O SUV foi criado para dar lucro para as montadoras (e você quer um mesmo assim?)
Fabricantes investem pesado em marketing para te fazer acreditar que você precisa de um utilitário, mas quem sai ganhando são elas
Fabricantes investem pesado em marketing para te fazer acreditar que você precisa de um utilitário, mas quem sai ganhando são elas
Os SUVs dominaram o mercado! Por quê? Todo mundo acordou um dia querendo um carro ‘grandão’, com apelo aventureiro, e visual robusto? Claro que não! As montadoras querem que você compre SUV!
“Lá vem mais um chato com teorias das conspiração”.
Pois deixe eu te apresentar fatos. O crescimento dos SUVs começou nos Estados Unidos em meados dos anos 1990 quando as famílias “baby boomers” precisavam de carros maiores, pois estavam crescendo. Nesta época, estavam em alta modelos como Jeep Grand Cherokee e Ford Explorer, veículos grandes e pouco eficientes em relação ao consumo de combustível.
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Hoje, os SUVs e picapes representam mais de 70% do mercado norte-americano. Mas essa história toda começou em 1975, quando o congresso norte-americano aprovou uma lei que exigia um incremento na eficiência energética dos automóveis vendidos nos EUA. Em 1985, ou seja, em um prazo de 10 anos, as fabricantes deveriam oferecer carros que tivessem a média de consumo de 11,5 km/l.
Mas lobistas entraram em ação e cavaram uma pequena brecha: enquanto o consumo dos carros seria estabelecido por lei no congresso, o dos utilitários seria por meio de agência reguladora, o Departamento de Transportes. Pela lógica das montadoras, legislação é difícil mudar, enquanto regulmentação é mais fácil “afrouxar” depois.
Que tal?! E não estamos falando de Brasil!
O segundo passo foi definir, junto ao departamento, o que seriam utilitários. Simples! Seriam veículos capazes de operar no fora-de-estrada. Ou seja: uma altura livre do solo razoável e tração 4×4. Além disos, qualquer veículo com peso bruto acima de 2,7 toneladas, automaticamente estaria excluído da regra de consumo.
O que as montadoras fizeram? Claro que fizeram veículos que ficasse nas exceções, afinal, isso era mais fácil do que desenvolver novos modelos e motores mais eficientes. E, consequentemente, o número de SUVs e picapes “despejados” na rua cresceu de forma exponencial. Fazer carros pequenos era caro, e os utilitários garantiam gordas margens de lucros para as fabricantes.
Segundo Michael Thomas, fundador do Distilled, boletim informativo sobre mudanças climáticas, que fez este levantamento que compartilho aqui com vocês, afirma que um Ford Expedition, na década de 1990, dava um lucro de US$ 12 mil por unidade fabricada.
Quando viram a mina de ouro que tinham em mãos, as grandes montadoras fizeram o “deve de casa”: investiram bilhões de dólares em propaganda, prometendo liberdade e aventura, caso você possuísse um SUV. A publicidade deste tipo de veículo cresceu de US$ 172,5 milhões em 1990 para US$ 1,51 bilhão em 2000.
E onde tudo isso se encaixa em nossa realidade? Aqui é ainda mais fácil “empurrar” SUVs goela abaixo do consumidor. Nem é necessário que ele tenha uma altura efetivamente maior do solo ou tração 4×4. Basta ter o visual!
“Ai, mas ruas e estradas brasileiras exigem carros mais altos”! Qual desses SUVs compactos têm, de fato, uma altura maior do solo? Muitos nem são classificados como utilitários pelas normas do Inmetro! Esse papinho não cola…
O propósito desse tipo de veículo aqui não foi burlar nenhum regulamento de emissões de combustível, mas, claro, dar lucro para os seus fabricantes. Por um custo quase igual ao de um hach ou sedã, eles são vendidos por um valor mais alto, ou seja, por uma margem maior de lucro.
O colega Leonardo Felix, editor do portal Mobiauto e colunista do AutoPapo, já escreveu sobre isso com muita propriedade ao explicar porque a Stellantis prefere vender Fiat Fastback ao invés do Jeep Renegade. A palavra-chave é rentabilidade. Outra marca que deve virar essa chave é a Renault, após anos vendendo carros de entrada por aqui.
Então, entusiastas, lembrem-se que os seus carros prediletos estão sumindo do mercado porque não são lucrativos para os fabricantes. Estão errados, não? Mas reflita sobre o poder do marketing sobre a suas escolhas. Que tipo de carro você realmente precisa?
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Trabalho com carros em mercados importadores na América do Sul e realmente carro argentino e brasileiro já estão ficando com fama de mal feito e realmente a lista de problemas q
Sedan e Hatch. Perua talvez. SUV fale eu passo…
Prefiro sedan grande para viagem e Hatch pequeno para uso urbano. Tenho os 2 e não pretendo entrar nesta de SUV fale, vulgo crossover
Que tipo de carro você realmente precisa?
Carro com altura mínima do solo de 200 mm porque as ruas e estradas brasileiras têm muitos buracos, crateras, quebra-molas irregulares, ladeiras muito inclinadas, pistas não asfaltadas. Fica difícil dirigir com um vão livre menor.
Muito boa matéria!
Na realidade os sedans e hatches dão lucro sim. Mas o apelativo marketing-SUV garantiu uma mina-de-ouro pras montadora aqui no Brasil, com lucros-moleza que as deixou mal acostumadas e extremamente arrogantes
Enquanto nós EUA os SUVs são de verdade, com custos-SUV de produção, no Brasil a coisa descambou pra piada pervertida e de mau gosto.
Aqui as montadoras passaram a fabricar crossovers compactos sobre plataforma de hatches/sedans (a custos de hatches/sedans), e a vende-los como “suvs”(a preços de SUVs), e pior, com a anuência da legislação brasileira – modificada numa daquelas estranhas coincidências, promovendo tecnicamente a “SUV” até modelos do porte do Fiat Uno.
Mas como aqui no Brasil, e só aqui, temos muitos consumidores que se sujeitem a tal ultraje, só pra mostrar que “pode”, a farra correu solta. Só que agora esses mesmos consumidores estão sufocados em dívidas, sabe-se lá por quanto tempo – pra tristeza das montadoras, que recusam-se a cair na real.
Algumas perguntas que não querem calar: quais motoristas realmente precisam de carros com tração 4×4? Quais precisam de 7 lugares? Quais precisam do torque de um motor a diesel se não vão rebocar nada?