Projetinho do Gol quadrado pode ser uma armadilha para o bolso
Apesar de adorado pelo brasileiro, primeira geração do Gol está longe de ser um projeto de restauração barato e viável para uso cotidiano
Apesar de adorado pelo brasileiro, primeira geração do Gol está longe de ser um projeto de restauração barato e viável para uso cotidiano
Quem acompanha o mercado de carros usados sabe que a primeira geração do Volkswagen Gol (o quadrado) está valorizada na praça. A carroceria original do compacto alemão ficou em linha por 16 anos, entre 1980 e 1996. É um carro que tem grande apelo emocional, assim como o Fusca. Um carro que fez parte de muitas famílias e nutre memórias afetivas. E todo esse carinho elevou o sarrafo do caixotinho.
VEJA TAMBÉM:
Os preços geralmente partem de R$ 10 mil, mas podem atingir cifras estratosféricas em versões como GT, GTS e GTI. A média – para as versões comuns – varia entre R$ 15 mil e R$ 30 mil. Isso porque o Gol entrou na seara dos carros colecionáveis. Todo carro de ano 1993 para baixo já pode solicitar placa preta, pois já tem 30 anos de fabricação. Tudo isso fez com que o Gol disparasse no mercado.
Um GTI, ano 1989, em perfeito estado de conservação, pode custar mais de R$ 150 mil. Daí, muita gente tem apostado em restaurar um Golzinho, nos chamados projetinhos.
Mas vale a pena comprar um Gol “quadrado” para restaurar? A resposta é: depende. São vários fatores, como versão e motorização, estado de conservação da estrutura e condições da parte mecânica que podem influenciar demais no preço.
O Gol “quadrado” foi oferecido em diversas versões e com motores 1.3 e 1.6 (refrigerados a ar), assim como as unidades 1.6, 1.8 e 2.0 de refrigeração líquida. Assim, algumas peças são mais difíceis de garimpar. Itens de acabamento, como grades, para-choques, retrovisores, frisos, faróis, lanternas, faróis auxiliares que já começaram a ficar escassos, principalmente se a peça for original.
Um farol original retangular, utilizado nas linhas 1988 a 1992, pode custar mais de R$ 300. Um para-choque (também original) gira em torno de R$ 2.500. Já os bancos Recaro, não saem por menos de R$ 4.000.
Um emblema plástico do Gol GTS pode sair por até R$ 500. Já as rodas “Pingo D’água” custam entre R$ 3.000 e R$ 3.500, o jogo. Quando se fala das versões mundanas, como CL, GL e 1000, os itens de acabamento são mais baratos, mas não são de graça.
Ou seja, mesmo que se compre um “caixote” com preço atrativo, colocá-lo em estado de novo custará uma fortuna. Pintura, mecânica, funilaria, peças originais podem superar a soma dos R$ 50 mil. Tudo isso, considerando que o carro tenha boa estrutura e não tenha sido “salvado” num esticador.
E ao final de todo esse esforço, ele ainda manterá algumas deficiências e limitações de um projeto antigo. Confira cinco delas.
A primeira geração do Gol sofre com problemas de trincas no cofre do motor. Geralmente aparecem na parede corta-fogo, que faz divisa com o habitáculo. O “Quadrado” também sofre com trincas no túnel central. Essas fissuras podem resultar na entrada no interior e potencializa pontos de ferrugem.
Já que estamos falando de ferrugem, a primeira geração do Gol foi projetada nos anos 1970 e a Volkswagen utilizou o Passat como base. Até o final dos anos 1990, os processos de tratamento contra corrosão e construção eram bem menos sofisticados que os da indústria atual.
Assim, o Gol sofre com pontos de ferrugem devido a qualidade de pintura oferecida na época, além de folgas de encaixe que potencializam o acúmulo de água que acelera a oxidação.
Assim, é bastante comum encontrar um Gol aparentemente bonitinho, mas que está igual ao carro dos Flintstones por baixo.
Se a carroceria do Gol é quase cinquentenária, seu motor também não é nada novo. O AP (EA827) foi desenvolvido pela Audi e entrou em linha no ano de 1972. No Brasil estreou no Passat e depois passou a equipar os demais modelos da gama.
Trata-se de um motor aclamado por sua durabilidade e manutenção barata. No entanto, é um motor que frequentemente tem problemas de superaquecimento.
O defeito se deve ao entupimento das mangueiras. É necessário verificar frequentemente as mangueiras do reservatório de expansão, assim como as borrachas que conectam o radiador ao bloco.
A primeira e segunda gerações do Gol (as que foram oferecidas com motor longitudinal) sempre tiveram volante e pedais desalinhados. O motivo é justamente a montagem do motor, que “empurrava” a barra de direção para o lado.
Para piorar, também não há sintonia com o banco, que é afastado para a esquerda devido ao túnel central. O motorista dirige com a perna direita esfregando na parede da transmissão, que irradia muito calor. Não chega a ser o fim do mundo, mas compromete o conforto e a ergonomia.
Quem busca um Gol quadrado para ser seu carro de uso diário, deve ficar ciente de que a suspensão do veterano é dura. Ela garante boa estabilidade, mas é um verdadeiro porrete.
Num rolê de final de semana é pura curtição. Mas no batidão cotidiano, não há amor pelo Caixote que resista.
Então, se o amigo estiver pensando em gastar o montante de um carro popular zero, num “projetinho” do Gol caixote, pense bem. Afinal você irá gastar muito e corre o risco de não ter um carro de uso diário. Ou seja, uma brincadeira para quem está com dinheiro sobrando e não depende do Gol quadrado no dia a dia.
👍 Curtiu? Apoie nosso trabalho seguindo nossas redes sociais e tenha acesso a conteúdos exclusivos. Não esqueça de comentar e compartilhar.
TikTok | YouTube | X |
Ah, e se você é fã dos áudios do Boris, acompanhe o AutoPapo no YouTube Podcasts:
Podcast - Ouviu na Rádio | AutoPapo Podcast |