Prisão de Carlos Ghosn pode ter sido conspiração, dizem especialistas
Economistas franceses afirmam que "espetáculo" pode uma estratégia para afastar o executivo do comando da Aliança Renault-Nissan
Economistas franceses afirmam que "espetáculo" pode uma estratégia para afastar o executivo do comando da Aliança Renault-Nissan
O executivo Carlos Ghosn, presidente da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, teve prisão prolongada para dez dias nessa quarta-feira (21), em Tóquio. Nesta quinta (22), a Nissan aprovou sua demissão. Especialistas franceses afirmam que processo pode ter sido uma armadilha da fabricante japonesa para enfraquecer a aliança Renault-Nissan.
De acordo com as autoridades japonesas, Ghosn conspirou contra a Nissan deixando de declarar a metade de sua renda por quatro anos. Economistas da escola europeia ESCP apontam o “espetáculo” construído durante a prisão do executivo por fraude fiscal como uma estratégia para tirá-lo do poder. A motivação seria o controle da Renault Nissan.
A parceria entre as fabricantes aconteceu em 1999, quando a Nissan estava à beira da falência e a Renault venceu a disputa por parte de suas operações por ter o Estado francês como acionista. À época, Carlos Ghosn promoveu uma revolução gerencial e fez com que a empresa voltasse a dar lucros em três anos.
Depois de uma década de aliança sem fusão, ou seja, que as duas empresas eram independentes uma da outra, a aliança cresceu. Em outubro de 2016, a Nissan anunciou a aquisição de 34% do seu concorrente japonês Mitsubishi Motors. Juntas, em 2017, as três montadoras se tornam a maior fabricante de automóveis do mundo, com mais de 10,5 milhões de veículos vendidos apenas no ano passado.
De acordo com a Folha de São Paulo, foi nesse momento que o equilíbrio de poder se inverteu. O jornal Libération lembra que no momento da aliança, em 1999, a Renault era lucrativa. Quase 20 anos depois, a Nissan fatura 100 bilhões e pesa quase o dobro da Renault (58 bilhões).
Segundo o professor de estratégia da escola ESCP Europe, Frédéric Fréry, depois de os japoneses passarem vários anos de cabeça baixa, a tensão com os franceses aumentou. Isso em razão da ampliação da participação do Estado francês como acionária na Renault.
Ghosn era o elo entre as duas fabricantes e mais do que isso, continuou representando um estrangeiro para os japoneses. Um estrangeiro que mantinha o poder da aliança nas mãos dos franceses.
“Existe uma dimensão política poderosa e violenta em Ghosn: ele eliminou sistematicamente seus números 2, inclusive do lado japonês. Ele sempre deu um jeito de fazer com que não existissem sucessores possíveis”, assinala o economista da ESCP.
Ainda de acordo com reportagem da Folha, a ameaça de integração da Nissan teria motivado o motim japonês, que também se incomodava com a troca de recompensas entre a Renault e Carlos Ghosn.
O executivo estaria trabalhando para tornar “irreversíveis” os laços entre as duas montadoras, de acordo com uma nota de Kentaro Harada, analista da SMBC Nikko Securities.
Para o pesquisador Sébastien Lechevalier, entrevistado pela Rádio Internacional da França, o caso também tem “ares de um acerto de contas”.
“Ghosn foi muito bem-sucedido em tudo o que fez na Nissan, mas, mesmo se o acordo com a Renault é oficialmente uma aliança, existe uma forte relação hierárquica entre as duas empresas, que está invertida porque a Renault domina enquanto a Nissan é muito mais importante”, explica o especialista da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS) de Paris, estudioso do capitalismo japonês.
Nobutaka Kazama, professor da Universidade Meiji, em Tóquio, disse em entrevista que a divulgação de elementos relacionados aos ganhos de Ghosn “poderia ter sido planejada na esperança de rejeitar uma integração por iniciativa da Renault”.
Por enquanto, a Renault não substitui o executivo. Outras autoridades francesas sinalizaram apoio a Ghosn, Stéphane Richard, CEO da Orange, condenou o linchamento público do presidente da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi.
O ex-ministro da Economia ThierryBreton também se referiu a Ghosn como um “grande empreendedor” e disse ter ficado surpreso com a”extrema violência” de sua prisão.
O processo ainda não chegou ao fim. Para garantir que as relações entre as fabricantes não fique muito abalada, o ministro da Economia e Finanças, Bruno Le Maire, vai se reunir com o ministro japonês das Finanças, Hiroshige Seko, nesta quinta-feira (22), para tratar do futuro da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi.
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Pouco antes de ser preso, Ghosn apresentou ao CEO da Nissan o plano de fortalecimento da aliança Nissan-Renault-Mitsubishi. O CEO disse para esperar mais um pouco. Por coincidência ele foi preso! Há algo de muito estranho…
No Japão imposto de renda é coisa séria… dá cadeia.
Existe sim um claro desconforto entre o pensamento hegemônico japonês e o brilhante processo de expansão econômica francês frente aos japonês da Nissan, que sonham um futuro próspero como o das irmãs Honda e Toyota,
Entretanto os japoneses parecem simplesmente esquecer de quem os salvou da bancarrota
Joguei ele por ser brasileiro mas vejo que tudo faz sentido o cara é inocente.