Salão de Detroit: destaques da “Capital Mundial do Automóvel”
Evento tem expressão mundial – sedia apresentações e lançamentos para o mercado de todo o planeta - mas é direcionado aos compradores dos EUA e Canadá
Evento tem expressão mundial – sedia apresentações e lançamentos para o mercado de todo o planeta - mas é direcionado aos compradores dos EUA e Canadá
O Salão de Detroit (NAIAS, o North American International Auto Show) não é apenas mais uma das mostras pontuais com realização periódica para mostrar lançamentos de automóveis. Difere do usual: é personalístico por ocasião, forma e conteúdo. Começa pelo fato de não ser realizado por empresa de eventos, mas união de concessionários de veículos operando em Detroit, sempre referenciada como a “Capital do Automóvel” por basear quantidade de atividades industriais. A particularização continua pela ocasião, ao início de janeiro, ao lado do Rio Windsor, que separa Estados Unidos e Canadá, em período de pouco turísticos gelo e neve. Neste ano temperaturas andaram mais baixas, exigindo espessa roupa invernal. Como manifestação celeste – e para tornar perigoso o trânsito em vias congeladas e de pouca aderência e muitos acidentes – ainda houve a queda de um asteroide.
O Salão de Detroit tem expressão mundial – sedia apresentações e lançamentos para o mercado de todo o planeta – mas é direcionado aos compradores dos Estados Unidos e Canadá. Para entender: você sabe qual é o carro mais vendido nos EUA? Não, não é um sedã (como no restante do mundo), mas uma picape: no caso, a Ford F-150. E os concorrentes não ficam para trás. A General Motors tem a Silverado, segundo mais vendido, e a FCA, com a marca Dodge, a Ram 1500; terceiro na grade. Há picapes Honda e Toyota, mas não se alinham com a volumetria cúbica das marcas nativas.
Não se sabe se os compradores forçaram à dedicação em picapes, ou se o mercado escolheu o caminho. Afinal, o lucro unitário deste segmento em muito supera o de automóveis e utilitários esportivos. E este é o indutor capitalista.
A Ranger chama atenções por voltar à produção no país de origem após ausência de oito anos. Estilo melhor, mais leve, menos macho man. Construtivamente apresenta o caminho tradicional do amplo emprego de chapa de aço para moldar cabine e carroceria – ao contrário da líder F-150. Interior cuidado em infotenimento e equipamentos de automóveis.
A Ford garante que é exclusiva para os Estados Unidos. No entanto, a construção é simplória (vamos combinar, fazer picape é coisa primária). Permite ser repetida na Argentina, base sul-americana para fazer picapes. A Ranger vendida no Brasil comemorará, em 2018, 20 anos de operação regional.
O Grupo Fiat Chrysler tem sensíveis lucros com operação nestes veículos, os mais vendidos e lucrativos entre os produtos de alta produção na marca (Maserati e Ferrari não contam). Picape é o rótulo, a cara do mercado norte-americano, e a previsão de vendas neste exercício é de recordistas 500 mil unidades. Outra surpresa projetada para o exercício será a ultrapassagem da Silverado pela Ram.
Para passar a picape da GM deve vender mais de 85.000 unidades por ano. A nova Ram tem 22 cm a mais de comprimento que o modelo anterior, sendo 10 cm na cabine para maior conforto. Conta também com inclinação do encosto do banco traseiro e adições no quesito infotenimento. O chassi emprega 98% de aço de elevada resistência; motores V6, 3.6 litros e V8 5.7 litros, 15/85 e L-4 3.0 litros a diesel. A transmissão é automática de oito velocidades. Capacidade de reboque em 5,7 toneladas.
A FCA passou por processo depurativo nos Estados Unidos. Cortou sedãs medíocres, concentrou a pouca verba restante dos grandes gastos nos Alfa Romeo Giulia e Stelvio para melhorar a operação Ram, com vendas imediatas – três meses antes da chegada da GM Silverado. Se Max Manley, à frente da Ram, autor de sua ascensão no mercado, conseguir a façanha, terá garantido sua senha para promoção na grande mudança de cargos e postos na FCA daqui a dois anos, quando o polêmico Sergio Marchionne, atual CEO, deixará o cargo.
