia; Kai Sieber, autor do design de personalização mercediana; Christian Pohl, responsável pelo produto e marketing; colegas de comunicação das áreas de imprensa e marketing. Explicações gerais sobre produto, constituição, versões, mercados, e carro exibido: a versão final é elegantemente conformada, com trato de automóvel.
Após, em duplas representando cada país, transporte até o centro da preservada mata, onde estavam dois picapes ainda com adesivos para disfarçar linhas. Quer-me parecer, talvez o apelido pelo qual se conhece o jornalista mineiro, o Judeu a Jato, inibiu a Mercedes. Daí terem resolvido nos transformar em test-drivers-de-banco-de-passageiro … Minha avó mineira, sábia macróbia dizia, do saco a embira; e da embira, um pedaço. Ou seja, contente-se com o que você tem. Fomos nós. O piloto a quem acompanhei, um certo Timo, era do ramo. Curvas, e para mostrar estabilidade e dirigibilidade, slalon rápido – talvez efeito remanescente do Teste do Alce, associada ao primeiro Classe A, por capotar, cortar lucros e empregos -, freadas viris. Após, uso na terra, subidas, descidas para provar conteúdo eletrônico, habilidades, isolamento acústico, habitabilidade.
No misto de retas em asfalto, trechos sem pavimentação, subidas, descidas, slalon, uma amostra da possível vida dos picapes Classe X, impressionou bem, mostrou-se coerente com a proposta.
Há mais, porém por acordo, não conto. Só na Coluna 2917.
Nissan Kicks, agora nacional
Agora fabricado no Brasil, Resende, RJ, capaz de atender à demanda Nissan Kicks porta mudanças quanto ao modelo mexicano: aumentam as versões – S, simples, com câmbio mecânico; idem transmissão CVT; SV, SI, e PcD especial para taxis e pessoas com necessidades especiais, fatia de mercado na qual a Nissan quer nadar de braçada. Exceto S, todas terão a transmissão de polias variáveis, automática. Para rebater a crítica de um conduzir pasteurizado, sem emoções ou percepção da mudança de marchas, empresa provê sistema eletrônico – acelerado com fé, simula a passagem.
Tem missão. Com ele Nissan quer cumprir exigência do ex-mandão maior Carlos Ghosn, 5% do mercado nacional para a marca. Intenta ser o produto de maior venda e, sob gestão local do economista Marco Silva, encerrar a alta rotatividade de executivos e produtos, dando tranquilidade ao comprador.
Mudanças
Se você conhece o Kicks notará diferenças. Do preço, R$ 1 mil mais caro na versão de tôpo. Agride a lógica, pois a economia com a supressão da cara logística de tirar um carro da fábrica no México, cruzar o Oceano, fazer algumas paradas e chegar ao pátio do concessionário no Brasil, deveria reduzir o custo. Mudanças na suspensão recebendo calibragens e componentes tipo jogo duro para suportar irregularidades do asfalto nacional. Apesar da dedicação urbana é tratado indevidamente como SUV, sigla para utilitário esportivo, capaz de sair do asfalto e ir a endereços sem CEP. Não é SUV nem SAV, no máximo Crossover.
Outra curiosidade, Nissan diz ter aperfeiçoado o motor. Sua associada Renault o produz em configuração idêntica, 1,6, 16 válvulas, com mais potência e torque, sendo inexplicável não utilizar engenho comum – em especial o mais forte. Em consumo está na primeira faixa do Inmetro, ajudado pelo contido peso do conjunto, pouco acima de 1.100 kg. Concorrente Renegade registra 300 kg mais.
O foco de ampliar vendas passa não apenas pelo abrir o leque de versões, com preços e conteúdo menores, mas igualmente por aumentar opções de cores e de revestimentos internos, em tecido ou couro preto, marron e creme.
Há implementos como insólitos redutor das sensações e irregularidades do piso; bancos construídos em Gravidade Zero, coisa especial, dita perceptível por não cansar após uso em viagens longas. Mais palpável, câmera de ré com adicional para 360os e tela sabida, encontráveis apenas na versão de topo.
Quem e quanto
Todas as versões são equipadas com obrigatórios sistemas de ABS nos freios e duas almofadas de ar. Portam maçanetas externas cromadas, bancos em tecido. Agregação de itens de segurança e conforto eleva os números.
Versão |
R$ |
S PcD CVT |
68.940 |
S mecânico 5M |
70.500 |
S CVT |
79.200 |
SV CVT |
85.600 |
SI CVT |
94.200 |
+ Tela, aletas no teto |
2.400 |
Versões mais vendidas serão S e SV CVT. A PcD – designação Nissan para Taxis e pessoas com necessidades especiais – é incógnita. Para taxi porta malas é muito restrito. Segunda, pela inquantificação do mercado.
Neste, a briga entre os crossovers, SAVs e SUVs é a mais acesa e de maior crescimento. Calculado valor R$ x kg, Kicks é o mais caro da categoria.
