O mistério da trilha de papel higiênico que levava ao motorista fujão
"No desespero de sair de lá, pois a situação estava insustentável, Lisandro conseguiu pegar apenas a ponta do papel, que começou a desenrolar"
"No desespero de sair de lá, pois a situação estava insustentável, Lisandro conseguiu pegar apenas a ponta do papel, que começou a desenrolar"
Esse misterioso “causo” ocorreu em meados dos anos 70, talvez até início dos anos 80, não sei precisar com exatidão. A história aconteceu quando a empresa sueca Volvo resolveu implantar sua fábrica de caminhões aqui no Brasil.
Com uma inauguração pomposa e grandiosa a nova fábrica de caminhões, começou a funcionar em Curitiba, no Paraná, em dezembro de 1980. O evento contou até mesmo com a presença do ex-presidente da república João Figueiredo. As modernas instalações fabris iniciariam a produção do caminhão N10, feito para concorrer com os pesados da Mercedes e da Scania. Mas claro que os suecos chegaram aqui bem antes para escolher o melhor local da fábrica e acompanhar a construção da planta.
Nesse meio do caminho, acabou entrando na história meu amigo, que não vejo há décadas. Lisandro é um paranaense muito simpático e sorridente, e que dirigia, com competência, tanto um caminhão com carreta quanto um elegante carro de luxo. Lisandro foi um dos primeiros funcionários escolhidos pela Volvo, antes mesmo de a fábrica existir e ainda em fase de instalação no país.
Graças a sua competência e simpatia, foi logo selecionado para ser o motorista pessoal do sueco escolhido para presidir a futura fábrica. Dirigindo na época um Ford Galaxie 500, levava o importante sueco para todas as suas reuniões, além de atender as necessidades da esposa e dos dois filhos do dirigente.
Lisandro era pau para toda obra, pois conhecia a cidade de Curitiba como a palma de sua mão e, dessa forma, auxiliava o executivo e sua esposa em todas as dificuldades normais que alguém encontra em uma cidade desconhecida de um novo país para eles. O cara era tão simpático e bem-afeiçoado, que as primeiras publicidades do novo caminhão Volvo em 1980/1981, tinham como garoto propaganda Lisandro e seu simpático sorriso na boleia de um Volvo N10.
Lisandro atendia as necessidades da família sueca praticamente em todos os dias da semana e, apenas poucas vezes, era substituído por um motorista reserva. Mas, seu trabalho era tão impecável, que o presidente sueco fazia questão de tê-lo na direção do Galaxie, principalmente quando viajava com a família nos fins de semana.
Em um desses fins de semana, Lisandro foi levar a tal família de gringos suecos para o litoral paranaense, mais especificamente para Caiobá, a cerca de 100 km de Curitiba. Depois de um fim de semana em que os suecos se esbaldaram nas belíssimas praias da cidade, chegou a hora do retorno para Curitiba no final da tarde de domingo.
Todos, e suas bagagens, confortavelmente instalados nas generosas dimensões do Galaxie, tomaram o rumo de volta para casa. O presidente, sua esposa e os dois filhos no generoso banco traseiro e Lisandro naquele enorme banco dianteiro inteiriço que mais parecia um sofá.
Um pequeno mas enorme detalhe que não poderia passar despercebido: Lisandro comeu antes da saída, uma barra de chocolate, daquelas de fazer inveja para quem faz regime e, claro, que essa audácia do simpático motorista não passaria em brancas nuvens pelo seu sensível intestino.
Ainda no início da viagem, Lisandro começou a sentir aquelas desagradáveis cólicas que vão se transformando em verdadeiras fisgadas de um pássaro maldoso. Ele aguentou o quanto pode, fazendo cara de paisagem para dar a impressão que tudo ia muito bem.
Quando nosso intrépido motorista percebeu que a situação fugia do controle, Lisandro, sem aviso prévio, pisou violentamente no freio e jogou o carro para o acostamento. Seus passageiros acostumados com a sua calma e condução suave, tomaram um tremendo susto com aquela atitude.
Sem falar nenhuma palavra e já suando frio nas têmporas, Lisandro atravessou todo aquele sofá dianteiro, abrindo a porta direita e num golpe ligeiro abriu o porta-luvas onde sempre levava um rolo de papel higiênico para emergências. No desespero de sair de lá, pois a situação estava insustentável, Lisandro conseguiu pegar apenas a ponta do papel, que começou a desenrolar dentro do porta-luvas com ele puxando e correndo porta afora.
Para o seu azar, Lisandro parou a beira de um ligeiro morro e, nesse ponto, a família sueca já havia entendido o que se passava e todos já estavam as gargalhadas. Nosso amigo subiu aquele morro em uma rapidez impressionante, mas essa pressa cobrou um preço alto: aquela bomba que estava para explodir dentro dele, simplesmente detonou.
Ele subia o barranco de quatro, agarrado a aquele papel higiênico que se desenrolava de dentro do porta-luvas e deixava uma trilha facílima de ser seguida. No alto desse morro, finalmente a paz! Mas o trabalho malfeito, já havia se realizado e não tinha muito o que salvar: Lisandro perdeu a cueca, que ficou lá mesmo no meio do mato e o papel higiênico pôde, aos poucos ser puxado para que se finalizasse a faxina.
O duro mesmo, foi voltar ao carro com a família ainda as gargalhadas, pedir desculpas pelo ocorrido, no que foi prontamente atendido e aguentar as brincadeiras que foram feitas até Curitiba.
Agora, quase 40 anos depois, é muito fácil darmos risadas do “causo”. Mas a verdade é a de que nosso grande amigo passou grandes apuros, em uma história, que se puxarmos pela memória vamos recordar que aconteceu com alguém próximo, algum parente ou, até quem sabe, com nós mesmos.
Coisas da vida!
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