O Alfa Romeo que sofreu uma ruidosa explosão em seu interior

"A liberação dos gases durou cerca de 3 segundos, mas foi muito ruidosa. Pobres dos bancos forrados em couro do Alfa Romeo!"

alfa romeo 1642
Por Douglas Mendonça
Publicado em 04/11/2019 às 21h41
Atualizado em 05/11/2019 às 15h40

Há fatos que ocorrem em poucos segundos, mas são capazes de marcar toda a nossa vida. Clarissa de Souza que o diga! Moça do interior paulista, apesar da vida simples e humilde, desde os tempos de escola já demonstrava que não veio ao mundo a passeio: estava sempre entre as primeiras da classe e seu desempenho estudantil arrancava elogios de todos os professores que tiveram a oportunidade de ensiná-la.

Além disso, Clarissa era uma mulher bonita e atraente: com seus 1,75 metro de altura, cabelos lisos, compridos e negros, tinha tudo no lugar certo e nas proporções corretas. Um mulherão, como diziam os homens. Em 1991, época em que ocorreram os fatos que relato, a moça estava com 25 anos.

O outro protagonista desse “causo” foi Jorge Augusto Almeida Lima, um proeminente advogado de 30 anos, filho único do maior advogado de toda aquela região interiorana, o Dr Almeida Lima. O sucesso do filho como advogado impressionava tanto ao pai e aos juízes da região, que quando completou seus 30 anos, o pai colocou o filho em seu respeitado escritório de direito: o escritório passou a ser chamado de Almeida Lima e filho associados.

Nessa época, em 1991, o então presidente Collor havia aberto o mercado automotivo brasileiro e o Dr Almeida Lima aproveitou a ocasião para presentear o filho com um belíssimo e importado Alfa Romeo 164 1991 azul-marinho, novinho em folha. Em toda aquela região do interior paulista só se falava nisso: Jorge Augusto, sócio do pai no mais famoso escritório da região e desfilando em um Alfa que era o único daquelas bandas.

Na sociedade do interior paulista

Jorge Augusto era o mimo e orgulho de sua mãe, dona Regina Castro Almeida Lima e, juntamente com o marido, eram figuras importantíssimas de toda a sociedade do interior paulista. A casa do casal bem-sucedido era, certamente, a mais bonita de toda aquela região. Alguns a chamavam de mansão dos Almeida Lima.

E, é claro, dona Regina achava que nenhuma mulher estava à altura do brilho de seu cintilante filho. Apesar dos inúmeros namoros que Jorge Augusto teve, dona Regina não aprovou nenhum e, muito pelo contrário, pressionava o pobre filho para que largasse a candidata, pois ela sempre encontrava uma lista de defeitos na infeliz. Jogo duro!

Mas, como tinha que ser, em um encontro na casa de amigos comuns, Jorge Augusto conheceu Clarissa e, pelo que sei, foi amor à primeira vista. Tiveram um namoro por cerca de 3 meses e descobriram que o futuro de ambos estava na união. Jorge Augusto comunicou a família e, apressadamente, marcou um jantar para que, finalmente, Clarissa conhecesse seus pais.

Estava tudo combinado: ele passaria na casa dela e ela, depois de pedir a permissão dos pais, dormiria na mansão, em um quarto de hóspede, depois do jantar de aproximação com a família. Na noite marcada, Jorge Augusto foi buscar Clarissa.

Explosão a bordo do Alfa Romeo

Mas uma particularidade da Clarissa vou revelar a vocês: quando ficava muito ansiosa, nossa candidata a Cinderela tinha fortes cólicas intestinais, que produziam gases ruidosos e que, pelo menos, não eram malcheirosos. E a situação tinha todos os ingredientes para isso acontecer. Ela moravam em uma rua mal iluminada, em uma casinha simples, onde que dividia o quarto com um casal de irmãos.

Ela estava parada defronte ao portão, com aqueles gases criados pela ansiedade causando fortes cólicas, quando surge na rua o pomposo e brilhante Alfa Romeo azul-marinho. Pronto, não dava tempo de liberar aqueles demônios que lhe causavam tantos desconfortos. Ela aguentou firme!

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Jorge Augusto parou o carro e, como sempre, gentilmente desceu para acolhê-la. Ele pegou a pequena valise onde Clarissa levava coisas de uso pessoal (roupas para dormir e para usar no dia seguinte), abriu a porta do carro para que ela entrasse e se dirigiu ao porta-malas para guardar os objetos pessoais dela. Quando ele fechou a porta do carro, era o momento exato para Clarissa se livrar dos malfeitores gases que a incomodavam!

A liberação dos gases durou cerca de 3 segundos, mas foi muito ruidosa. Pobres dos bancos forrados em couro do Alfa Romeo! Jorge Augusto fechou o porta-malas e foi para a porta esquerda do motorista. Quando abriu, foi logo dizendo: “ Me perdoe a grosseria, minha querida, esqueci de te apresentar os meus pais que estão no banco traseiro!”

Nossa candidata a Cinderela virou repentinamente para trás e lá estavam, ambos com um sorriso amarelo, o Dr Almeida Lima e sua esposa Dona Regina. Claro que Dona Regina não perdeu a oportunidade: “Está se sentindo bem, querida?” Mas Clarissa não perdeu o rebolado, dizendo que estava tudo bem e já mudando o rumo da prosa. Como mulher bem-articulada, iniciou uma conversa para que aquele clima desaparecesse.

“Causo” virou piada

O jantar foi uma maravilha e tudo aquilo que havia sido planejado aconteceu a contento. Exceção feita àqueles fatídicos 3 segundos. Jorge Augusto e Clarissa se casaram, tiveram um casal de filhos e ela, como tinha que ser, foi morar na mansão dos Almeida Lima. Mas Dona Regina, com o passar do tempo, sempre pegava no pé de Clarissa devido àquele episódio infeliz.

E Clarissa também caminhou muito profissionalmente: transformou-se, depois de muito estudo, na doutora Clarissa de Souza Almeida Lima, autora de vários livros de psicologia e convidada para muitas convenções de especialistas na área por todo o mundo. Sua especialidade? Claro que tudo que dizia a respeito da ansiedade e como tratar os infortúnios de seus sintomas. Claro que estudou muito e aplicou nela mesmo, tudo que havia aprendido sobre o assunto.

Dona Regina? Aproveitava as festas que reuniam toda a família, normalmente Natal e Ano Novo, para sempre relembrar aqueles 3 segundos infelizes de Clarissa. Colocou-lhe até um apelido para cutucar: Clarissa Pum. Nesses encontros familiares, sempre que alguém bebia demais, vinha à tona a tal história famigerada, e a doutora Clarissa pagava por aqueles 3 segundos infelizes. O “causo” se espalhou tanto que virou até piada.

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