Roda-a-Roda
Mais uma – Em época de previsível contração de marcas de veículos, fusões, desaparecimento, Mercedes deu personalidade própria à divisão AMG, e inglesa Aston Martin segue caminho e anuncia desdobramento.
AMR – Nome sem charme, sigla de Aston Martin Racing, terá fornada inicial com 300 unidades: 200 com motor V8 AMG e 100 com V12 Ford. Decoração superior – Aston são ditos Rolls esportivos -, e itens de seus carros de corrida.
Aqui – Mais barato, Vantage Coupé V8, 98.000 libras esterlinas, uns R$ 450 mil – lá. Dificilmente chegar algum ao Brasil, pois o representante da marca fechou o negócio por impossibilidade de sobrevivência.
Razão – Governo PT Fernando Pimentel, Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior baixou norma InovarAuto, arrasando o setor dos importados ao aplicar 30 pontos sobre o IPI. Catapultou preços, inviabilizou concorrência entre importados e nacionais. É o hoje processado Governador de Minas.
Mudança – Desastrosa barreira liquidou centenas de revendedores, alguns importadores, incontado número de empregos. Deve findar em dezembro, junto com o projeto Inovar-Auto. Crê-se, o sucessor dito 2030 não o renove.
Para pensar – Criar barreira de importação é proteger a ineficiência, a baixa produtividade, afastar-se do mercado internacional.
2a. série – Fábricas e importadoras quando precisam de apelo comercial fazem duas séries no mesmo ano, antecipam o modelo/ano, ou saltam o exercício.
Ao contrário – Mercedes no Brasil inovou, aprimorou a modelia. Por exemplo, nos Classe C montados em Iracemápolis, SP, substituiu a caixa automática de sete para nove marchas. Nada de falar em 2017/2018 ou chamá-los 2018.
Como fica – São conhecidos, a partir dos concessionários, como 2017 2a.série para identificar a progresso. No pacote, como a Coluna informou anteriormente, suprimiu a versão 200. Agora salta de 180 para 250, e arremata com 300.
Negócio – Faz promoção com revendedores para vender estoque 7 marchas: 12% de desconto e financiamento sem juros.
Parecido – BMW, sem novidades, mas para movimentar o mercado, separou 100 unidades da Série 3 e repete ação: desconto de R$ 15 mil, reduzindo preço a R$ 149.500 e financiamento de 40% em 24X sem juros.
Festa – Scania 60 anos no Brasil. Começou com escritório de representação para vender caminhões vindo em partes, montados e distribuídos pela Vemag. Em 1958, pressionada pelo governo passou a encomendar as peças para fazer motor, e de lá para cá teve história de pioneirismo com várias soluções. Das mais modernas, intercooler para o motor e transmissão automatizada.
Registro – 1o. de julho Yamaha de motocicletas comemorou 62 anos de atividade, coragem, emoção – e 501 vitórias em Grandes Prêmios. Começou com instrumentos musicais e usou sua expertise em motores leves e de elevada potencia para ajudar Ford desenvolver V6 3,0 SVO; L4 Zetec; Sigma.
Lista – BMW abriu lista de reserva a interessados no modelo G 310R: 31 cv, 313 cm3, R$ 21.900.
Pesou – Coluna deu notícia como furo em maio de 2016, e avaliava, por se tratar de produto com peças indianas, mais baratas, teria preço competitivo com Honda e Yamaha 250, em torno de R$ 15 mil. Mas discrepou, é 40% mais cara.
Será ? – Mercado dá como certa a compra da Ducati pela Harley-Davidson. Anúncio deveria ter sido feito no 1o. de julho, início do ano fiscal. Harley tem experiência: anos ’70 foi à Italia e comprou a Aermacchi, de motos pequenas.
Usados – Mopar, área de peças e acessórios da FCA, junção de Fiat e Chrysler re arrumou a compra e produção de partes para Fiats com mais de três anos de uso, quando já não mais frequentam as oficinas de concessionárias. Quer vender a oficinas externas. Chamou-as Classic Line. É o maior mercado.
Parou – Terceiro mês de crescimento de produção e vendas na indústria automobilística sinaliza fim do ciclo da irresponsabilidade peto-dilmiana. Em junho vendas no mercado interno cresceram 13,2% e produção em torno de 20% – no caso a indústria acertou com as matrizes incrementar exportações.
Varejo – Mais vendido no primeiro semestre foi Chevrolet Onix. Péssimo indicativo no mercado consumidor, pois foi reprovado no choque de impacto do LatiNCAP como extremamente inseguro. Apesar da intensa divulgação, o risco de danos e morte não sensibilizou comprador.
Quem – Cinco mais vendidos: GM Onix 83.236; Hyundai HB20 51.149; Ford Ka 44.650; Renault Sandero 38.8667; VW Gol 36.209.
Data – Demorou, mas o Club de Automóviles Clásicos, fixou datas para o Autoclasica, maior encontro de veículos antigos na América do Sul: sexta, 13, a segunda 16, outubro. Mantém-se no clube hípico de San Isidro, a 50 km de Buenos Aires. Ano passado o Best of Show foi Ferrari 250LM.
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