Acidentes só acontecem com os outros…

Airbag é obrigatório; mas ninguém sabe que distância manter do volante e já morreu motorista dirigindo muito próximo dele quando a bolsa inflou

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Por Boris Feldman
Publicado em 17/12/2017 às 09h06
Atualizado em 23/10/2018 às 12h07

A concessionária da rodovia BR116, que liga São Paulo a Curitiba, divulgou estatísticas de pesquisas realizadas no trecho. Elas revelam que o motorista definitivamente não se preocupa com segurança, pois ainda flagrou 1% dos condutores sem o cinto de segurança. No banco traseiro a surpresa é menor, mas 48% de quem vai atrás acha desnecessário utilizá-lo.

Lady Di devia pensar o mesmo até morrer no banco traseiro da Mercedes que se esborrachou contra o pilar de um túnel em Paris. E também o dramaturgo Dias Gomes, que faleceu ao ser cuspido (também sentado atrás) num acidente de táxi em São Paulo. Pessoas, no entanto, ainda dizem que “não precisam [do cinto de segurança], pois estão protegidos pelo encosto do banco dianteiro”, ou pensam que “acidente só acontece com os outros”.

Chevrolet ONix leva bomba no Latin NCAP: segurança zero

A indiferença do brasileiro pela segurança veicular se manifesta também ao adquirir peças de reposição que podem colocá-lo em risco. Bom exemplo é o fluido de freio, ainda encontrado barato em postos e casas de peças, fabricado em legítimo “fundo de quintal”, sem respeito a nenhuma especificação técnica. E, numa freada de emergência, ele ferve e perde eficiência. Este, aliás, é um dos raros produtos que o Inmetro se dignou a estabelecer parâmetros para ser produzido. A rigor, o órgão certificou apenas 16 entre os milhares de componentes de um carro. E, às vezes, certifica mal: pneu remoldado entre eles. Além disso, pouco resolve a exigência do Inmetro: não existem fiscais suficientes para verificar o selo de certificação no comércio.

A prestação de serviços também pode comprometer a segurança. Bom exemplo é a recuperação das rodas de liga leve. Se submetidas a pequenas raspadas laterais ou estragos de pequena monta, é perfeitamente possível o reparo. Porém, quando se quebram e exigem solda de partes rompidas, é grande a possibilidade de fissuras internas que só se detectam com aparelhos sofisticados de ultrassom. Que custam dezenas de milhares de dólares e não existem nas oficinas, apenas nas fábricas de rodas. Apesar disso, algumas seguradoras não autorizam sua substituição e indicam seu reparo, por motivos óbvios.

O prezado leitor tem carro com airbag? Sabe qual a distância mínima o motorista deve manter do volante? E o passageiro, em relação ao painel? Ninguém sabe, pois os lobistas apenas fizeram aprovar a lei que o tornou obrigatório. Nem governo nem fabricantes se preocuparam em divulgar como funciona. E já morreu motorista dirigindo próximo demais do volante quando a bolsa inflou. Bom destacar: condutor tem que manter 25 cm de distância com relação ao volante. Passageiro, 40 cm do painel.

Aliás, por falar nisso, outra estatística inacreditável acaba de ser divulgada: no Brasil, apenas 16% dos carros convocados para o recall dos airbags produzidos pela Takata foram levados às concessionárias. Isto significa que milhões de brasileiros estão correndo o risco de se ferir ou morrer não por causa do acidente, mas pelos estilhaços de aço dos airbags arremetidos a quase 300 km por hora…

Leia também: 84% dos carros convocados para o recall dos airbags da Takata não foram reparados

O prezado a-do-ra dirigir o carro com o filho no colo? Não deveria, pois é grande o risco – mesmo em baixas velocidades – de o próprio pai esmagar a criança contra o volante no caso de um impacto frontal. Outra irresponsabilidade paterna é deixar as crianças no porta-malas do hatch, perua ou SUV: no caso de um impacto traseiro, aquela parte da carroceria foi propositalmente projetada com menor resistência, para se deformar.

Finalmente, outra estatística espantosa: dois modelos compactos brasileiros foram recentemente submetidos (pelo Latin NCAP) ao teste de impacto lateral: Chevrolet Onix e Ford Ka. Ambos tomaram bomba e contemplados com zero estrela na proteção ao adulto, por falta de resistência lateral da carroceria. As consequências no mercado? Os dois deram um salto nas vendas logo depois de anunciado que tomaram bomba nos testes…

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