Mostras como o Salão de Detroit exibem a ausência de um trabalho acadêmico sobre a evolução (ou involução) da humanidade, que anseia por veículos cada vez maiores, mais pesados pela expansão do uso de maior quantidade de materiais, condenáveis ecologicamente pela crescente utilização de materiais com extração e processos nem sempre adequados ao meio ambiente e portadores em suas vastas caçambas e espaços, da incômoda dúvida: por que são planejados para oferecer capacidade de carga e trabalho muito superiores à necessidade e ao uso?
Quem, dos visitantes sul-americanos ou europeus, esperava encontrar uma nova VW Amarok, decepcionou-se. Veículo já superou o ciclo de vida como produto, mas não foi revisto. Além das picapes das três maiores participantes no mercado, houve apresentação de utilitários esportivos, como a nova geração do VW Tiguan, agora para sete passageiros – crescendo em tamanho e preço. A Volkswagen terá, bom lembrar, um SUV/SAV em cada segmento.
Utilitários esportivos e crossovers representaram 10% de crescimento na Mercedes, cuja picape Classe X começa a ser vendida na Espanha e, no final de 2019, na América Latina. Tais veículos dominaram o estande da marca, ante realidade do crescimento ter permitido superar a rival BMW no segmento de SUVs. A demanda pelos modelos GLA e GLC a transformou na maior fabricante de carros premium pelo segundo ano consecutivo. Vendeu 620 mil unidades, o equivalente a um quarto das vendas da marca. A Mercedes prepara novos concorrentes com tal formato. Surpresa foi novo Classe G. Bem dotado e com preço superior, apesar da Mercedes afirmar ter prejuízo com a operação de pequenos números, mudou-o completamente, iniciando novo ciclo.
No caminho de implementar opções em picapes, com a Ranger, a Ford também incrementou o Edge. Tomou inspiração nas versões M BMW e AMG Mercedes, preparando-o para melhor performance, incluindo desenvolvimento da transmissão automática de oito velocidades e motor V6, 2.7 litros, duplo turbo, que gera 340 cv de potência.
De automóveis apresentados no Salão de Detroit, o Volkswagen Jetta chegará ao Brasil, produzido no México. Utiliza a racional plataforma MQB, flexível em dimensões. Aqui baseia o Golf, o Polo e o Virtus, de apresentação próxima. Cresceu, tem dimensões assemelhadas ao Passat e missão importante: fazer esquecer os problemas com as emissões ilegais dos motores a diesel. Na esteira de sedimentar-se como maior produtor mundial de veículos, a VW investirá solidamente no grande mercado norte-americano: US$ 3,3 bi até 2020.
Na prática, quantos entre os modelos lançados no Salão de Detroit virão para o Brasil?
Poucos. Por fatores diversos. A começar pela falta de interesse das marcas produtoras – por exemplo, GM e Ford importam restritos modelos e a importação por agências particulares nem sempre entusiasma o interessado. Dos produtos com tecnologia híbrida algumas unidades poderão ser trazidas, mas apenas como representantes folclóricos. E a legislação regulatória da indústria automobilística brasileira, de vigor encerrado recentemente, reduziu o mercado para os importados. Além disso, por complicações internas, a nova regra ainda não foi baixada, intranquilizando mercado e importadores.
Híbridos ou elétricos, exceto pelo Toyota Prius (com operação bem estruturada de importação), vendas e assistência – e pedidos ao Governo Federal para impostos favoráveis à produção local – deverão ser coisa de referência institucional, nada sólida ou densa. Afinal, para uma operação com frota elétrica, falta-nos o insumo básico: a disponibilidade de energia elétrica. O automóvel é visto no desorganizado Brasil, sob o aspecto tributário, como bem supérfluo, daí a tributação nos portos e nas ruas, reduzindo suas vendas.
Gente – Mariana Romero, analista, novo rumo. OOOO Porsche Brasil procura outro profissional para exercitar assessoria de imprensa. OOOO Dan Gurney, 87, piloto, passou. OOOO Retrato do corredor californiano dos anos 1950, dirigiu e ganhou em quase todas as categorias, de Fórmula 1 a 24 Horas de Le Mans. OOOO Criou o gesto de aspergir champanhe do pódio. OOOO
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